JOÃO CARLOS, O JOCA

JOÃO CARLOS, O JOCA

A tarde foi morrendo aos poucos, dando lugar à negridão da noite. Ernesto havia chegado do hospital, mas em nada aparentava melhora. Os médicos na verdade liberam-no, para que morresse em casa, porque nada mais poderiam fazer. Na madrugada melhorou um pouco, conversou com a mulher e o filho, comeu algo, com muito sacrifício. Passou o dia naquele jeito. À noite começou a sororoca. A respiração foi ficando cada vez mais curta... Ao amanhecer..

Com o esposo ausente, dona Divina, a Diva como era conhecida, ficou desorientada. Como dar uma educação adequada a João Carlos, o Joca? Naquela cidade tão pequena onde viviam, não havia qualquer perspectiva de futuro. Rio Diamante, era só o nome, mas um lugar pobre.

Mudaram-se para a cidade maior. Ela começou a trabalhar como doméstica para sustentar a casa. O menino foi trabalhar como engraxate, na parte da tarde. Não gostava de estudar, mas era obrigado pela mãe. Concluiu o curso Ginasial.

João Carlos ganhou uma bolsa de estudos de um colégio particular, para fazer o Segundo Grau (Ensino Médio). O trabalho de engraxate não era mais para o menino. Sua mãe preferiu que estudasse para ser alguém na vida. Enquanto estudava, três vezes por semana treinava numa escola de futebol. Tão logo que concluiu os estudos, fez teste num clube grande, onde foi aprovado. Tornou-se nacionalmente conhecido, e até mesmo fora do Brasil. Uma carreira brilhante. Deixou de lado o interesse em fazer uma faculdade, por causa do futebol.

As más companhias sempre corrompem os bons costumes. Devido a isso, Joca começou a fazer coisas prejudiciais à si mesmo e aos outros. Envolveu-se com drogas, álcool e outros vícios. Foi decaindo cada vez mais. Chegou ao fundo do poço. Largou de jogar. Abandonou a oportunidade grande. Durante o dia quando não estava dormindo, estava assistindo televisão. Dizia que gostaria muito de sair daquele inferno, mas não tinha forças. Sua mãe pedia ajuda às pessoas, nas igrejas, mas parecia que Deus havia tapado os ouvidos...

Sempre quando alguém quer sair de uma situação como a do moço, aparece alguém, como se fosse um anjo para ajudar. Um homem chamado Hélio encontrou João Carlos dormindo debaixo de uma árvore. Todo sujo e mal cheiroso. Abaixou-se para falar com o rapaz. Disse o quanto ele era importante pra Deus e para as pessoas. Porque estaria naquela vida? Abraçou-o. Ambos choraram. Joca nunca havia sentido tanto calor humano de um desconhecido. Somente quando estava bem financeiramente, que tinha muitos amigos, mas... Sumiram... Levantou-se, e pela primeira vez pôs-se a contar sua história.

Na casa de Hélio, seu mais novo amigo, fazia de tudo para não decepcioná-lo. Ficava mais na nova residência, que na casa da mãe, a qual nunca esquecia e sempre falava nela. Depois de alguns dias, visitaram uma casa de recuperação numa cidade vizinha. Aceitou em se internar na tal casa, a partir da semana seguinte. Hélio se responsabilizaria em pagar a mensalidade, e ajudar em tudo o que fosse necessário.

De volta pra casa João Carlos planejava em como ajudar a tantos menores pra não ter uma vida como foi a dele até aquele momento. Não sabia fazer outra coisa, a não ser engraxar sapatos e jogar futebol. Decidiu que poderia fazer as duas coisas. Reuniu meninos de rua, aconselhou-os e disse o quanto eles eram importantes. Que não tinham nascido por acaso, mas houve um propósito divino na vida de cada um. Ensinou o ofício, comprou caixas e graxas e pôs os meninos para trabalhar. Nos primeiros dias, oferecia a alimentação. Assim que tivessem condições, viravam-se sozinhos. E assim puderam trabalhar com entusiasmo, estudar e ajudar seus pais nas despesas da família.

Em parceria com Hélio, Joca colocou uma escola de futebol com o intuito de ajudar meninos carentes, inclusive alguns dos que viraram engraxadores de sapatos. E assim aconteceu. Foram atrás de patrocinadores e começaram as atividades da escola. Não foi nada fácil, mas conseguiram seus objetivos.

Muitos meninos treinaram. Os de família de baixa renda, não era cobrado, desde que a criança estivesse na escola estudando. Faziam reuniões com alunos e pais, aconselhavam o quanto era importante a atenção aos filhos e ensinar o caminho direito, conforme as Escrituras Sagradas. Desenvolveram-se vários jogadores, que puderam ganhar a vida, tendo o esporte como profissão.

O futebol tem sido ao longo dos anos, o ganha-pão de muitos. Tem sido a paz e alegria de muita gente. O equilíbrio da saúde do corpo e da mente. Muitos ”Jocas” tem surgido e mudado a história de pessoas...

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Este conto foi um dos vencedores do Concurso Literário de São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Ano 2010