CAPTAÇÃO - Primeira parte.

Nem era inverno, e sim outono. Galgamos, seguindo em direção a um lugar vazio. Um lugar muito, mas muito discretamente vazio. Não havia almas formais, e sim almas espectrais. Lá, entre o vazio e o silêncio desértico tão sepulcral, a noite era infestada por espíritos vagando tardiamente, sem rumo, no mausoléu abandonado. Estávamos em busca de uma conquista dificilmente de ser alcançada. Querem saber o que é?Ok. Ouvidos ligados.
Que tal priorizar a matéria sem danificá-la? Ou seja, ao mesmo tempo sugar um espírito delirante no meio daquele tudo, do nada? Era justamente essa intenção em que fomos até lá, naquela noite ao relento, faltando exatos dois minutos para os ponteiros de meu relógio fluorescente e o sinalizador sonoro marcarem três da manhã. Bem, era uma tarefa bem árdua, complicada, e principalmente bastante ousada. Capturar seres do outro plano dimensional, ou seja, de outro mundo, ainda mais os que ainda (por algum motivo) não buscaram paz e a luz interior, se tornava algo muito além do que complicação. Seria desde então, um caminho impossibilitado. Cercado por obstáculos não comuns.
Nem mal começamos o processo de captação, quando eu e o Nicky já começávamos a ouvir ruídos bastante exóticos. Não era simplesmente um daqueles sinistros e populares chiados e sons horripilantes, onde qualquer pessoa sinta seus pêlos dos braços se arrepiarem ou o friozinho da barriga se tornando mais crescente. Não, não era. Fora algo mais selvagem, como uma mistura egocêntrica de pânico, mesclada com o cheiro da morte e sentimentos impuros, contudo, arrependidos. Uma constante onde de fúria se evoluindo absurdamente.
Nós poderíamos identificar muito bem aquilo tudo. Essa parte, sem dúvidas, era uma forma bem mais elevada, levando em conta a tarefa totalmente insana e impura. Mas por outro lado não queríamos desistir. E não desistimos. Mesmo prevendo entre os quatro cantos daquele centro obscuro cenas macabras, a gente não se redimiu. Aqueles espíritos mal podiam imaginar viver seu outro lado da vida – depois da morte - presos e encarcerados feito bichos dentro de um tubo compressor durante séculos e séculos, até as últimas conseqüências Eles mal podiam esperar, um fato extremante glorioso, audacioso, e completo.
Sem querer, enquanto pisávamos por entre aquele caminho de paralelepípedos, previmos mais uma vez a chegada hora. A típica rajada de vento congelante. Nicky me disse que era melhor a gente seguir até uma cobertura aonde os ventos não chegassem, mas eu não quis. Não fomos porque ele foi sempre um covarde quando os fenômenos começavam a se iniciar, embora fosse mortal, caso não entrarmos em ação em apenas três minutos. Sempre foi assim, antes de entender que tudo apenas se passava de uma estratégia para nós fugirmos do espaço onde viviam. Enfrentamos desde o momento dos ataques sobrenaturais, até o primeiro instante da nossa caçada aos espíritos. Depois disso, apenas o deslumbramento. Agilmente, na primeira oportunidade, pedi ao Nick para que começasse o primeiro passo para a máquina liderar sua conduta. Em disparada, ainda com os ventos ao todo batendo sobre nossas faces já geladas ao ponto de entramos em hipotermia em estágio 1, fui preparando as duas mangueiras compressoras feito a material duro.Composta por minúsculas camadas de aço inoxidável, para onde os atarantados e malucos ectoplasmas não fugissem pelos dutos invisíveis do cano, até a um plástico fabricado especialmente para o não vazamentos de substâncias, seja elas químicas ou tóxicas. Ou seja, fora uma ideia totalmente arriscada, e uma vez que nossa mente nos deixou seguir mais além do que a ousadia em si, ainda tínhamos grandes e conseqüentes reparos e reforçamentos para a máquina de captação agir de maneira mais segura e infalível. Rapidamente o tempo conspirava contra ao nosso favor. E era um desafio que não podíamos derrapar. Já estava tudo pronto. Tudo.
Os mais traiçoeiros espíritos corriam sob nossa direção. Como poderíamos saber disso? Simples. Usávamos óculos especiais, como se fosse aqueles de visão infravermelha noturna, mas diferentemente deles, as lentes em que criamos era nada mais e nada menos do que uma onda eletromagnética central, embutida com um sistema operacional capaz de detectar calor químico. Isso mesmo. Calor químico e físico.
Assim dizendo, quando morrem, a maioria dos corpos impregnam debaixo da terra substancias químicas fortes, até mesmo quando é preparado com formol para ser sepultado. Esse produto lidera ao que chamamos de reação, que acaba se tornando cada vez mais influentes para outras que se desenvolvem como hospedeiros nos corpos de nojentas larvas; que sugam carne descomposta por doenças e outros tipos, transmitindo de lá pra cá bactérias até mesmo desconhecidas pela ciência em geral. Em suma, todas impregnam e é repassado para os espíritos, o que torna pra nós, uma vantagem e tanto.
Os ventos se agitavam mais furiosamente. Desajeitados. Ao lado as folhas de carvalho das árvores do mausoléu eram arrancadas violentamente dos galhos secos e porosos, quase como uma ilusão em outro plano. Nick levou os seus braços sobre o rosto, protegendo os seus olhos das fortes rajadas que atingiam seu limite. Ele gritou, mas pedi para que agüentasse mais um pouco. Sem desistir. Sem perder forças. E o pior de todos: sem cair feito um espantalho no chão de olhos arregalados, sem sentidos. Fortemente, ele segurou os apoios da máquina, e eu comandava a grande mangueira sugadora, apontado-a e mirando-a sobre o ar, e o invisível dos invisíveis. Uma boa safra deles estava lá, sobrevoando acima dos túmulos abandonados, feitos bichos caçadores das trevas. Era tudo ou nada.
W West
Enviado por W West em 25/10/2010
Reeditado em 19/01/2014
Código do texto: T2578271
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