Por quem os sinos dobram?
Nunca se aproveite de suas atividades para cometer um delito; particularmente se sua atividade envolve a fé e a confiança que o cargo exige
O sacristão era um devoto, e nas horas vagas deixava-se levar pela libido, coroinhas em profusão aproximavam-se dele, e ele se aproximava muito dos meninos de fé.
Dono de doentia atração pelos garotos, aquela mente botava em prática o que seus instintos selvagens determinavam, valeu-se da inocência de muitos garotos, e sorrateiramente escondia-se atrás do mesmo hábito que usava nos cultos para professar a crença.
A tara do pervertido era incontrolável, mas para controlar o tempo existem os relógios, e o atraso de um garoto levou a mãe a procurar seu filho, onde ele deveria estar, embora estivesse além do tempo que lhe fora estabelecido para ali ficar. Religiosa convicta, chegou devagar, sem ruído e infiltrou-se pelos recônditos da igreja
Foi apossada pela ira, naquele local de respeito, ela sentiu ódio e blasfemou baixinho, seu filho estava sem camisa, sentado no colo do tarado, que se aproveitava do púlpito para dar vazão às suas sanhas
Sem ser vista, ela se afastou, também em silêncio, até a porta de entrada da igreja e dali chamou seu filho em voz alta, que gastou apenas o tempo para se vestir e se aproximar, com olhos assustados, da mãe que o acolheu carinhosamente.
Ela continuou a freqüentar a igreja como sempre o fez, nunca deixou transparecer a ninguém o que vira naquele púlpito, criou à sua volta uma redoma que não permitia a ninguém invadir o que lhe ia ao coração e, particularmente, à sua imaginação criativa.
Um domingo qualquer, aleatório, o sacristão subiu à torre para tocar os sinos, chamando os fiéis para a missa das 7h, fiéis que normalmente traziam consigo sues filhos para a prática religiosas, filhos de quem o sacristão tanto gostava. Naquele domingo, naquela torre solitária, o sino balançou, e quando o badalo tocou o bronze, da borda do sino caiu um pós branco, tão asfixiante, que não deu oportunidade ao sacristão de pedir socorro, ele segurou-se à corda ligada ao badalo, seu único apoio, fazendo com que o sino continuasse a chamar os fiéis, inclusive a mãe do garoto molestado, ela inocentemente vestia-se num domingo qualquer para ir à missa, que o sino anunciava, como todos os domingos o fazia, ela que cuidadosamente colocara o pó, na borda do sino, com o mesmo cuidado com que colocava catupiry nas bordas das deliciosas pizzas que costumava fazer nos domingos à noite.