Já conheço a pedra do jardim

Era tão bom ouvi-la a cantarolar, as notas que emitia assentavam-se no silêncio dele, doce trilha sonora para o seu viver. Eles somavam e se multiplicavam em idílica matemática, e deduziam, com essa equação, ser o princípio, eram a gênese.

Ela no mundo fazia para ele o mundo acabado, ela era a matriz, necessariamente vinham dela os ramos sucessores, como em histórica metrópole e colônias, sem o egoísmo colonial, uma terna árvore genealógica.

No processo da evolução alguns elementos não conseguiram vencer etapas, chegaram ao “agora” ainda vestidos de primatas, com conduta e postura de macaco. Como matam de forma aleatória, como não distinguem pessoas que não têm o mesmo perfil dele irracional, deveriam saber que determinadas pessoas não podem morrer, mas a sanha daquele degenerado nunca recebeu alguma orientação, e ele fez dela, a amada, uma saudade

Todas as formas de tortura desfilaram pela cabeça de quem queria vingança, se a cova da vingança abriga seu alvo, além do ódio que deu origem a ela , a vala seria imensa, e, em extrema unção, o corpo da besta seria ungido com bile.

Um velho camafeu, que ela sempre carregava preso à blusa iria identificar o assassino, que alardeava seu feito mostrando o troféu que angariou com o crime, isso o levou à prisão; e até a prisão mostrou princípios morais para não ficar com aquela amostra de tumor ético, e logo as ruas contrariadas, sei disso, o receberam de volta

Um banco de jardim e uma cobertura de concreto, usada em paradas de ônibus, encontravam-se à frente da casa do bandido, protegida por muros, revelando que o patrimônio público também era vítima de suas façanhas, e ele, que gostava de troféus, sentava-se toda a noite, depois das refeições para ruminar seus feitos e alimentar seus vícios.

Como um ourives, uma pedra de sustentação foi retirada da base da cobertura, a laje superior se manteve em equilíbrio, até que alguém se sentasse no banco, quando então desabou e, como um enorme camafeu, cravou-se no peito dele...que tanto gostava de camafeu

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 23/10/2010
Reeditado em 23/10/2010
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