O Mistério de Andresa.
Já era noite quando o interfone de casa tocou, estava chovendo, tudo estava muito escuro já estávamos todos dormindo; do meu quarto escutei meu pai que foi até á porta ver quem estava a chamar; não era costume isso acontecer, não á àquela hora da noite. Do meu quarto ouvi a voz de uma mulher, uma voz conhecida, mas como estava um pouco distante de mim não consegui reconhecer de quem era a voz; decidi me levantar e ir até lá para ver o que sucedia. A mulher parecia estar com voz de choro, muito aflita e desolada, podia ouvir meu pai tentando fazer com que ela se acalmasse; mas parecia ser um pouco difícil a situação. Enquanto acabava de colocar uma roupa mais adequada para ir até lá ver o que acontecia, ouvi passos vindo do quarto de meus pais, com certeza eram os passos de minha mãe que até agora também estava dentro de casa. O clima estava ficando estranho, parecia ser um daqueles filmes que começa com uma cena de muito suspense, a mulher ficava cada vez mais descontrolada, no começo ela estava falando baixo, soluçava muito; mas agora já estava aos prantos e então pude reconhecer a sua voz. Corri até ao portão para ter certeza se era quem eu pensava, quando cheguei; era a Andresa Monfato esposa de Pedro Nóbrega, um português que havia chegado de Lisboa há uns 6 ou 7 anos atrás, assim que ele chegou ao Brasil se encantou por Andresa e dentro de 6 meses os dois se casaram, se amavam muito. Eu conheço Andresa desde pequeno, fomos crescidos juntos, tínhamos uma amizade muito forte. Fiquei muito assustado quando a vi daquele jeito, não sabia o que tinha acontecido. Minha reação de primeira instância foi perguntar o que sucedia, não agüentava vê-la naquela situação; notei que o sofrimento dela era muito grande. Em resposta a minha pergunta ela me deu apenas um abraço muito apertado, suas lágrimas escorriam em meus ombros, o som de seu choro entrava em meus ouvidos e me deixavam sem reação, fiquei paralisado, a única reação que tive foi a de abraçá-la tão forte quanto ela me abraçava. Olhei para meu pai, e ele fez sinal de que também não estava entendendo nada.
Os minutos iam se passando e ela não se acalmava, minha mãe ligou para a casa de Andresa, o telefone tocava mais ninguém atendia; aquela chuva caindo sobre nós e nem percebemos que estávamos molhando, mesmo sem saber o que havia acontecido estávamos todos em estado de choque. Meu pai decidiu ir até a casa dela ver o que tinha sucedido, ficava umas sete casas á frente, subindo a rua. Enquanto isso perguntei a ela qual era o motivo de tanto desespero; ela levantou sua cabeça, olhou em meus olhos tentou dizer mais não conseguiu. Já estávamos muito molhados com toda aquela chuva caindo sobre nós, conduzi ela para dentro de casa, minha mãe providenciou uma toalha e uma roupa seca para ela se trocar, mas foi totalmente inútil, ela não me soltava e ainda chorava muito. Meu pai entrou ofegante pelo portão e trouxe a noticia, Pedro Nóbrega estava morto. Um choque. Na sala ouvia-se apenas o choro de Andresa.
Meu pai tomou as providencias, ligou para a policia relatando o acontecido; aquela seria uma longa noite para todos nós. Depois de ligar para a policia, ligou para os pais de Andresa, eles haviam se mudado para uma cidade que ficava uns 300 quilômetros de distância de nossa cidade, o Sr. Marcos pai de Andresa foi transferido pelo serviço para essa cidade. Meu pai não conseguiu falar com eles, o número só caia na caixa postal, certamente eles tiveram de fazer alguma viajem ou simplesmente não estavam em casa. Em menos de cinco minutos após a ligação para a policia a rua já estava completamente tomada por policiais, uma correria sem fim. Como eu estava com Andresa não sabia o que tinha acontecido, sabia apenas que Pedro era falecido, porém não sabia qual era a causa do óbito.
Aos poucos fui tentando perguntar a Andresa o que havia sucedido, e aos poucos ela foi tomando forças para dizer o tinha acontecido ali na casa deles. Mas antes que ela pudesse ao menos começar a dizer alguma coisa, o capitão da polícia chega com a noticia de que Pedro possivelmente teria sido assassinado. Olhei para meu pai e ele confirmou com um balançar de cabeça. Mas tudo era muito estranho, quem poderia ter matado Pedro? Andresa não teria coragem de fazer tal crueldade. Mas como não tinha ninguém para ver o que realmente tinha acontecido, a principal suspeita infelizmente era ela. O capitão fez algumas perguntas para ela, mas devido ao seu estado foi impossível colher qualquer informação. A rua estava tomada por curiosos querendo saber o que se passava, queriam saber o motivo de tantas viaturas, e porque Andresa chorava tanto. Ninguém sabia de nada até então. O capitão vendo que ela não estava em condições, decidiu acompanhar de perto a perícia na casa de Andresa. Meus pais foram juntos para tentar ajudar em alguma coisa, a final éramos quase uma família. Fiquei sozinho com Andresa, e então novamente comecei a perguntar o que tinha sucedido. Fiz com que ela se sentasse no sofá, e então eu disse a ela que iria até a cozinha pegar um copo de água, para ela se acalmar um pouco, de começo ela não quis mais consegui convencê-la; então fui até a cozinha peguei um pouco de água e levei para que ela tomasse. Após ela tomar a água perguntei se ela já esta se sentindo melhor, me olhou com seus olhos verdes cheios de lágrimas e disse com uma voz tremula e cheia de soluços:
- Foi minha culpa, foi minha culpa. Ele disse que não era para eu ir, mais eu não escutei ele e fui.
Novamente ela me abraçou, não entendi nada e perguntei:
- Mas por que foi sua culpa? Que lugar era esse que ele te pediu para não ir, mas que você foi mesmo assim?
Ela não disse mais nada, apenas abaixou a cabeça e em questão de poucos instantes fechou os olhos e caiu deitada no sofá. Levei um baita susto, do nada ela apaga. Talvez toda aquela emoção tenha mexido com seu sistema nervoso; ela dormia um sono muito profundo. A falta de informação me deixava ainda mais nervoso, não conseguia imaginar Andresa tirando a vida de Pedro; eles sempre se mostravam ser um casal acima de qualquer suspeita, se amavam muito. E também eu a conhecia desde pequena e sabia que ela não teria coragem para tal ato. “- Mas se não foi ela quem foi então?”, eu me perguntava. O telefone toca e sem demora atendo, do outro lado da linha era Magali, mãe de Andresa. Ela estava preocupada, pois nunca ligamos para eles tão tarde da noite, e eu vendo que ela já estava preocupada tentei acalmá-la, mas ela precisava saber o que havia acontecido. Passei para ela as informações que eu sabia até o momento, ela ficou perplexa com a noticia; também não era para menos. Eu disse que Andresa estava em minha casa e que eu estava junto com ela, Magali pediu para falar com Andresa mais quando falei que ela havia dormido, mudou de idéia e disse que já esta a caminho. Então nos despedimos e quando desligo o telefone sinto um vento muito gelado subindo em minha espinha, nunca tinha sentido isso antes; fiquei arrepiado e muito assustado. Mas passou logo.
Já havia se passado meia hora, nem meu pai, nem minha mãe voltava para dar noticias; não queria deixar Andresa ali sozinha, por mais que ela estivesse dormindo. Mas a verdade é que eu tinha receio de que ela tentasse alguma coisa. Então estava ali, preso dentro de minha própria casa. Eu estava em pé na porta da sala olhando para o portão da garagem, quando de repente sinto aquele frio na espinha novamente; imediatamente peguei o telefone e liguei para meu pai e adivinha... Ele não atendia.
Posso dizer que essa noite foi uma das piores da minha vida, nunca passei por nenhuma outra situação nem um pouco parecida com essa. Quando estava me voltando para sentar no sofá, ouço alguém mexer no portão, perguntei quem era mais ninguém respondia, apenas continuava a mexer; aquilo foi me deixando tão sinistro que eu já estava pegando alguma coisa para uma eventual defesa. Seria inútil.
- Quem está ai? Perguntei, mais ninguém respondeu.
Novamente o frio na espinha, já era o terceiro em menos de uma hora. Tentei colocar na minha cabeça que o motivo era a situação, que meus nervos estavam à flor da pele. Mas eu estava enganado. Alguma coisa estava acontecendo. Eu nem tinha percebido, mais todo o barulho que estava tendo na rua há poucos minutos atrás havia cessado, tudo estava em silêncio, exceto o portão. Mais uma vez o telefone toca, toca, toca, toca... Meus olhos estão quase saindo para fora, eu mal posso dar um passo; por fim atendo e com muita dificuldade digo: “- Alô”.
- Alô, quem fala?
O telefone fica mudo e a ligação caí. O barulho no portão também para, tudo para! E a porta da sala esta aberta, Andresa dormindo, e de repente o portão abre. Crio coragem e fixo meus olhos para ver quem esta ali, mais ta escuro lá fora, não consigo ver nada.
- Quem esta ai? Pergunto mais uma vez.
O portão acaba de abrir totalmente e de repente uma pessoa entra de uma vez e para bem em minha frete. A água de sua roupa pinga, no chão da sala. Estou parado, imóvel, coração a mil por hora, o sujeito vai levantando aos poucos a cabeça, em sua mão esta uma arma; estamos a menos de um metrô de distância um do outro. Não consigo reconhecer a pessoa, nunca vi em toda minha vida. Lentamente ele levanta sua arma em minha direção e puxa o gatilho, mais a bala não sai, e então me jogo em cima dele e... O cara simplismente vira fumaça. É como que se ele nunca tivesse estado ali, o chão continua molhado; mostrando que ele esteve ali de verdade. Meus sentidos vão à loucura com isso. Nesse intervalo Andresa acorda de seu sono, e como que se ela soubesse de tudo me pergunta se o tal cara já havia passado ali. E antes que ela pudesse terminar de perguntar um som muito fora do normal surge, e ela diz que vai começar tudo de novo. Não tem como fugir.
- É a mesma coisa que aconteceu com a gente mês passado, ta acontecendo tudo de novo. Diz Andresa aos prantos.
De repente o portão se fecha, e começo a ouvir passos vindos do interior da casa; o que seria impossível, visto que não tinha mais ninguém ali exceto eu e Andresa. O terror estava começando, ela entra em desespero; parece que ela já havia vivido isso antes. Eu nunca acreditei nesse tipo de coisa, não consegui assimilar o que estava acontecendo, a única coisa que eu tinha certeza era que existia ali alguma coisa fora do meu senso de realidade. Eu queria sair dali o mais rápido possível, mas Andresa disse que seria melhor ficarmos quietos ali até o amanhecer, as horas foram passando e cada segundo a mais ali dentro parecia interminável. Foi uma experiência horrível, de repente minha casa ficou estranha para mim. Todos sumiram, e de uma forma surreal as coisas não aconteciam como deveria acontecer.
A ausência de meus pais me preocupa, não sabia onde eles estavam; o que estavam fazendo. Estava louco pra saber se estava tudo bem com eles, e aquela chuva interminável servia apenas para alimentar o meu medo. De uma forma repentina criei coragem para sair dali, comecei a caminhar para o portão, chamei por Andresa para que ela viesse comigo; ela não queria vir, e eu não podia deixá-la ali sozinha, naquela situação. Então voltei, puxei ela pelos braços e começamos a caminhar rumo ao portão; não deveria ter feito aquilo. Os momentos que se passaram a partir dessa hora é difícil até de relatar, parece um conto, mas é verdade. Quando abrimos o portão e saímos á rua, todos estavam estirados ao chão; não estavam mortos, mas estavam em um estado tão confuso que nem consigo descrever. Logo avistei minha família, aparentemente estavam bem. Aparentemente. A verdade é que ninguém ali estava bem, nem mesmo eu. Andresa vendo o meu desespero, apesar dele estar contido; mas mesmo assim transparecendo em minha fisionomia, tenta me acalmar dizendo:
- Todos aqui estão bem, eles estão apenas em um estado de dormência que logo passara. Só que para que todos fiquem realmente bem temos que fazer uma coisa, algo que jamais faríamos. Era o que eu ia fazer quando Pedro se foi.
Enquanto Andresa falava, senti que alguém nos observava de longe. Procurei por onde minha visão alcançasse mais não consegui ver nada. A chuva deu uma trégua e então continuei ouvindo o que Andresa falava, o estranho é que ela mudou de comportamento a partir do momento em que saímos de minha casa. Todo o momento depressivo que ela estava passando parecia ter terminado, e que aquilo já era parte de seu passado; mais meus instintos estavam ligados o tempo todo. Senti que Andresa sabia muito mais do que aparentava saber, ela estava reagindo muito normalmente; parecia estar muito familiarizada com aquele tipo de situação, o que me deixou um tanto apreensivo. Tudo o que eu queria nesse momento era voltar a ter minha velha vida de volta, gostaria de ter meus pais novamente, pena que as coisas não estavam tão fáceis assim. Senti que uma longa jornada estava apenas começando, que tudo aquilo era apenas um inicio de uma aventura sem limites.
Andresa começou a andar em direção a sua casa, onde possivelmente estaria o corpo de Pedro. Movido pelo medo e principalmente pela curiosidade, segui os passos dela; entramos na casa, e realmente Pedro estava ali, sem vida debruçado sobre a mesa de jantar. Uma cena que prefiro não entrar em detalhes, uma coisa surreal. Andresa disse tudo aconteceu devido a uma descoberta que eles fizeram há uns dois anos atrás, em uma viajem turística a um lugar bem distante dali. Nessa viajem eles encontraram um mapa, uma espécie de guia turístico; estava jogado em uma prateleira do hotel onde estavam. Movidos pela curiosidade, resolveram seguir todos os caminhos que estavam naquele mapa, passaram por lugares sombrios, lugares exóticos, passaram até por diversas igrejas construídas ainda em tempos de escravidão, igrejas essas que são muito comuns em lugares mais antigos. Andresa disse que o último lugar visitado era muito diferente dos outros, tinha um ar mais jovem, parecia ter sido construído há pouco tempo. Quando chegaram ao portão do imóvel, foram recebidos por uma pessoa muito cordial, que os convidaram para entrar. Pedro e Andresa pensaram que devido ao endereço estar no mapa, aquele lugar seria algum tipo de hospedagem ou algum resort. Entraram, e segundo Andresa ficaram encantados com o que viam, segundo a descrição dela era um lugar fantástico. Só que esse lugar guardava consigo alguns segredos e ritos jamais descobertos. Bastaram apenas alguns minutos para que tudo que era lindo e magnífico começasse a se tornar mórbido, só que já era tarde para voltar; o jeito era prosseguir caminhando na esperança de encontrar algo bom mais a frente. Andresa disse que cada passo que ela dava se sentia mais pesada, sem forças, o medo foi começando a nascer e o desejo de sair dali de uma forma repentina tomou conta dela. Sem que a pessoa que os acompanhava percebesse, Andresa se aproximou do ouvido de Pedro e disse que estava ficando com medo e que gostaria de sair dali; para surpresa de Andresa Pedro também estava com receios de que aquilo não acabaria bem. Resolveram dizer ao homem que eles gostariam de ir embora, que não seria mais preciso continuar a visita; mas o homem com um sorriso sarcástico respondeu que uma vez ali dentro a única maneira de regressar seria concluir o roteiro. Quando ela me disse isso fiquei tão apavorado que pedi para que ela parasse de contar, não gosto muito de coisas com muito suspense, não me sinto bem. Mas ela insistia em continuar, ela dizia que agora eu precisava saber o resto, eu também a partir desse momento já estava fazendo parte dessa tal maldição; não coloquei fé no que ela estava me dizendo. Pensei que ela estava dizendo isso porque estava muito nervosa e com medo, só que eu estava com mais medo que ela.
Enquanto ela se preparava para continuar sua narrativa, ouvimos novamente o som de passos humanos vindo em nossa direção. Andresa reconheceu o barulho e disse com toda a sua força:
- CORRE! CORRE! PRECISAMOS SAIR DAQUI O MAIS DEPRESSA POSSÍVEL; ANDA, ANDA DOUGLAS NÃO TEMOS TEMPO, ELE ESTA VINDO DE NOVO!
Às pressas saímos dali, não tivemos tempo de pegar nada exceto as chaves do carro de Andresa que estava na rua. Saímos dali queimando pneus no asfalto, Andresa gritava histericamente pedindo para andar mais depressa com o carro. Impossível, dizia eu, já estava acelerando tudo o que o velho uno podia acelerar. Aquela coisa parecia nos seguir, o pânico foi tomando conta de nós dois; já se passavam das três horas da manhã, não tinha ninguém nas ruas exceto nos dois voando baixo pelas vias de Florianópolis. No meio da confusão eu perguntei para Andresa o que era isso que estava nos seguindo, e ela disse que era um dos que estavam dentro daquela casa, e que outros também viriam atrás da gente. Ela disse que eles quebraram um suposto pacto que eles fizeram lá e agora eles queria cobrar o que lhes pertenciam. Perguntei que pacto maluco era esse, ela disse que foi uma condição que eles tiveram de aceitar para poderem sair daquela casa. Ela não quis dizer o que era, insisti, mais mesmo assim sem sucesso. Segundo ela ainda não era tempo de entrar em mais detalhes. Fiquei muito nervoso com ela, disse:
- Como assim ainda não é hora de entrar em detalhes? Você me aparece na minha casa, no meio da noite, toda minha família tenta te ajudar. O meu pai, minha mãe, caramba eles podem estar mortos uma hora dessas, e eu nem fiz nada, deixei eles lá no meio da rua, agi com um delinqüente. E agora você vem dizer que não é hora de contar o que esta acontecendo? Que palhaçada é essa Andresa?
Ela não disse uma só palavra, o silêncio dela me enlouquecia. Ainda estávamos andando a toda velocidade rumo à saída da cidade quando de repente ela diz:
- Para o carro, para aqui.
Eu disse:
- Não, eu não posso parar aqui. Aquela coisa esta vindo atrás da gente, não quero morrer.
Mais ela insistiu e tive de parar o carro no meio de uma avenida, um lugar tão estranho quanto toda essa história. Nessa parada, notei ela começava a chorar, seu comportamento estava ficando estranho, ela tava diferente. Nunca tinha visto ela daquele jeito, tava com um olhar tão penetrante que parecia me hipnotizar, sua voz de repente ficou sensual; parecia até ser um complô, uma forma de me enganar, de me persuadir. Devido aos últimos acontecimentos resolvi tomar cuidado, parecia até que ela estava se tornando uma estranha para mim. Tudo o que eu queria na verdade era entender o que estava acontecendo, minha vida virou de pernas para o ar. Mas à medida que o tempo passava dentro daquele carro as coisas iam tomando rumos diferentes, ela com aquele olhar cheio de lágrimas, aqueles olhos verdes me olhando; aos poucos ela foi se aproximando de mim, aquele olhar dominante foi tomando conta de mim. Aos poucos fui me esquecendo do que estava acontecendo do lado de fora daquele carro, ela despertou em mim naquele momento um sentimento que eu não fazia idéia que podia sentir por ela, nossos olhares ficaram tão fixos, nossa respiração estava tão ofegante; a temperatura dentro daquele carro subiu e pela primeira vez nos beijamos, parecia que uma espécie de encanto havia caído sobre nós. O clima estava ficando cada vez mais picante até que fomos interrompidos com o som de um “toc-toc”; era um policial batendo no vidro do carro. Levamos um susto, pois de repente voltamos à realidade. Não imaginava que já tínhamos chegado ao ponto de estarmos praticamente nus dentro daquele carro, que constrangimento. Mas isso não foi nada perto da bronca que levamos daquele guarda, sorte que não fomos parar na delegacia, mais sorte ainda de ser apenas um policial cumprindo seu dever.
Fomos liberados e saímos dali o mais rápido possível, Andresa estava com aquele tal mapa guardado dentro de sua bolsa; eu não sabia até então. Ela o retirou da bolsa e me mostrou onde ficava o tal lugar em que toda essa história começou, ela sugeriu que fossemos até lá para tentar reverter essa situação; eu não tinha muita escolha e então decidi me arriscar mais ainda para tentar trazer de volta a minha vida, minha família.
A tal cidade ficava cerca de mil e setenta e três quilômetros de distância, uma cidade chamada Naviraí situada no estado de Mato Grosso do Sul. Seria uma longa viajem e eu fiquei com medo de que o velho uno poderia não suportar essa viajem; decidi então parar na casa de um amigo que morava em Coqueiros e pegar com ele o meu carro, ele tinha pegado emprestado no dia anterior para fazer uma visita a seus pais. Trocamos os carros e sem entrar em detalhes continuamos a saga, e que saga. Já eram quase 4 horas da manhã e o meu cansaço começa a tomar conta; minha adrenalina já estava bem baixa, pois desde que saímos de Florianópolis nada mais acontecera exceto aquele beijo caliente que me deixou totalmente desnorteado. O meu carro estava sem combustível e então fizemos uma parada em um posto na cidade de São José reabasteci o carro, comprei algumas coisas para comermos no caminho e seguimos viajem.
(...)
(A continuação deste texto você confere logo mais, não perca a edição “Os Contos Escritos e Lidos”; em breve)