Tetsuo

Um zumbido...Tetsuo olhou para cima, protegendo os olhos do sol, que às 08:15 já era forte. No céu azul profundo ainda havia algumas estrelas.

A sirene soou. Potente e aguda como uma wakizashi, seu som atravessou o peito da cidade.

A defesa anti-aérea emitiu avisos várias vezes ultimamente.

Ficou preocupado. Mas não havia muito que fazer, estava a meio caminho de casa, a meio da escola.

Apenas um avião se afastava tranqüila e pacificamente. Outro alarme falso¿

Um estampido seco. Como fogo de artifício falho. Tetsuo sentiu algo diferente. O ar ficou rarefeito e elétrico. O vento parou e neste segundo foi difícil respirar, como quando recebeu um soco no estômago.

O sol empalideceu. A rua de casas antigas, várias do período Edo, escureceu. Eclipse instantâneo. Deus fechou os olhos.

O vento recomeçou, mas para o outro lado. Tetsuo se perguntou o que estava acontecendo. Mas não saiu som algum da boca, apesar da certeza de pronunciar as palavras. Seu ouvido zumbia forte. Será que ele não conseguiu falar ou apenas não se escutou falando¿

Não daria tempo de virar e Tetsuo se resignou a permanecer como estava, esperando aquilo terminar. Ou ainda, simplesmente estava com medo e paralisado demais para se virar.

Uma luz, muito branca, azulada, começou tímida, suave. Por algum tempo quase foi bom, pois a noite havia sido fria e junto a luz, havia um calor suave que esquentou as costas e a nuca de Tetsuo. Mas isso durou muito pouco também.

A luz ficou forte e mais forte e forte, até encobrir definitivamente o sol, afogando-o na profundidade de sua luz, eclipsando-o. Então apenas ela, a luz branco-azulada, existia. Quando ela enfraqueceu, Tetsuo viu que estava nu e seus cabelos queimavam. Virou-se. Um enorme caos.

Uma coluna de terra subia em direção aos céus. Toda a cidade ardia em chamas ou, estranhamente, evaporava. Um cogumelo de poeira, fogo, terra, luz crescia no céu. Enorme. Como se um gigante nos pisoteasse.

Rugia um trovão continuo. Tetsuo viu ao longe um muro se aproximar rapidamente. Quando perto, viu que era a própria terra que se levantava alguns metros e varia a cidade jogando tudo que estava em seu caminho para o alto, prédios, carros e tudo o mais. Como uma onda que se forma quando batemos um tapete.

No próximo instante Tetsuo estava alguns metros acima da altura dos postes de energia. Fora arremessado, mas como tudo o mais também fora, a impressão que tinha é que tudo flutuava.

Quando acordou, estava num lugar estranho, cinza. Não tinha o braço direito. Naquele estranho e irreconhecível lugar não havia rua, casa, pessoa que reconhecesse pois, ou as coisas estavam diferentes, ou simplesmente não estavam mais lá.

Escombros e ruínas, e havia choro e gritos por toda a parte.

Vail Martins
Enviado por Vail Martins em 22/10/2010
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