Grandes perfumes em pequenos frascos

Fez do parasitismo sua marca de identificação; e valia-se do hospedeiro para alcançar e prover todas suas necessidades, enquanto que o hospedeiro odiava aquele peso, aquele néscio; uma carga que carregava para atender a esposa, irmã do inepto

Parece que determinadas pessoas fugiram de todas as filas que distribuíam qualidades, bom senso, valores e moral, sobretudo moral. Aquele exemplo que ocupava um quarto dos fundos, era o modelo cabal de um mau exemplo: não sabia usar o garfo e a faca, era porco, não cuidava da higiene pessoal, apropriava-se de trocos deixados sobre os móveis e jogava sinuca, aquela figura típica do jogador sem camisa, tendo uma das mãos ocupadas por um taco e a outra por um copo de cerveja, em bares de esquina. O rosto, macilento, mostrava os efeitos de quem vive sob a luz que ilumina uma mesa de sinuca, e o colarinho engordurado acusava que o dono da camisa não a trocava por mais de 3 dias.

Uma família constituída pelo marido, a esposa, um casal de filhos adolescentes e por aquele penduricalho, que manchava de maneira quase sórdida, um quadro que tinha tudo para ser feliz.

A inconveniência ganhou matizes intoleráveis quando o pústula, embriagado, gracejou e tentou acariciar uma amiga da filha que freqüentava a casa, uma atitude que desagradou e enojou a todos, até a irmã, eterna protetora da criatura, estava indignada com a atitude daquele que levantou a mão para tocar uma menina imaculada.

Todos passaram a arquitetar planos e fórmulas para se desvencilhar daquele peso, agora também imoral e não confiável. Aventou-se casas de recuperação, conseguir um emprego para o inútil e até mesmo havia torcida para um desenlace drástico e definitivo.

No bebedouro que havia no quarto do bêbado, uma toalha estava presa entre o galão e a torneira, impedindo que o equipamento fosse utilizado; com força desnecessária o parasita puxou a toalha, e quando o fez, uma cápsula , meticulosamente presa à toalha, libertou-se do tecido felpudo e se diluiu no líquido, envenenando a água entre o gargalo e o copo que se servia.

A lei da gravidade manteve a água do galão intacta, qualquer exame laboratorial não acusaria nenhum elemento naquele vasilhame, os efeitos letais do veneno foram ativados pela água que chegou ao copo, tão somente aquela água.

Uma trama que somente poderia ser urdida por um mente privilegiada, como privilegiada era a mente daquele que por tantos anos servira de hospedeiro para alguém que não compreendeu que os melhores perfumes estão nos pequenos frascos, mas, eventualmente, um terrível veneno pode estar em um galão de vinte litros.

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 21/10/2010
Reeditado em 21/10/2010
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