Noite insólita
I.
Madrugada.
Chego na frente da minha casa cansado. Encaixo a chave na fechadura, giro a chave, destranco e abro a porta, mas não entro.
Fico no batente da calçada, mergulhado na noite... está tudo muito calmo, começo a pensar com aquele silencio.
Olhando as imagens que se formam na escuridão do interior da casa... é como se estivesse com os olhos fechados. Os vultos se aparecem e passam correndo pelas sombras. A mente prega peças belíssimas.
Mas ainda estou no batente da minha entrada com a porta aberta, sem entrar. Apenas fico olhando para aquele breu hipnotizante que engole o interior da casa, vendo os vultos lá dentro a dançar.
II.
Muito escuro quando abro meus olhos deitado no sofá, com uma dor de cabeça enorme, “maldita ressaca!”, Deixei a noite entrar em casa e ficar velando o meu sono sem eu nem perceber.
Sento-me no sofá, esfrego meus olhos com a ponta dos dedos e bufo... cheiro de álcool. Percebo meu peito nu e suado quando passo a minha mão nele, enquanto minha visão começa a se adaptar com as luzes apagadas.
Há apenas uma luz fraca, entrando por uma janelinha retangular sobre minha cabeça, e batendo na parede lisa e clara qual eu encaro ainda um pouco sonolento.
Alguma luminosidade também vem da porta, parece estar aberta, curioso... não sabia que havia deixado-a aberta antes de dormir.
Inclino a minha cabeça para frente e dou uma olhada além da porta aberta, nas luzes vindo dos postes... vejo uma silhueta se movendo ao pé da minha porta. Só consigo perceber que esta bem vestido e que segura algo como uma maleta. Não me preocupo, não me importo.
III.
Não sei porque êxito em entrar em minha própria casa, fico vislumbrando a escuridão e as leves sombras... “meu Deus!” ,deixo a maleta cair congelado pelo pasmo!Algo se mexeu abruptamente no meio das sombras , acho que cheguei a ver um rosto se inclinando para mim. Não eram simples vultos que eu via agora, não aquilo. Não pareceu uma peça cerebral, pareceu muito real o que vi. “Há alguém na minha casa”.
Uma corrente de medo atravessou o meu corpo.
IV
Odeio vendedores no pé da minha porta... que raio que aquele idiota fica olhando aqui pra dentro? Eu não vou até lá falar com ele não, o que será que ele quer? Quer que eu vá até lá e lhe dê um soco?!
Minha vida anda um lixo desde a besteira que eu fiz. Meu Deus... pensar que os meus fantasmas ainda dormem em meu quintal... mas... eu fui justo não fui? Afinal, ele estava invadindo minha casa e eu estava com medo... tenho mais é que tomar uma cerveja.
Com minhas mãos apoiadas nos joelhos eu coloco força e dou um impulso para levantar do sofá.
Olho para a porta a porta, virando minha cabeça pra esquerda, e vejo a silhueta novamente... e pensar que eu já fui assim, alinhadinho bem de vida... e agora: decadência. Depois daquela besteira que fiz, mas admita para você mesmo, até que gostou de fazer.
Lembro bem o dia que em casa esgotado e fiquei encarando o escuro da casa sem forças, segurando minha maleta, o dia em que aquele desgraçado veio a mim e me fez sentir o peso da faca, me fez virar um número numa coluna social.
Tiro os olhos da entrada distante da casa e viro a cabeça para frente, fico de frente ao balcão de granito, um pouco mais alto do que a minha cintura, que separa a sala da cozinha.
Contorno o balcão, vou pegar uma cerveja na geladeira. Pego-a e tiro a tampa com os dentes, então dou um gole. Quente. Desse amarga pela garganta, a geladeira não funciona, assim como as luzes. Devem ter cortado a minha luz, a tempos não pago.
V.
"Meu Deus! Deve ser um ladrão mesmo. Agora vi claramente se mover. Acho que até olhar para mim. O que eu faço? Chamo a policia? Será que adianta mesmo chamar a policia?"
Sem tirar os olhos do interior da casa, passo a mão pela minha calça e deslizo-a para dentro do meu bolso, tateio o celular e o tiro discretamente o suficiente para ver o teclado e o display. Olho rapidamente para a tela e vejo a mensagem: Sem Serviço.
VI.
De pé atrás do balcão segurando a cerveja, eu olho um pouco para a entrada da casa, só da para ver uma parte do braço e uma perna do vendedor. "O que aquele idiota esta olhando no celular, e porque ele ainda não foi embora?"
Espera... e se ele não for um simples vendedor? E se ele for alguém dos caras que eu devo dinheiro? "Mandaram me apagar, mas não vão conseguir!"
Eu virei um monstro desde aquele dia, em que eu percebi a faca que ele segurava quando pulou para atacar-me. Quando eu peguei a faca de cima do balcão e lutei, mesmo com medo, ganhei. Senti a lâmina entrando e o sangue escorrendo... O enterrei escondido no meu quintal, de um modo que ninguém nunca encontrou. Não vi seu rosto... Apenas percebi que estava barbado, como eu estou agora.
"Mas e se o cara que eu matei era importante e vieram acertar as contas?"
Já que não tive coragem de olhar para o rosto dele na época. Solto a cerveja colocando em cima do balcão vejo o objeto reluzente ao lado da garrafa, então pego uma faca de aço pesada que estava sobre o granito escuro e gelado.
"Não vão acabar comigo, não mesmo!"
VII.
“sem serviço... puta merda!” sussurro nervoso para eu mesmo. Agora o que me resta é a coragem, algo que é fraco em mim agora, mas junto forças para começar a mexer minhas pernas. No primeiro passo que dou, percebo que a um poste jogando luz atrás de mim, joga um pouco mais de luminosidade na casa, fazendo uma sombra longa minha deitada no chão, mas vou entrando assim mesmo. Continuo andando...
VIII
“Que sombra é essa? O desgraçado está entrando mesmo na minha casa?!”
Empunho, com força, a faca e me escondo agachado atrás do balcão, “vou ficar de tocaia aqui pra acabar com ele.”
IX.
Continuo andando e mergulho dentro da penumbra , "Ele pode estar armado, preciso ter algo em punho também." Lembro que sempre deixo uma faca em cima do meu balcão de granito. Vou caminhando lentamente... Passo por passo, em direção a cozinha.
X
“o desgraçado esta se aproximando”, aperto mais a faca em punho.
Posso ouvir os passos lentos dele chegando próximo ao balcão, vou preparando-me para o ataque, não posso dar chance para ele.
XI
Chego ao lado do balcão e vejo o brilho do aço da faca e... uma garrafa de cerveja aberta?, “Mas o que...?”.
Vou aproximando a mão lentamente, para não fazer muito barulho ao pegar a arma. Atento a qualquer movimento no escuro que me cerca.
Quando encosto meus dedos para pega-la ainda tilinta um pouco com o granito da mesa então... AH!
Assusto-me, de repente, com um homem de barba pulando detrás do balcão , não presto muita atenção no rosto dele,por conta do escuro, mas o reflexo das luzes fracas de fora no aço da lamina em que empunhava.
XII
Não estou muito nervoso encolhido atrás do balcão esperando-o, escuto-o cada vez mais perto... os seus passos lentos, um... dois... parece ter parado.
Deve estar em frente ao balcão agora, mas não pode me ver. Escuto um baixo tilintar de metal... :Uma faca? Vai pegar uma faca?"
“Ele esta desarmado!”, não perco tempo e pulo para atacá-lo.
XIII
Ele pulou repentinamente, mas não me impediu de pegar a faca logo, de cima do granito, já que minha mão quase envolvia a arma.
Ele tenta me golpear! Mas eu me esquivo, viro-me e corro para a sala no escuro.
XIV
“desgraçado ainda conseguiu pegar a faca!”, mesmo assim golpeio, mas ele consegue esquivar e se vira correndo em direção ao centro da sala em penumbra, circulo o balcão e vou de encontro a ele no cômodo quase totalmente em breu.
XV
“Essa sala está escura demais” , corri para ela mais movido pelo medo e um modo de ganhar tempo. Paro de correr na sala e fico ofegante, chego com o coração disparado segurando a faca em uma das mãos. Olho para trás e vejo a silueta do homem se aproximando a minha direção com um brilho metálico pendendo com o seu movimento.
XVI.
“Não deve ser um profissional, ele correu parecendo até que está com medo” , vou caminhando até a sala lentamente, onde ele esta ofegante e a minha espera, fico a uma distancia não tão grande, mas apresso o passo em direção a ele, ergo a faca e despenco a arma cortando o ar tentando acertar no seu pescoço e grito:
- Desgraçado! Não vai me apagar nunca!
Eu vejo o contorno dele, visto na penumbra da sala, se esquivando para o lado no escuro, mas sinto cortar algo, acho que minha faca conseguiu ao menos feri-lo,
Quando viro pra tentar de novo, ele me acerta um soco na cara com algo muito duro, parece que a sua mão era feita de ferro! Tenta rapidamente passar a lamina contra minha cintura, pulo para trás e escapo.
Cuspo na cara dele, fazendo-o se afastar tirando o muco da cara atordoado. Tento furar a sua barriga, mas o desgraçado consegue tirar o corpo rapidamente do meio de novo, “ele é rápido”. E logo que se esquiva, vejo o brilho prateado descendo em direção ao meu pescoço. Mas com reflexo eu seguro seu pulso parando o golpe na metade do movimento e no mesmo instante tento acertar a garganta dele, também sinto uma mão segurando meu pulso fazendo nos ficarmos assim: lutando com a força da resistência de quem tiver mais, e golpear na vaga que o outro der.
XVII
Ele vem correndo para cima de mim com a faca erguida sobre a cabeça pronta para me acertar e grita!
Quando faz o movimento tenta furar minha garganta, mas eu esquivo para o lado, Ai! Sinto uma lâmina deslizando no um braço e o ardor do corte.
“Filho da mãe!”, com o cabo da minha faca dou um soco no seu rosto e deixo-o atordoado, tento golpeado no abdômen, ele escapa , “Merda”! Sinto um muco batendo no meu rosto. Ele cuspiu na minha cara, desgraçado!
Tenta vir rapidamente enquanto eu tiro o muco do rosto, mas eu tiro a mão dele da rota e ergo minha arma cortando o ar, mas sinto uma mão segurando meu pulso com força. Vejo, de repente, um brilho prateado da faca iluminado por uma fresta de luz, "ele também vai tentar me golpear." Seguro seu pulso e ficamos os dois na mesma posição neutra de forças, fico rezando para que ele não tenha um bom condicionamento físico.
XVIII
Eu fico colocando força para acertar logo aquele idiota, mas paro de repente com algo que me gela o corpo.
Eu estou na sala, de costas para a parede e ele de costas para o sofá, a luz que sai da janelinha e é refletida pela parede, agora ilumina o rosto dele. Fazendo com que eu possa vê-lo.
Aquilo não podia ser real, eu devo estar ficando louco, aquele rosto era... Ele era... Eu.
XIX.
Ficamos os dois daquele jeito, eu encarando uma sombra apenas. A parede atrás dele refletia um pouco da luz que vinha da janela de cima do meu sofá e me ofuscava um pouco, mas não me impediu de continuar colocando força.
Sinto que ele de alguma forma relaxa o braço e aproveito para golpeá-lo logo, enterrando minha faca em seu pescoço, sinto a arma afundar, o sangue escorrer, acho que até gosto disso.
XX.
Aquilo era surreal, estava me olhando a anos atrás, eu estava me vendo fazendo a grande besteira que destruiu a minha vida a tanto tempo, no dia em que eu matei o invasor da minha casa, mas eu não consegui enxergar o seu rosto e depois de matá-lo não tive coragem de encará-lo. Então não era o invasor... era... eu mesmo.
A luz emana da parede atrás de mim, eu devo estar com minha imagem ofuscada aos seus olhos, se ao menos eu pudesse avisá-lo....
Sinto que deixei a força que fazia segurando o pulso dele, alguns segundos relaxar por conta do choque, então percebo a faca dele descer e afundar na minha garganta, não consigo nem falar mais, sentindo meu próprio sangue quente me banhando, e o escuro ficando total de novo.
XXI.
O corpo sombrio tomba no chão ,ainda com a faca presa a garganta, não tenho coragem de olhar para o seu rosto.
Olho para a poça de sangue se formando, em volta da sua cabeça e ajoelho-me ao lado do corpo, melando minha calça. Desencaixo a arma para levá-la até a pia da cozinha e abro a torneira, uma água espumosa lava o sangue da faca que escorre pelo ralo.
Como vou me livrar do sangue no chão? Existem substancias que podem mostrar mesmo se eu limpa-lo e tudo, mas... espera, presto mais atenção na sombra caída sobre o tapete, era um tapete novo! E eu nem havia tirado o plástico que o envolve, porque sou alérgico e não posso deixar que ele junte poeira... ótimo!
O chão não está sujo. Então contorno o balcão e vou de volta para sala, pego o tapete pelas pontas e o arrasto até a porta dos fundos para o quintal.
No canto da parede dos fundos vejo um contorno meio enferrujado, iluminado pela luz da lua no céu do meu quintal, pego a pá que estava encostada com seu cabo enferrujado e começo a cavar uma cova, profunda de preferência. Coloco muita força pra cavar aquilo e, quando termino, estou em pé dentro dela, todo sujo de barro e suor. Respiro fundo, enxugo a minha testa com meu o meu antebraço. Naquela cova eu paro e olho em volta com atenção, parece que foi até feita para mim...
Jogo a pá para fora e apoio minhas mãos na borda da cova para dar impulso e subir.
Subo e olho para o corpo entendido em cima do tapete sobre o terreno... pés brancos com os dedos contraídos...corpo pálido, short preto com o símbolo branco da “adidas” já manchado de sangue, mãos fechadas em punho... Parecia ainda segurar sua arma de combate e o rosto... não... não tenho coragem de olhar para o rosto, acho que por medo,afinal, acabei de matar um homem!
...
Antes de jogá-lo na cova eu penso, “cães poderão sentir o cheiro dele, mesmo enterrado…” , olho para a entrada dos fundos da casa pensando, uma idéia me vem.
Então passo por cima do corpo e ando com os pés no chão de barro atravesso até porta para dentro da casa. Vou a cozinha, atravesso o balcão de pedra, agacho-me na frente do armário, seguro a pequena maçaneta redonda e puxo para abrir a porta, que faz um rangido.
Vejo várias latas e frascos, mas procuro dentro vários vidros, um só.
Dou um leve sorriso de satisfação ao afastar os outros frascos e ver aparecer o vidro que eu procurava, dava pra se ver o nome vermelho, iluminado por um facho de luz raro que vinha da sala, escrito: “Nescafé”.
...
Acho que vi em algum lugar, talvez um filme ou seriado, que o café é usado nas cenas de crime para tirar o cheiro de morte, talvez eu possa usar o cheiro forte que ele tem, para confundir o olfato de um possível cão que venha me encher.
Cruzando a casa em direção ao quintal, segurando o vidro de café, vou sem muito remorso e sinto um calafrio com isso, até parece que não foi o primeiro que morreu pelas minhas mãos, talvez não me tenha caído a ficha ainda, não tenho certeza.
Sinto o chão fofo agora nos sapatos, já estou no terreno barrento e tenho um corpo caído e estirado a minha frente, uma cova a frente dele, um vidro de café nas mãos, e uma pá. Ao trabalho.
Abro o pote que seguro, coloco um pouco de força na tampa, “por que será colocam tão apertados esses lacres?”, escuto um estalido do plástico rompendo e a tampa girando. Desenrosco e viro o pote de café deixando cair o pó por cima de todo o corpo, das pernas atá a cara dele, viro tudo que contêm no frasco e o cheiro forte de café sobe, “isso deve funcionar mesmo”.
Aproveito o plástico novo e tiro com cuidado a colagem de todas as extremidades do tapete, envolvendo o corpo com ele ao levar as pontas pro centro,
Enrolo todo o corpo, que deixa o envoltório internamente sujo de sangue morto e pó de café.
Já isolado do ambiente pela película, eu vou rolando ele até a cova preparada, e ele cai fazendo um baque pesado ao bater no fundo da cova. Agacho-me e pego a pá no chão para começar a recolocar o barro fechando o buraco, selando a cova dele.
...
“Mais um, outra… ah…” e finalmente termino de por a última pazada de terra na cova depois bato um pouco com a polpa da pá para deixar mais plano e mais firme o sepultamento.
finco a pá onde antes tinha um buraco e apoio todo o peso do meu corpo no cabo com meus braços cruzados.
Olho para a lua, é lua cheia... todo aquele brilho cúmplice de uma noite de assassinato, passo a vista no terreno plano de barro escuro, a sensação que eu tenho é de ter vários corpos já enterrados ali, mas isso deve ser apenas impressão. Mas eu fui justo não fui? Afinal ele estava invadindo a minha casa!
Mas posso até ter gostado... de sentir o sangue escorrendo e a vida indo junto, do poder da vitória em meus punhos.... deixo isso pra lá e desfinco a pá para esconder no meu armário de guardar cacarecos no quintal.
Vou para dentro da minha casa e desabo na minha cama para dormir e ver como será o dia amanhã.
...
Bem, pensei que naquele dia a ficha não havia caído, e não havia mesmo, afinal eu era uma pessoazinha normal com uma rotina normal que seguia o seu trabalho automaticamente, mas depois daquele dia não tem como eu ser o mesmo. Foi como se tivesse matado uma parte de mim ali, um pedaço de mim foi ali enterrado.
Nos dias seguintes, não houve notícia sobre desaparecidos ou algum policial veio visitar a minha casa, apenas eu tive de conviver com isso, o que torna mais fácil e terrivelmente torturante.
O peso sobre minhas costas, como se eu tivesse minha alma sendo dissolvida, entrei em uma depressão.
Meu rendimento no trabalho despencou e como nenhuma empresa quer um funcionário sem resultados, fui demitido.
Estou recebendo o meu seguro desemprego a alguns meses e já estou no ultimo mês dele, não paguei conta de luz, não paguei conta de nada, só minhas cervejas eu comprei, apenas isso.
...
No meio da casa de tarde, o sofá já ta até meio rasgado e o chão a semanas não é varrido “que se dane!”, eu vou mais é tomar o meu porre.
Fui até a geladeira e fiquei tomando cerveja com as mãos apoiadas ali na frente do balcão mesmo, olhando pra parede lisa da sala, não paguei minha TV e levaram ela daqui, na frente do sofá não tem mais nada além de uma grande tela branca.
Abro a geladeira e olho dentro, um engradado de cervejas, pego ele e aninho nos meus braços para levar até a sala.
Sento no sofá com o engradado nos meus pés e começo a beber, uma atrás da outra, até sentir tudo sumindo e o sono invadindo minha visão, desmaio ali mesmo.
...
Muito escuro quando abro meus olhos deitado no sofá, com uma dor de cabeça enorme, “maldita ressaca!”, Deixei a noite entrar em casa e ficar velando o meu sono sem eu nem perceber.
Sento-me no sofá, esfrego meus olhos com a ponta dos dedos e bufo... cheiro de álcool. Percebo meu peito nu e suado quando passo a minha mão nele, enquanto minha visão começa a se adaptar com as luzes apagadas.
Há apenas uma luz fraca, entrando por uma janelinha retangular sobre minha cabeça, e batendo na parede lisa e clara qual eu encaro ainda um pouco sonolento.
Alguma luminosidade também vem da porta, parece estar aberta, curioso... não sabia que havia deixado-a aberta antes de dormir.
Inclino a minha cabeça para frente e dou uma olhada além da porta aberta, nas luzes vindo dos postes... vejo uma silhueta se movendo ao pé da minha porta. Só consigo perceber que esta bem vestido e que segura algo como uma maleta. Não me preocupo, não me importo. Mas espero que não seja um daqueles vendedores, odeio vendedores.