Sórdido

A marca da boca ficou na caneca. Acabara de tomar seu café.

02:00. Insônia. Tirou o óculos. Coçou os olhos, apoiando a cabeça na mão esquerda. “Será que um dia terminará?”. Não aguentava mais, mas também não conseguia parar.

Tinha em mente, claro, todos os nomes das mulheres que havia matado. Tantas Júlias. Tantas Anas. Tantas Marianas. “Ah!”. Seus olhos se despertavam com um brilho muito, muito intenso.

06:00. Após uma série de pensamentos adormeceu ali mesmo, sentado, com o cheiro restante na caneca.

Ana dirigia completamente atenta. Sua casa estava próxima, mas acabara de lembrar: havia esquecido o vinho que seu marido pedira para o jantar.

Neblina. Frio. Umidade. Pegou o Bourgogne:”Espero que seja bom!”, ao sair da loja.

Com todo entusiasmo Alex degustava uma porção do molho de tomate. O macarrão estava quase pronto. “Mais 10 minutos.”.

Subiu as escadas e foi tomar um banho. “Ana já deve estar chegando.”, pensou.

Suas mãos frias condenavam o tempo naquela noite.

Dois meses de estudos sobre o casal.

A hora havia chegado.

A janela do quarto encontrava-se aberta, como previra.

Pulou com todo cuidado. Não podia sentir o chão. O silêncio era absoluto.

Não carregava equipamentos; ele mesmo era seu próprio objeto.

Quarto. Banheiro. Escadas. Sala. Enfim, cozinha.

“Assim fica melhor!”, sorriu maliciosamente e se camuflou na escuridão.

Apenas enxergava as velas na mesa.

“Amor?”, perguntou, acendendo as luzes da cozinha.

Ah! Como Ana estava linda. O cheiro do seu perfume tinha invadido toda casa, por assim dizer.

Magnífico!

A cada passo podia sentir a própria respiração, descompassada.

Pisava e não.

Ana virou-se.

Tinha de ser rápido.

“Estou indo, querida!”, disse ao começar a descer as escadas.

Num único golpe Ana caiu em seus braços, é claro.

“An...”

Não foi suficiente.

Como numa cruz. Nua. Boca amordaçada. As velas iluminavam.

Seus olhos adquiriram um brilho pesado e assustador.

Alex sentava-se, com as mãos e pernas amarradas, ainda zonzo.

- Que comece o espetáculo!, gritou, automaticamente o acordando.

- Olha!, o puxando pelos cabelos, esticando ao máximo sua cabeça.

- Gostosa, não? Pois é, vou fode-la todinha! e cuspiu em sua cara.

- Vai pro infer... , levou um soco.

- Seu psicótico nojento!Solta el... , levou três socos, o que fez com que seu nariz começasse a sangrar.

Examinava toda aquela beleza deitada: a excitação era tanta que nem sabia por onde começar.

- Uma música de fundo, por favor, hein?

- I’m singing in the rain... , a penetrou.

- … just singing in the rain… , um, dois, três,quatro, cinco tapas.

- …what a glorious feeling… , gozou dentro dela.

- … I’m happy again!, passeou com o pênis pelo corpo.

A brancura dos dentes estampava em seu rosto.

“Gostou?”

Alex nada poderia fazer. O ódio circulava ferozmente.

Uma lágrima caiu.

- Observe!, sorrindo perversamente.

Abriu uma exceção: pegou a faca mais afiada da cozinha, passeando pelo corpo.

- Aqui!, enfiou na barrig .

“Aaaaaaaaah!”, Ana gritou. Mesmo abafado foi o bastante para ser ouvido.

- Que tal cortar um, hein? arrancando um bico dos seios.

- E outro?

“Você é tão linda, sabia?”

O olhar de Ana era de dor e misericórdia.

- Sente isso?, contornando o pescoço com a faca.

- Só vai doer um pouquinho, tá? e rasgou a pele, sentindo o sangue espirrar em seu rosto.

Aproximou-se de Alex: - Estupendo, não?

- Eu vou te mat...

...

- Não, eu já o fiz!

Andava calmamente pela estrada.

Tragou o resto do Malboro Light.

O cheiro do sangue ainda o cobria.

“Será que um dia terminará?”

Não aguentava mais, mas também não conseguia parar.

Mariana Rufato
Enviado por Mariana Rufato em 16/10/2010
Reeditado em 25/11/2013
Código do texto: T2560242
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