Floresta Negra

Capítulo 1

O Hotel

Chegamos ao anoitecer, as ruas estavam desertas e silenciosas. Andamos um pouco, pois o hotel ficava próximo da estação:

- Sabine, deve ser aqui! - disse-me Anne em tom eufórico.

Mas eu não a escutei, as luzes me apresentavam a um novo mundo. Aquela bela arquitetura me divertia com seus encantos surreais:

- Vai ficar parada no meio da rua? - questionou-me Anne, começando a ficar impaciente.

Anne não costumava ser tão impaciente, entretanto, naquela noite ela estava realmente muito ansiosa, eu também, porém nossa maneira de apreciar aquele momento era diferente:

- Deve ter alguma campainha por aqui. - prosseguia Anne, tendo dificuldades para encontrar um campainha devido a iluminação muito fraca que vinha de uma lâmpada acima da porta.

Fazia muito frio, não era uma boa ideia ficar do lado de fora por muito tempo. Minha colega Anne me parecia um pouco atrapalhada com a situação, então resolvi ajudá-la:

- Anne, que tal isso? - dei três batidas na porta de madeira rústica.

Uma simpática senhora com cabelos negros e presos, um pouco acima do peso e com um sorriso amigável abriu a porta:

-Sejam bem-vindas, garotas, entrem por favor.

Nos encontrávamos em uma imensa e antiga casa, bem preservada, continha móveis e lustres antigos, certamente havia ocorrido uma longa restauração ali.

Entramos em uma agradável sala, largamos nossas malas e nos sentamos em confortáveis sofás floridos.

Uma outra mulher se aproximou, nos ofereceu alguns biscoitos e se retirou logo em seguida. Ela aparentava ter um gênio ruim.

Apresentou-se então, a amável senhora que nos recebeu, era Cláudia, a dona do hotel, irmã daquela outra mulher, a Isabel. Nos apresentamos também.

Escutamos algumas vozes vindas da entrada, alguém mais havia chegado, ouvimos passos indo em direção da porta de entrada, eram os passos de Isabel, o som esquisito causado pelo sapato dela não deixava dúvidas. Enquanto isso, prosseguia Cláudia:

- Então, o que as traz aqui?

- Precisamos de um lugar para ficar, vamos estudar em uma cidade vizinha, mas não conseguimos vaga lá. - expliquei à Cláudia.

- E pedimos desculpas pelo horário, por aqui vocês devem se retirar mais cedo. Não havia quase ninguém na rua, foi difícil conseguirmos informações. Primeiro não nos cadastraram como pedimos e acabamos perdendo a vaga, depois tivemos que procurar um lugar em outra cidade. Que bom que temos um final de semana pela frente, hoje foi um dia cheio de desventuras. - disse Anne, como sempre falando um pouco demais.

- Realmente estamos cansadas, esperamos que haja um quarto vago.

- Não se preocupem, aqui há lugar para todos. As noites são sempre muito silenciosas, são poucos os que se encorajam a sair a uma temperatura congelante como a que faz lá fora. Me acompanhem, vou mostrar o quarto para vocês, precisam descansar um pouco. O jantar é servido às oito horas, mas muitos só jantam às nove horas; se quiserem, hoje há uma deliciosa sopa.

No corredor, encontramos Isabel e dois rapazes com uma guitarra:

- Estes são Peter e Michael, também estudam no Greenyard University. Rapazes, por favor, ajudem com as malas.

Isabel saiu, Michael e Peter pegaram nossas malas, então, seguimos Cláudia até nosso quarto no segundo andar.

Talvez fosse a grandiosidade, o estilo ou talvez a situação em si, mas aquele momento foi arrepiante. Os sons eram de uma legítima cidade do campo, o frio era intenso, alguns sorrisos eram calorosos, porém estranhos. Sabíamos que aquela sensação não era de louca saudade pela cidade grande, músicas em último volume de dentro dos carros, pessoas gritando ou qualquer outra coisa que se possa encontrar em uma cidade com plena urbanização. Era como se tudo estivesse parado no tempo, mas alguém lá estava se movendo, rapidamente.

Tivemos sorte, nosso quarto ficava logo no primeiro corredor, bem no início. O corredor era imenso, e haviam outros como aquele, não abrigavam ratos, entretanto sempre se escutava sons vindos deles, sendo que em sua maioria estavam vazios.

Os rapazes deixaram nossas bagagens no quarto e seguiram pelo corredor. Cláudia falou sobre coisas importantes e fizemos algumas combinações, então ela se retirou:

- Aqui não é tão caro, - disse-me Anne – assim as passagens não se tornarão despesas preocupantes. Todavia, eu preferia passar a temporada em Weridian. Esse lugar parece ter sido esquecido pelo resto do mundo!

- É mesmo muito estranho, já que não estamos acostumadas, levaremos um certo tempo até nos adaptarmos. - falei.

Não sei se vou conseguir...

- Tudo é muito calmo, você não se sente bem com isso, mas podes tentar descansar um pouco?

- Vou tentar, talvez possamos encontrar algo interessante para fazer durante essa estada.

- Nesta cidade também podemos nos divertir muito. - falei, com voz indecisa.

Enquanto Anne desfazia algumas malas, fui tomar banho, e em seguida nos dirigimos à sala de jantar.

Andrea, uma professora de conversa muito agradável, nos convidou para a acompanharmos no jantar, então andamos até uma mesa localizada no centro da sala. Nesta mesa, também estavam presentes Sylvia, que era uma turista, e Sandra, que vestia um luxuoso casaco.

Capítulo 2

Na escuridão

Todas conversávamos como se fossemos velhas amigas. Andrea contou sobre seu trabalho na escola primária de Goldreen City, logo após, Sylvia fez um comentário sobre Maik, um fotógrafo que namorava a quase dois anos:

- Estou preocupada com o Maik.

-O que houve?

-Ele jantou mais cedo hoje?

- Eu o vi hoje apenas durante a manhã, mas ele me parecia muito bem.

- Sim, ele estava bem, mas ao entardecer ele disse estar cansado e foi se deitar, sua aparência não era boa.

- Talvez ele deva consultar um médico.

- Oh, sim. Mas ele sempre foi tão saudável, me preocupa o fato de estarmos longe de casa caso seja algo grave.

- Ninguém está imune a uma indisposição.

- Foi algo que ele comeu?

- Ele deve ter ficado muito tempo exposto ao frio excessivo.

Mas já fazem dois dias que ele não sai...

Deve ter cansado de tirar fotografias.

- Não se preocupe, amanhã mesmo telefonarei para um ótimo médico, desta cidade, ele virá logo.

Próximos de nossa mesa estavam Michael, Franz e Albert. Michael falava sobre um show que aconteceria dentro de duas semanas, enquanto Franz fazia comentários irônicos sobre estilos musicais. Os três jogavam cartas, e Albert se mantinha calado e concentrado no jogo, ele sempre vencia as partidas e nunca deixava de lado sua fama de ranzinza.

De repente, escutou-se um grito, seguido de um longo silêncio. Nos encontrávamos em plena escuridão:

- Quem apagou a luz? - questionou Franz, andando pelo local e batendo em algo a cada dois ou três passos. - Essa é a noite do jantar à luz de velas?

- Não toque nas minhas cartas! Isso tudo só porque eu estava ganhando! - reclamava Albert para Michael.

Cláudia apareceu segurando duas velas acesas:

Não achei as lanternas.

Andrea pegou uma das velas:

- Escutamos um grito vindo do segundo andar, aconteceu alguma coisa?

- Alguém deve ter levado um choque. - disse Michael.

- Preciso subir, Maik está lá em cima sozinho. - disse Sylvia, aflita.

Enquanto isso, Franz e Michael riam, Franz tinha quebrado um vaso de flor, e a água escorria para o chão:

- Talvez tenha luz lá fora, tem um poste de luz bem em frente a esta janela. - comentou Andrea.

- Se você iluminar, eu posso abrir. - falei, andando na direção de Andrea.

Abri a janela, então percebemos que lá fora, nos postes de luz e em outros locais havia luz, éramos os únicos na escuridão:

- A luz vinda de fora está ajudando um pouco, vou abrir esta janela aqui também.

- É realmente uma lua incrível, o que acham de um conto de terror? - comentou e questionou Sandra, empolgada com a ideia.

- Melhor me ajudarem com isso. - pediu Franz, apontando para os cacos de vidro.

- Franz e Michael, limpem essa sujeira. Quem está lá em cima? Não estou conseguindo encontrar Isabel. - disse Cláudia.

- Além do Maik, estão Peter e Isabel. - respondeu Sandra.

- Há algumas lanternas lá em cima, eu posso buscar. - informou Franz.

- Só aqui não há luz, será algum problema no registro geral, com fios ou ratos? - questionei.

- Certamente! - disse Albert – Tudo aqui está velho! - reclamava ele.

- Inclusive o senhor! - provocou Franz.

- Andrea, por favor, vá com Franz e Michael checar o registro de luz; há vários pela casa, o mais perto fica na sala ao lado. - pediu Cláudia.

- Vamos sim! - respondeu Andrea, enquanto ela, Michael e Franz se retiravam do recinto.

- Meninas, me acompanhem, vamos ver o que houve lá em cima. E o senhor, Albert, chega de jogar cartas por hoje, suba conosco. - falou Cláudia.

Subimos em fila indiana. Albert foi logo para seu quarto, e em seguida, encontramos Peter no corredor. Peter segurava uma lanterna e nos observava atentamente:

- O que houve Peter? - perguntou Sylvia.

- Eu não sei. Estava em meu quarto quando escutei o grito de Isabel. - respondeu Peter.

- Você está pálido. - comentou Anne.

- Você sabe onde ela está? - perguntei a ele.

- Não, não faço a mínima ideia, mas posso ajudar a procurá-la. - disse Peter.

- Sua ajuda será bem-vinda. - falou Cláudia.

- Cláudia, me empresta essa vela, preciso ver o Maik. - pediu Sylvia.

Cláudia entregou a vela para Sylvia, e Peter emprestou sua lanterna para Cláudia.

Estávamos em cinco, Anne, Cláudia, Peter, Sandra e eu. Naquele momento me surgiu uma dúvida, como Peter poderia ter tanta certeza de que aquele grito era de Isabel? Poderia até não ter sido dela, ou ele poderia tê-la visto. Não comentei nada a respeito, todavia passei a observá-lo mais atentamente.

Quando nos aproximávamos do fim do corredor, percebemos que havia um quarto cuja porta encontrava-se aberta. Pensamos que Isabel poderia estar lá, pois ela era a única cujo paradeira era desconhecido. Era o quarto do Franz. Cláudia seguia na frente, logo atrás íamos Anne e eu, e atrás de nós estavam Sandra e Peter. Foi dado mais um passo.

Capítulo 3

Suspeito

Finalmente entramos no quarto, que encontrava-se em total desordem. Escutamos algo vindo do fundo do quarto, então Cláudia explorou toda a área do quarto com a lanterna, revelando com o foco de luz, sua irmã; Isabel encontrava-se amordaçada próxima da janela. Todos a ajudaram e perguntaram o que havia acontecido.

Isabel tinha subido para verificar se o velho ranzinza, Albert, tinha todos os remédios que precisava; o coitado sofria muito e não tinha condições de se cuidar. Ela viu a luz do quarto do Franz ligada, como ela sabia que ele já havia descido, andou em direção ao quarto para desligá-la. Isabel parou de falar por um momento, ela ainda estava muito assustada, e sua irmã Cláudia muito nervosa. Isabel conseguiu se acalmar um pouco, então prosseguiu sua narração do que havia acontecido. Ela ainda não estava próxima o suficiente do quarto para saber o que acontecia lá dentro, a luz do quarto foi desligada, nesse momento ela teve certeza de que não estava sozinha.

Peter sugeriu descermos para podermos ver o que Andrea e os rapazes teriam descoberto:

- Peter, não interrompa Isabel! - reclamou Sandra, censurando-o.

- Talvez Isabel queira descer. - retrucou Peter.

- Encerrem esta discussão! - pediu Cláudia.

Peter encontrou uma lanterna no chão, ligou ela e se dirigiu à escada:

- Assim não há ninguém para atrapalhar. - comentou Sandra.

Naquele momento tive certeza de que Peter havia feito algo de errado:

- O que está havendo com ele? - perguntei.

- Estranha reação. - comentou Anne.

- Talvez ele esteja pensando em ajudar o pessoal lá embaixo, Peter é metido nessas coisas. - disse Cláudia.

- Isabel, você consegue continuar contando o que aconteceu? - questionou Sandra, enquanto Isabel nos observava em silêncio.

- Irmã, precisamos saber o que houve. - disse Cláudia, com muita calma, enquanto abraçava Isabel.

Com um olhar distante, Isabel parecia não estar entre nós enquanto falava, ela agia também de uma forma que demonstrava sua profunda indecisão. Por um momento pensei que Isabel sabia menos do que nós, mas logo essa ideia desapareceu de meus pensamentos.

Isabel contou então que, ao ver a luz ser desligada, ela caminhou mais rápido pelo corredor, citou o nome da irmã, pensando que talvez ela estivesse lá dentro, mas não houve resposta. Isabel entrou no quarto, porém não teve tempo nem para ligar a luz e ver o que estava acontecendo no quarto do Franz, alguém agiu mais rápido que ela:

- Foi um assalto? Precisamos colocar grades em todas as janelas! Não sei como eu não tinha pensado nisso antes, me desculpe Isabel... - falava Cláudia.

- Ladrões até por aqui? Bom era o tempo em que cidades pequenas como essa eram seguras. Minha mãe sempre contava-me que, quando a avó dela era pequena, sonhava em viver em uma cidade como esta; eu também pensava assim quando criança, mas a violência se espalha tão rápido. - disse Anne.

- Isso já aconteceu alguma outra vez aqui no hotel ou em alguma casa nas redondezas? - perguntei à Cláudia.

- Não, nunca mesmo. Aqui é tudo sempre tão calmo! - respondeu-me Cláudia, um pouco confusa.

- Isabel, o que aconteceu depois? O que você sabe é importante, por favor, tente nos contar. - pediu Sandra.

- Eu não sei, estava tudo escuro, fui amordaçada aqui, depois escutei alguns passos, mas logo tudo ficou em silêncio. - contou Isabel.

- Foi você que gritou, não foi? - perguntei à Isabel, que parecia estar voltando um pouco ao seu estado normal.

- Sim, gritei quando o homem apareceu, deve ter sido um homem, era muito forte, calou-me logo, devia ser um ladrão, não parecia querer ser descoberto. - disse Isabel.

- Todas as mulheres daqui parecem ser civilizadas, os homens também não me parecem capazes de algo ruim. - comentou Anne.

- Não pode ter sido um hóspede. - disse Cláudia.

- Alguém certamente entrou aqui. - falei.

- Ele deve ter saído por algum lugar... - dizia Anne.

- Ou ainda permanece aqui. - completei.

- O que Peter fazia aqui em cima? - questionou Sandra.

- Qualquer hóspede tem o direito de permanecer em seu quarto, onde você quer chegar com isso? - falou Cláudia.

- O Peter é estranho, não me agrada o modo dele agir perante a situação. - disse Sandra, pensativa.

- Ele é um rapaz muito estudioso, está sempre ajudando a professora Andrea em trabalhos, além de ser querido com todos, sinceramente não entendo o motivo de sua implicância com Peter. - falou Cláudia.

- Talvez seja assim mesmo, mas penso que essa situação não deixa de ser uma ótima oportunidade para provar quem ele é. - disse Sandra.

- Ao invés de culpar Peter por tudo, por que não focamos nosso objetivo no fugitivo? - perguntou Anne.

- Concordo com a Anne, é mais fácil descobrirmos o que houve se nos concentrarmos apenas no homem que amordaçou Isabel, se Peter é ou não ele, é o que descobriremos depois. - falei.

- E se ele fugir? - questionou Sandra.

- Quem? Peter? - perguntei.

- Peter deve estar lá embaixo com os outros. - falou Cláudia.

- Não seria melhor descermos? - questionou Anne.

Cláudia perguntou para Isabel se ela queria descer, mas ela preferiu ficar no segundo andar e descansar um pouco. Isabel foi para seu quarto:

- Acho que não é seguro deixar minha irmã sozinha. - disse Cláudia.

- Sylvia e Maik também estão aqui em cima.- comentou Anne.

- Vamos avisar a todos que ficarem aqui em cima para trancarem as portas. - falou Sandra.

Passamos pelo quarto do Albert, da Isabel e também no de Maik e Sylvia, todos os presentes no segundo andar já sabiam o que estava acontecendo e tinham trancado suas portas, então retornamos ao primeiro andar.

Se fosse ladrão e não estivesse hospedado no hotel, certamente o homem teria entrado pela janela do quarto, pois ela não estava trancada, apenas encostada, qualquer ventania poderia abri-la.

Ninguém me parecia ter perfil de ladrão, e Anne concordava comigo nisso. Sylvia e Maik eram só dois namorados que gostavam de fazer turismo. Franz e Michael eram dois amigos que estavam no hotel com um objetivo parecido com o que Anne e eu tínhamos, o de estudar na cidade vizinha. Andrea era uma professora ocupada, entretanto muito simpática, eu gostava muito de conversar com ela; Andrea vivia há bastante tempo na cidade, mas também era nova no hotel. Albert as vezes parecia apenas um enfeite do local, não fazia nada de útil, na maioria das vezes não fazia nada, era conhecido como o velho calado, ranzinza e invicto no jogo de cartas. Cláudia, a dona do hotel, era muito atenciosa, dedicada e não gostava de fofocas. A Sandra estava começando a me irritar, e as vezes eu ficava com pena do Peter, ela devia ter algum motivo inesperado, ele também me parecia suspeito, todavia o que havia entre os dois me parecia estranho. Peter, o atual suspeito, se Cláudia não fosse tão amigável certamente logo o teria acusado de amordaçar Isabel e mandado ele para a delegacia; por conseguinte Peter aparentava ser um bom rapaz.

Descemos, então luzes vieram em nossa direção, apareceu Andrea, que nos falou sobre um telefonema que ela havia feito, no dia seguinte alguém apareceria para resolver o problema com a iluminação do hotel.

Quanto ao suspeito, não descobrimos nada a respeito naquela noite, contamos tudo aos outros, mas ninguém chegou a uma conclusão lógica.

Capítulo 4

Com um convite

Quando acordei, como sempre um pouco tarde demais, Anne veio me contar o que acontecera na noite passada. Realmente a escuridão não foi coincidência, alguém tinha provocado aquilo. No corredor do segundo andar, certamente a mesma pessoa que amordaçou Isabel no quarto do Franz, teria desligado todas as luzes no registro, foi a essa conclusão que Anne e eu chegamos, e mais tarde, os outros concordaram.

Depois do café da manhã, Franz e Sylvia acompanharam Anne e eu em um passeio pela cidade, não demoramos muito, já que não havia muito a conhecer. No caminho de volta, encontramos Michael, ele nos acompanhou até o hotel, e chegando lá, nos fez um convite; Sandra estava na frente do hotel quando chegamos, ela também aceitou. Sylvia, ao perceber que Maik estava melhor, confirmou que ele também iria. Peter já sabia de tudo, quando chegamos ele contou tudo que planejara.

Seria naquela noite mesmo, oito parecia ser um número seguro de pessoas, eu não teria coragem de ir lá sozinha, passar a noite em uma floresta como aquela não era uma ideia muito comum para os moradores daquela região, nem para os raros visitantes.

Nos dividimos em dois grupos e definimos um local de encontro na floresta. O primeiro grupo sairia mais cedo, pois no segundo ficariam aqueles que ainda não estavam prontos, até Anne achar tudo de que precisava na mala, acho que o primeiro grupo já teria chegado e cansado de esperar.

No segundo grupo, eramos Anne, Michael e eu; saímos por volta das dez horas da noite.

Não fazia frio, porém quanto mais entrávamos na floresta, mais eu sentia arrepios.

Quando chegamos no local definido para encontro, alguns já estavam nos esperando, nos reunimos em um círculo ao redor de um lampião, mas não estavam todos presentes.

Fui até a barraca de Sandra, Anne foi comigo, lá ela nos contou que era prima de Peter e que achava que ele era o assassino do pai dela. Há dois anos estavam em busca do assassino, mas nem os familiares nem a polícia acreditavam que Peter poderia ter sido o responsável pelo envenenamento do pai de Sandra, somente ela acreditava nisso. Ela nos falou durante muito tempo sobre aquele acontecimento, o pai dela estava viajando, e no hotel em que ele se encontrava estavam também Peter e alguns amigos dele; naquela cidade não havia ninguém que fosse conhecido do pai de Sandra, com exceção de Peter, que estava no mesmo andar, mas que conseguira convencer aos policiais de que ele estava em uma festa durante o dia todo, sendo que o corpo envenenado fora descoberto por uma camareira apenas no início da noite, a camareira foi presa.

Depois dessa conversa, eu e Sandra saímos da barraca, me dirigi ao trio que se encontrava ao redor da fogueira, eram Maik, Peter e Michael. Sandra foi conversar com Sylvia. Estranhei o fato deles não estarem jogando cartas, falavam baixo demais, por isso demorei para entender sobre o que eles tanto falavam. Percebi que falavam de alguém conhecido, eles me pareciam saber muito sobre esse alguém, diziam que havia algo de errado com essa pessoa. Demonstravam certa preocupação em alguém saber que eles estavam desconfiados, todavia não me preocupei, imaginei que eles estavam falando aquilo por causa da situação, o clima de terror que aquela floresta causava era propício a pensamentos como aqueles.

Anne me chamou de volta para a barraca. Passou um pouco mais de uma hora, estávamos quase adormecendo quando algo nos chamou a atenção, Peter entrou em nossa barraca, e sem cerimônia, começou a falar e gesticular, ele não se fazia entender, então saímos da barraca, e Sandra nos explicou o que estava acontecendo.

Talvez fosse brincadeira ou passeio, todavia não foi nisso que pensamos, alguma coisa estava acontecendo. Anne disse que os outros poderiam estar perdidos, mas tínhamos combinado que ninguém se afastaria do grupo sem avisar.

Nos dividimos em duplas, eu e Sandra fomos pelo norte, Anne e Peter pelo sul.

Capítulo 5

Incapaz

Seguimos por um caminho de fácil passagem, a não ser pelas desconhecidas criaturas que habitavam boa parte dele. Após mais ou menos dez minutos de busca, encontramos Michael sentado em uma clareira, e com indiferença, ele passou a nos acompanhar na busca dos outros.

Escutamos passos que vinham lentamente em nossa direção, mas não conseguíamos ver o que realmente era aquilo que se aproximava. Paramos de andar e ficamos em silêncio, sem troca de olhares, todos olhavam fixo para o local em que pensávamos que apareceria o responsável pelos lentos passos.

Era ela, quem sempre me pareceu tão inocente, incapaz de tamanha crueldade, eu não estava sonhando, estava acontecendo o inesperado, inimaginável, não compreendíamos como aquilo poderia ter acontecido. Não teria sido ela, ela seria incapaz disso, mas eu não conseguia imaginar quem poderia tê-lo feito, eu só pensava em uma coisa: por favor amiga, diga-me que és incapaz de qualquer crueldade.

De suas mãos escorria sangue, estavam banhadas de sangue, em seu rosto, espanto, e algumas lágrimas acompanhadas de mais terror. Eu queria correr, por um momento tive vontade de ir embora e esquecer tudo aquilo, todavia já era tarde, muito tarde para partir, eu seria incapaz de sair sem saber o motivo daquilo , não me sentiria mais segura, pois não saberia quem seria o próximo, poderia ser eu, Anne ou qualquer outra pessoa, era imprevisível:

- O que você fez? - gritava Sandra, desesperada.

Mas ela não respondia, lágrimas escorriam de seu rosto, a noite esfriava cada vez mais rápido e Michael parecia um poco mais interessado na situação.

Pedi a Sandra que se acalma-se, então Sandra acompanhou ela de volta ao acampamento, eu quis continuar junto de Michael, para seguir rastro de sangue até o local de onde ela acabara de sair.

Eu nunca tinha imaginada algo parecido, não na minha frente, se não fosse a companhia do Michael não sei como eu poderia ter suportado aquele momento, após ver Sylvia com o sangue nas mãos, pude ver o próprio cadáver, não sabia mais qual o motivo de continuar aquela noite naquele lugar. Ver Franz morto foi insuportável.

Fiz uma rápida análise da situação, estávamos Michael e eu diante do cadáver do Franz, Sylvia e Sandra já deviam estar de volta ao acampamento, Peter e Anne estariam em algum lugar procurando os outros, mas não sabia onde Maik poderia estar.

Michael demonstrou-se calmo e tentou usar o celular, porém não obteve sucesso, o celular estava fora da área de cobertura. Pensamos por um bom tempo, não conseguiríamos carregar sozinhos o corpo de Franz até o acampamento. Então Peter e Anne apareceram, eles contaram que tinham voltado ao acampamento e conversado com Sandra, depois disso eles resolveram nos encontrar para saber o que teríamos encontrado. Os dois também se assustaram, abracei Anne para tentar acalmá-la.

Juntos conseguimos carregar o cadáver de Franz até o acampamento.

Chegando lá, Sylvia e Sandra já estavam dormindo, fomos dormir também, pois todos estavam muito cansados e abalados.

Quando acordamos, todos arrumaram suas coisas, era hora de voltar. Sylvia não falava muito e a maioria estava contra ela. Os rapazes foram buscar o corpo, mas o cadáver não estava mais lá, alguém o havia pego. Voltamos mesmo assim ao hotel, deixamos nossas coisas lá e depois fomos até a delegacia, e Sylvia, sem dizer uma palavra, nos acompanhou por livre arbítrio.

Sylvia não quis falar na presença de todos, ela ficou lá, e o resto do grupo voltou ao hotel. Mais tarde Sylvia também voltou, com o mesmo ar sombrio. Fui conversar com ela, e depois de muito tampo consegui convencê-la e me contar o que havia acontecido, ou pelo menos, pedi que ela me falasse o que tinha dito na delegacia. Ela falava com razão, todavia eu quase não acreditei, mas ela não estava mesmo mentindo, conseguiu ao menos me convencer naquele momento. O assassino era o Maik, que por pensar que Franz era amante de Sylva, havia o assassinado.

No dia seguinte, a polícia esteve no hotel, haviam encontrado no corpo de Franz as digitais de Sylvia, Peter, Maik e Michael. Peter e Maik obviamente teriam encostado no corpo, pois tinham o carregado até o acampamento, Sylvia tinha dito que suas digitais eram de quando ela, ao encontrar o corpo enquanto procurava por Maik, ela havia se desesperado e em meio a uma forte crise ela teria tentado reanimar Franz. Porém Maik não tinha nenhum álibi melhor do que o dos outros, ele simplesmente não estava lá durante a busca, ninguém teria visto Michael, apenas na manhã seguinte, após o assassinato. Franz tinha sido morto com uma faca, que tinha sido encontrada pelos policias, mas que não tinha nenhuma digital, apenas sangue, o assassino havia sido esperto.

Capítulo 6

Assassino

Passamos por uma desagradável semana, depoimentos, investigações, e mais uma morte.

Os policiais investigavam o hotel, quando encontraram o cadáver de Sandra. Ainda era dia, mas a última vez em que ela havia sido vista tinha sido naquela manhã, ela tinha discutido com Maik, antes da discussão ela havia me contado que tinha levado Sylvia em seu carro, Sylvia estava escondida em uma casa um pouco próxima do hotel, entretanto ninguém mais sabia do paradeiro dela. Todavia, agora Sandra estava morta, e eu não sabia se Maik teria ou não conseguido forçar Sandra a revelar onde Sylvia estava.

Maik havia perdido totalmente o controle, mas a polícia afirmava ainda não ter provas suficientes para tomar qualquer decisão em relação a prisão. O que restava era esperar mais notícias sobre o cadáver de Sandra, era certo que Maik a teria assassinado.

Fui até a casa onde estava Sylvia, bati na porta e Maik me recebeu, fiquei paralisada, ele não devia estar ali, e talvez eu também não.

Maik foi educado, me convidou para entrar, eu não queria, mas minha curiosidade foi mais forte, entrei na casa, ele me pediu para sentar e perguntou se eu queria beber alguma coisa, eu recusei e agradeci. Eu não sabia o que dizer, queria muito saber do paradeiro de Sylvia, mas tinha medo de tocar no assunto. Deixei que Maik falasse, então ele começou a caminhar ao redor da sala, e com um simpático sorriso me perguntou se eu não queria saber como estava Sylvia e disse também que ela estava um pouco indisposta. Eu respondi calmamente que estava preocupada com a Sylvia pois ela estava muito estranha, quando eu terminei de falar ele me observou por mais cinco segundos, e depois me pediu para acompanhá-lo dizendo que eu poderia ver Sylvia. Entrei em outra sala, Maik disse que Sylvia estava lá e que ele nos deixaria a sós para podermos conversar; Maik saiu, então caminhei até Sylvia, que estava deitada em um sofá na outra ponta daquela grande sala. Meu coração acelerou, Sylvia estava morta, me virei, por conseguinte Maik havia chaveado a porta e naquela sala não haviam janelas, a luz foi desligada, e minutos depois escutei o som do carro dele indo em bora, Maik havia armado uma emboscada.

Gee
Enviado por Gee em 06/10/2010
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