Um suicida frustrado

SUICIDA FRUSTRADO

Benedito era um desses trabalhadores diaristas que costumamos chamar de “bóia fria”. Morava com sua família de oito filhos, próximo à cidade. A situação para Benedito e sua mulher Zelinha não era fácil. Para tratar de tanta gente, o dinheiro não dava.

Mas Zelinha era obstinada. Como uma gata preocupada com seus filhotes, saía de sua casa há cinco quilômetros da cidade para fazer uma faxina e lavar roupa. Sempre ganhava roupa, sapato, alimentos, remédio para os filhos e até para seu marido.

Certa vez, do dinheiro que na semana, sobrou um pouco que deu para fazer uma fezinha na Casa Lotérica. Como era muito tímida, pediu a alguém para comprar-lhe um bilhete. Era final de ano e o bilhete poderia ser o grande Papai Noel de sua família. Se assim o fosse, as coisas iriam melhorar.

Guardou o bilhete e esperou o dia da sorte. Quando chegou o domingo, dia de conferir o bilhete, Zelinha estava muito ocupada e pediu ao seu marido Benedito para conferí-lo.

Bendito tinha um problema: gostava de tomar uns goles. Quando dava vontade, se não tivesse dinheiro, vendia até as cuecas para conseguí-lo.

Benedito foi cumprir o pedido da mulher. Pegou o bilhete que Zelinha comprara com dificuldade e foi à casa Lotérica com o intuito de conferí-lo, mas no caminho, deu com aquele grupo de amigos de fims-de-semana, das farrinhas de sábado. Foi aquela cachaçada.

Depois,do tira-gosto e mais umas bebidinhas, a conta ficou além da capacidade financeira de Bené. A única coisa que ele tinha no bolso era o bilhete, e foi o que ofereceu para saldar sua parte. No final, ainda sobraram uns trocados.

Benedito ficou bêbado e com medo das conseqüências de seus atos, ficou até mais tarde na rua; só chegaria em casa quando sua mulher não estivesse lá. Só que Bené ficou sabendo que o bilhete havia sido premiado. Era muito dinheiro. Daria para resolver todos os seus problemas: casa, comida farta, escolas, roupas, passeio e uma infinidade de coisas que a família jamais sonhara.

O pobre Benedito ficou sem saber o que fazer. Cheio de pinga, sua cabeça ficou emaranhada de coisas estranhas. O drama de sua consciência levou-o a tomar uma atitude desesperada: - O suicídio. Mas de que maneira? Saltar de uma ponte? Jogar-se debaixo de um carro? Não, não era esse o melhor meio. De volta para casa, com idéia fixa, no meio do caminho, pensou: “ Preciso de uma corda, uma lata de veneno e um revólver, este último, roubo do meu vizinho Joaquim”.

Assim o fez; de posse do arsenal, procurou um local adequado para pôr fim a sua vida.

Na fazenda passava um rio tortuoso, com muitas árvores em suas margens e muitos galhos caindo para dentro do leito. Lá na curva, uma figueira e um poço bem fundo, bem escuro. “ Este é lugar, exclamou”! Sem perder muito tempo, Benedito subiu na figueira, escolheu o galho, amarrou a corda, fez o laço fatal, passou pelo pescoço; com uma das mãos, segurou a lata de veneno e na direita, o revólver.

Abriu a lata com os dentes e colocou o veneno na boca,(formicida tatu, mata na hora) mas aí, arrependeu-se. Ficou tonto, caiu do galho, a corda apertou seu pescoço; com o revólver, ainda na mão, deu um tiro certeiro na corda, que arrebentou. Caiu no rio, bebeu muita água, vomitou tudo e se salvou.

Os amigos que tinham comprado o bilhete ficaram com pena de Bené pelo que ocorreu e resolveram dividir o dinheiro em partes iguais. Assim, o Bené e sua família tiveram um Natal feliz, com peru assado, roupas, sapatos e até caderneta de poupança.

ateleszimerer
Enviado por ateleszimerer em 01/10/2010
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