Ladrão descuidado.
LADRÃO DESCUIDADO
Um conto na beira de um fogão a lenha num dia frio
Teodomiro era um comerciante bem sucedido nos seus negócios. Tinha uma venda de “secos e molhados”, uma tropa com dez burros, uma pequena propriedade. Tudo isso lhe rendia um bom dinheiro. Morava num vilarejo típico, daqueles do Vale do Jequitinhonha de Minas Gerais. De vez em quando, ia até a cidade próxima, distante trinta quilômetros, vender sua produção: toucinho, couro de boi curtido, fumo, feijão, arroz e outros produtos que comprava dos amigos.
Certo dia, Teodomiro abateu uns vinte capados, daqueles gordos, - dez arrobas cada um. Preparou a tropa e foi até a feira da cidade, naquele sábado, fazer negócio. Conseguiu, no final do dia, apurar com sua mercadoria, quatrocentos e oitenta mil réis.
De volta para casa, feliz com aquele dinheirão no bolso e já fazendo novos planos, não percebeu que estava sendo seguido, desde que deixara o mercado.
Andava montado em sua mula preferida, devagar e sempre, sem muita preocupação. O seguidor, um maltrapilho que se encontrava no mercado, também montava um cavalo, não tão bom quanto a mula do Teodomiro, mas dava para seguí-lo muito bem. O ladrão esperava o momento de atacar.
A noite já ia caindo... quando Teodomiro, distraído, passava por um estreito, próximo de um barranco, um vulto pulou a sua frente. A mula empacou. O vulto se materializou numa figura mal vestida e sedenta de alguma coisa que Teodomiro levava com muito cuidado. Nisso, sacou de uma garrucha velha e apontou para o comerciante:
- Êpa moço, pare aí mesmo, ordenou o ladrão.
Teodomiro parou. Assustado, mas sem medo.
- Vai descendo dessa mula devagarinho.
Teodomiro, desceu sem oferecer qualquer resistência.
- Agora, vai passando seu “alforje ” para cá.
O comerciante fez o que lhe pediu.
Teodomiro, naquele instante, pensou: todo o seu dinheiro de quase seis meses, ser levado por um maltrapilho. Como ficaria sua situação daí em diante?
O bandido, com o alforje em seu poder, e de arma apontada para Teodomiro, passou rapidamente todo o dinheiro para o seu bolso. Teodomiro, assistiu a tudo sem poder fazer nada.
Não satisfeito com aquele roubo, o ladrão ordenou?
- Agora, tire a roupa e jogue-a para cá. – Tirando a roupa, Teodomiro jogou-a para o assaltante. Este, imediatamente, trocou de roupa, pegou o cavalo e sumiu na escuridão.
Só e de cueca, não restou a Teodomiro outra alternativa, senão pegar as roupas do maltrapilho e vestí-las. Foi embora com raiva, mais pobre e muito triste.
Chegando em casa, quando sua mulher o viu, levou um susto.
Teodomiro contou tudo...
Nisso, tirou os andrajos, tomou um banho e foi tomar um trago.
Sua mulher, como sempre o fizera, foi arrumar o banheiro e viu aquela roupa no chão. Pegou-a para jogar no lixo, mas, de repente, notou um volume num dos bolsos. Olhou direito e tomou um susto:
- Teodomiro, vem depressa. Veja o que achei? .
- A mulher havia encontrado todo o dinheiro que o ladrão havia roubado nos andrajos do maltrapilho.
Teodomiro soltou uma exclamação de alegria por não ter perdido aquele dinheiro que lhe tinha custado tanto suor.
E ainda comemoram com frango a molho pardo, angu e quiabo (tradição mineira).