Sensação

Toda vez que dobro a avenida Fausto Silva com a Mercado de Ferro, vejo sempre aquele mesmo mesmo vulto, vindo ao meu encalçe. Tudo bem posso até estar delirando, mas não é a primeira vez que tenho essa sensação. Viro meu corpo bruscamente para tentar pega-lo de surpresa, mas apenas sinto um vento com fortes chuvisco em minha pele pálida pelo frio.

Com o mal tempo, a calçada fica praticamente vazia por pedestres e ocupadas por poças de aguás sujas, e apenas carros e mais carros transitando sem parar pelas ruas.

Sigo adiante em minha jornada rumo ao meu serviço, começo a apertar meus passos pois a chuva está aumentando e estou sem guarda-chuva, mal dia, mal dia. Meus ossos doem enquanto meus pés congelam em meu all star coberto pelas poças d´água, estou quase sendo derrotado pelo meu medo daquelas sensações de perseguição, sinto vontade gritar, correr, de morrer que sabe. Tenho um pressentimento além do extraordinário, sinto a morte me chamando. Já não consigo sentir meus pés, concentro toda minha força em meus medos, minhas lembranças. Droga! Deveria ter ligado para meus pais, dizer como eu amo eles, como eu queria pedir perdão pelos meus erroas a minha ex-namorada, assumir minhas infantilidades, de não ligar pros sentimentos dela.

Quando acordo de meus pensamentos me vejo diante de um carro em alta velocidade em minha direção, um gol me acertou em cheio no abdomen, caio há uns 3/4 metros dali, com meu corpo vagamente dolorido e latejante. Desvio meus últimos olhares para o final da avenida, e enchergo aquele vulto que perseguira-me há tempos: realmente, minhas sensações estavam corretas...