O doce sabor da vingança

Meus passos foram ficando cada vez mais lentos assim que fui me aproximando do ponto. A escuridão, de alguma forma, sempre me assustou.

O único som vinha da minha própria respiração e dos carros passando na pista.

O relógio acabara de marcar 21:25, então meu ônibus deveria chegar no máximo em dez minutos.

“Mais dez minutos só, aguenta firme!”, falei para mim mesma.

Uma rajada de vento bateu congelando meu rosto, causando um arrepio momentâneo tão... perturbador.

Olhei para o lado direito: vazio; esquerdo: vazio; frente: vazio; atrás: ...

“Uma morte bem lenta!”.

Como sou perverso. Gosto de ver o sofrimento estampado no rosto das pessoas. É uma mania, digamos, minha terapia. Me excita.

Coloquei meu gorro. Um frio especial para esta noite. Como adoro.

Meus passos deduravam minha presença na estrada monótona. Tão que já pensava em desistir. Quando... uma figura interessantíssima tomou conta do meu olhar. Ah, eu fiquei em êxtase.

As formas de inocência, nossa.

Preciso me planejar...

Para minha surpresa, quando me virei senti uma mão na minha cintura; a outra tapava meu nariz com algo que me fez apagar.

A única lembrança: estava sendo carregada. Eu sentia mas não conseguia me mover. O sentimento era tão... humilhante.

“Como você pesa, hein!”

Subir aquela trilha com uns 60 kg nas costas foi difícil.

Mas todo esforço valeria a pena e como!

Sorri ao ver a pista iluminada com a vida da lua.

Vida. Ambiguidade: amo e odeio a palavra.

Como de esperado meus equipamentos estavam exatamente aonde pusera mais cedo.

Deitei aquela gracinha na grama.

Estava excitado a ponto de explodir.

Abri os olhos com certa dificuldade. “Aonde estava?”, indaguei.

Quando a nitidez veio à tona meu coração faltou saltar da boca: eu sentava numa cadeira (com cordas me prendendo desde as pernas até o braço); do lado esquerdo uma corda de aço amarrada na parte de ferro do acostamento; do lado direito a mesma corda, mas amarrada numa árvore.

- Meu amor, está confortável aí? Sabia que você fica linda assim, toda exposta?

- Socorro! Seu filho da pu...

- Não adianta gritar, docinho. Ninguém te ouvirá nessa hora da madrugada.

- Socorro!Socorro!Socorro!

- Bom, digamos... nenhum veículo se aproximando... ainda. Mas, de acordo com meus cálculos, você sabe, né. Já já!

O ódio estampado nos olhos daquele lunático me fez tremer.

Eu sabia que iria morrer.

- Ah, está vindo. Adeus, gracinha. Foi ótimo te conhecer, viu.

Pude sentir um farol tomando conta de meu corpo. Tinha completa noção do que viria a seguir...

- Vai!Vai!Vai!

Meus olhos brilharam a cada metro que sentia a aproximação.

Mas, calma. Alguma coisa estava errada.

Fechei os olhos com toda força que ainda me restava.

Iria morrer.

Que fosse rápido.

Foi então que o som das freadas quase inundaram meu ouvido.

Por entre meus olhos eu via a luz.

- Não!Não pode ser!

Por um milagre o motorista me soltou e amarrou aquele lunático.

Não se assustem.

Estou bem, viva.

Adivinhem?

Agora me encontro numa sala.

Eu. O lunático.

E ele morrerá daqui alguns minutos.

Que sentimento gostoso, hein: o doce sabor da vingança.

Mariana Rufato
Enviado por Mariana Rufato em 27/09/2010
Reeditado em 14/05/2013
Código do texto: T2522571
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