MINHA PRIMA DIANA

Veio por acaso, assim como se foi. Como num piscar de olho, ela estava diante dos meus olhos, presente nos meus pensamentos e grudado feito tatuagem no meu peito.

Quantas noites passei em claro, tentando entende-la? Procurando nos sonhos uma explicação que na vida real eu não conseguia discerni. Aquela mulher foi um mistério pra mim. Chegou e partiu misteriosa. Deixando em seu caminho um enigma insolúvel.

Às vezes, paro pra pensar. Será que tudo não passou de um sonho? Uma fantasia criada e desenvolvida pela minha mente? Não, ela existiu. Ainda existe. E a cada dia cresce mais ainda. Como uma pequena luz num vácuo. Não precisei buscá-la. Ela que veio ao meu encontro.

Um dia, depois de um longo e cansativo dia de muito trabalho numa lojinha de confecção na qual faço sociedade com um amigo, eu voltava para casa mais cedo. Cheguei na garagem para guardar o meu carro e percebi que o espaço lá já estava preenchido por outro.

Estranhei. Minha mulher não tinha carro... E muito menos condição de comprar um. Deixei me levar pela curiosidade e entrei.

Antes de entrar, bati na porta algumas vezes. Ouvi vozes, gargalhadas e um som de uma música que tocava alto. Desconfiado com aquilo tudo, empurrei a porta e entrei.

Levei um susto quando encontrei minha esposa deitada no sofá em companhia de outra mulher com um copo de vinho na mão. Essa tal mulher, quando me viu, pulou no meu pescoço, demonstrando saudade:

— Oi, Fernando, há quanto tempo! Pensei que nunca mais a gente iria se ver.

— Quem é você? — Fui logo perguntando, não entendendo nada.

— Você não está lembrado de mim? Eu mudei tanto assim?

— Eu nunca vi você na minha vida — Fui sincero.

— Sou a prima da Márcia. Eu estava presente quando vocês se casaram, lembra-se?

— Não.

Realmente eu não me lembrava. Nunca tinha visto aquela mulher na minha vida. Eu que me lembrava de todos os convidados. Fui eu que organizei os convites pessoalmente.

— Não me lembro de ter convidado você.

— Ah! Eu não recebi convite realmente — Disse ela, afastando-se.— Apareci na última hora.

— Como você se chama? — Perguntei.

— Diana — Ela respondeu num sorriso — Fui a melhor amiga de sua esposa quando menina. A gente fez colegial junta.

Era estranho. Márcia, minha esposa, nunca havia falado nada sobre ela. E o mais importante, sua família era seu tesouro. Seus amigos eram inesquecíveis. E essa tal Diana fazia parte das duas relações: família e amizade. Afinal, era sua prima e amiga de infância.

Caminhei até o sofá, onde minha esposa estava e percebi que ela já estava dormindo. Cheguei mais perto e alisei os cabelos dela.

— Márcia, meu amor, acorde!

Ela abriu um pouco os olhos e resmungou algumas palavras incompreensíveis. Senti um cheiro muito forte de álcool na sua boca e olhei bravo para a prima dela.

— O que você fez com ela?

— Nada. Ela só quis esvaziar alguns litros de vinho que estava guardado por aí. Como nos velhos tempos...

Aqueles vinhos estavam guardados há mais de dez anos. Foram sobra de um jantar que fizemos para comemorar um ano de casamento. E o que mais me intrigava era que a Márcia não bebia. Quando saíamos para jantar fora, ela deixava sua bebida intocável. E quando bebia, não passava do primeiro gole.

Aquela situação estava me enlouquecendo. Peguei a Márcia no colo e levei-a pro quarto. Voltei para despedir-me de Diana e encontrei-a já dormindo no sofá. O que eu não havia percebido no começa era que ela usava uma saia curta deixando as belas pernas bronzeadas de fora. Fiquei paralisado com a cena que vi. Ela dormia de bruços, deixando aparecer às partes do seu corpo.

Fiquei sem saber o que fazer quando ela abriu os olhos e sorriu. Acho que foi da minha cara patética, olhando para as pernas dela.

— Oi Fernando! — Disse ela.

Abaixei os olhos, envergonhado.

— Oi... Eu queria, quer dizer... — Gaguejei.

Ela me olhou de uma maneira curiosa e sedutora como se quisesse dizer alguma coisa também. Achei melhor sair dali, se não quisesse trair minha esposa.

— Boa noite!

Esperei-a responder e saí quase correndo.

No outro dia, quando acordei, ouvi um barulho de água escorrendo no chuveiro. Logo pensei que seria Márcia, a minha esposa. Ela costumava levantar cedo e tomar um banho antes de começar o dia. Olhei em volta e vi que não era ela. Pois ainda dormia sob efeito da noite anterior. Levantei devagarzinho para não acordá-la e fui espiar quem era.

Na minha casa havia dois banheiros. Um em baixo, que a gente deixava para os visitantes, e outro lá em cima no meu quarto. O de baixo, a gente quase não usava, pois, não era ligado à rede elétrica e a água era fria. Uma das coisas que minha esposa mais detestava era que algum intruso usasse nosso banheiro lá em cima. Quando chegava um visitante, ela logo indicava o banheiro de baixo. Por isso, fiquei curioso com alguém em nosso banheiro aquela manhã.

Aproximei-me do vidro que separava o banheiro do quarto e comecei a observar a linda figura que tomava banho, que não podia ser outra senão a nossa prima Diana. Nunca imaginei que aquela mulher fosse tão atraente. Ela estava nua. Seus cabelos negros e molhados estavam grudados na pele morena e sensual. Tudo nela era perfeito e bem detalhado. Fiquei tão encantado com aquela mulher que nem percebi quando ela terminou de tomar banho e vinha em minha direção. Não tive nem como disfarçar.

— Oi, Fernando! Ela se enxugava na minha presença como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Oi... — Não dava pra esconder o quanto eu estava nervoso.

— Eu tentei me apressar — ela continuou— porque vi você aqui atrás do boxe... e imaginei que você estava esperando eu sair para entrar... — Ela me olhava de maneira divertida.

Droga! Eu tinha me esquecido que o banheiro lá era dividido por boxe e ela tinha me visto o tempo todo. Estava me sentindo como um adolescente travesso.

— O que faz aqui? —Perguntei.

— Tomando banho, oras! Quem é que consegue tomar banho frio logo de manhã, em pleno inverno?

Ela se referia ao banheiro de baixo.

— A Márcia não te avisou? Ela detesta que alguém tome banho nesse banheiro, a não ser nós da família.

— Ela não deve ligar — Respondeu-me segura de si — Afinal, eu também sou da família.

Eu não disse mais nada. Abaixei os olhos e fiquei olhando para o contorno do corpo dela. Um desejo incontrolável me tomou. Uma coisa estranha que nunca senti com ninguém. Olhei pra minha esposa, que dormia como antes, e em seguida pra Diana, percebi um brilho nos olhos dela. Um brilho malicioso que eu nunca notei em alguém. Ela me puxou pelo braço e me beijou.

— Desculpe! – Disse ela, me olhando nos olhos – Eu não ia conseguir ir embora se não fizesse isso...

— Ir embora? – Repeti, decepcionado.

— É estou de saída. Eu só estava pernoitando aqui – Olhou para a prima na cama ao lado. – Diz adeus pra Márcia por mim. Fala que não pude esperá-la acordar...

Não deixei ela terminar de falar. Agora quem a beijou fui eu, puxei-a para dentro do banheiro, liguei o chuveiro e fechei o boxe...

Mais tarde minha esposa acordou. Eu já estava do lado dela. Um sentimento de culpa, de traição, que eu nunca havia sentido me tomou a consciência. Nunca, nem em pensamento, eu traí a Márcia. Aquela mulher foi uma tentação. Um pecado, em forma de mulher, que veio me tentar. Senti-me um fracasso. Um traidor que não merecia o perdão da mulher que amava. Iria contar pra ela. Quem sabe assim, tiraria aquele peso da minha consciência? Ela poderia julgar se eu merecia seu perdão ou não. Podia ser que fosse sua escolha, eu saberia respeitar.

Ela acordou com a mão na cabeça, insinuando muita dor. Olhou pra mim e disse:

— Ai! O que aconteceu? Parece que minha cabeça foi pisoteada por mil elefantes.

— É, você exagerou ontem.

— Exagerei o quê, meu amor? _Perguntou dirigindo-se para o banheiro.

Fui atrás. Achei que seria o momento de abrir o jogo.

— Naquele vinho ontem com a Diana.

— Com quem? Ela olhou pra mim, surpresa.

— Ah, você não se lembra? Sua prima Diana, Márcia. Aquela mulher não merece sua confiança. Você não vai acreditar! Mas... ela me seduziu, me beijou, e... Ah! Meu Deus! Eu não pude resistir, meu amor. Caí em tentação... pode me mandar embora. Eu vou entender...

Ela me encarava com uma expressão divertida.

— Você andou bebendo mais que eu. Não tenho prima nenhuma com esse nome.

— Não, meu amor, eu não bebi nada.

— O que aconteceu ontem aqui? Eu lembro que tomei aquele vinho com você e...

— Não foi comigo Márcia, foi com a Diana.—Comecei a me sentir ridículo.

Ela me abraçou e beijou meu pescoço.

— Então cadê a Diana? Me mostra – Ela me encarou, séria.

— Já foi embora, pediu desculpas...

— Você realmente não está bem. Quantas vezes falei pra você não exagerar no vinho durante, meu bem? Agora fica contando os sonhos eróticos que teve durante a noite.

Fiquei calado. Sabia que não foi um sonho. Aquilo foi real. Pela primeira vez na vida, eu trai a minha esposa. O pior era que ela não acreditava em mim. Fazer o quê, se foi ela que encheu a cara?...

Leandro Flores Bahia
Enviado por Leandro Flores Bahia em 25/09/2010
Código do texto: T2518954
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