Amantes da Língua
Era um casal perfeito. Ele, linguísta. Ela, escritora. Os dois se completavam e se deram bem logo de cara, ainda na universidade. Cada qual era brilhante de seu jeito. Diego conhecia e sabia como se comportavam a maioria das línguas do planeta. Diziam que seu conhecimento linguístico deixava Chomsky no chinelo... Saussure, então, nem se fala!
Já Dee Dee, tinha um estilo incrível de escrita. Seus textos eram muito complexos e tinham interpretações diversas. Alguns críticos a consideravam a maior escritora do mundo contemporâneo, o que nem é tão promissor assim.
Bom o fato é que, para onde esse casal ia, toda a elite pseudointelectual do lugar os queria. Eram convites e mais convites para festas na casa de Cicrano, jantares na casa de Beltrano... Mas, o que eles gostavam mesmo era de um cabaré. Literalmente.Os dois se deleitavam no mar da promiscuidade. Amavam conversar – e fazer outras coisas – com as garotas e garotos de programa. Não importavam-se com cor, etnia, nacionalidade. O que valia era o sexo. Dentre outras coisas...
Dessa vez estavam em uma de suas muitas casas na cidade. O termo “suruba” pode ser usado para definir o que faziam. O chalé onde estavam tinha isolamento acústico, o que era perfeito. As pessoas tendem a gritar com eles. Diego estava escrevendo na mesinha do quarto, enquanto um negro se deliciava, dando-lhe um banho de língua. Dee Dee estava brincando com uma mulata e um garoto aparentemente judeu.
Quando as preliminares acabam, Dee Dee e Diego levataram-se e pediram que seus acompanhantes deitassem na cama. O grupo obedeceu de bom grado. O casal pegou uma grande bolsa e tirou de dentro algumas agulhas.
– Agora sim, disse o grande negro, a brincadeira vai ficar boa!
Dee Dee pegou a seringa. Os que estavam deitados achavam que ela iria injetar algum “bagulho” para eles ficarem “doidão”. Os três ficaram sonolentos. Os olhos bem pesados. Tudo parecia um borrão.
Quando acordaram estavam os três amarrados em macas, com fitas de couro. Na bancada do quartinho mal iluminado estavam dispostos objetos metálicos de aparência nada agradável. Dhore foi a primeira a entender, mais ou menos, o que lhes cercava. Assustada, tentou falar. Alguma coisa mantinha sua boca aberta.
– Vejo que acordaram – disse Dee Dee – não tem problema, quanto mais gritos maiores as chances do ritual dar certo!
Os dois homens voltaram a si. Tentaram, em vão, se mexer, mas as amarras estavam muito firmes. Trabalho de profissionais, mesmo. Dee Dee andou entre as macas, como que escolhendo quem usaria primeiro.
– Diego, você prefere o negro ou a menina?
Diego, pegando o bisturi, voltou-se para a menina.
– Eu fico com ela – disse com doçura – sempre gostei de negras.
– Eu sei – falou Dee Dee – Foi por isso que casastes comigo!
A garota urrava. Bem que sua mãe falou para não sair para aquelas bandas da cidade. Sua mãe também falou para se guardar para o casamento e que lésbicas fediam. Ela ignorou também esses conselhos.
Diego aproximou o bisturi da lingua da garota e encostou a ponta na veia mais saliente. Ignorando os gritos – ou tentativa destes – da garota, levou seu rosto mais para perto, quase tocando na lingua ensaguentada. Com a sua propria lingua em riste, começou a lamber todo o sangue da garota.
Enquanto isso, Dee Dee aproximou-se dos garotos. Ah, a expressão deles a deixava tão excitada! O medo que os homens sentiam dela, nessa hora, a levava bem próximo de um orgasmo... Como já estava excitada, decidiu brincar com suas presas enquanto seu marido se divertia com a negra.
Posicionada entre os dois homens, aproveitou para lamber um, enquanto suas mão despiam o outro. Os homens tentavam escapar, moviam-se inutilmente nas camas. Decidiu ignorar o judeu a princípio. Por mais que os homens tentassem, eram homens. Não conseguiam fazer seus orgãos ignorarem uma gostosa se roçando neles, mesmo que estivessem amarrados e com a sentença de morte confirmada.
Excitado com o que sua mulher estava fazendo, Diego lambia o sangue da mulher amarrada, com uma ferocidade tamanha. Quando o sangue que escorria pelo pescoço estava quase seco, ele se aproximou da boca da mulher. Assustada, Dhore tentou se virar, mas não conseguiu. Ele começou a sugar, de leve a língua. Com o tempo foi sugando com mais força até que em um momento mordeu e arrancou. A cena foi aterradora.
Dee Dee aproveitou a distração causada pelo grito da menina, para levantar e pegar seu aparelho preferido: Uma bela e bem feita machadinha. Era linda! Toda enfeitada, detalhes em ouro. Com certeza valia mais que qualquer coisa naquele quarto. Admirou por um tempo sua amada. Sem pensar muito, desferiu um golpe certeiro na caixa torácica do gigante negro. Gritos ecoaram na sala. O golpe não foi o suficiente, teve de fazer de novo. Gotículas de sangue voaram e pedacinhos de ossos foram arremessados nos presentes, não que estes se importassem.
A garota sem língua, o que é o sonho de muitos homens, tinha desmaiado de dor. Diego aproveitou para abrir com o bisturi os lados da boca da menina. Seu objetivo era a faringe, laringe, a glote! Tudo era tão maravilhoso cru e ainda quentinho. Desse desmaio, Dhore não despertou jamais...
Ainda com a machadinha na mão, Dee Dee pegou um separador Finochietto e pegou delicadamente o coração ainda palpitante de sua vítima. Com o coração na mão, ela cheirou o maravilhoso aroma e, sem resistir a tentação abocanhou com gosto o coração.
Agora, ambos só tinham o judeu como último. Mas, antes, a excitação era grande demais. Em cima do corpo do negro, desenvolveram tudo o que a criatividade permitia. Terminada a diversão, voltaram ao trabalho.
O pobre e pálido garoto olhava com muito medo para aqueles dois monstros que a sua frente. O medo podia ser grande, mas o instinto de sobrevivencia era mais forte. E este dizia: “Distraia e sobreviva!”.
– Por que vocês estão fazendo isso?
Certo, o instinto às vezes não ajuda muito...
– Queres saber? – perguntou Dee Dee, virando-se para Diego – O que achas, amor? Ele vai morrer mesmo...
– Bom, podemos tentar...
Dee Dee pegou a machadinha.
– Certo, mas vai ser do meu jeito!
Começou a esfregar a lâmina na pele do rapaz, que gritava e já implorava pela morte.
– Sabes, somos bem famosos – disse Diego – Nossa profissão é bem complicada. Eu, linguista. Dee Dee escritora e poeta... Sabe como consolidamos nossos dons?
Efrat já não ouvia mais... Gostaria de morrer logo. Dee Dee tentava decepar a mão dele, com movimentos lentos e leves, mas ainda assim cortantes.
– Alguns índios acreditavam, a muito tempo atrás, que se comessem partes de seus inimigos mais fortes, adquiririam todos seus poderes... Pensando dessa maneira, o que mais um linguista pode querer do que os saberes linguisticos de uma pessoa? Isso independe de cor, etnia, etc! É por isso que eu como as línguas das pessoas...
Dee Dee começou a dar machadadas no que antes costumava ser uma pessoa...
– E eu? Bem, onde estaria o poder das pessoas que me inspiram, se não em seus corações? As paixões são o que me inspiram... Isso e o sangue jorrando em minha boca...
E dizendo isso, o devorou.