Jardim Filosofico - parte 4
Um sorriso gentil passou no rosto daquele homem.
- Minha mente seria apagada e dominada por você se assim desejasse, se meu poder não fosse o suficiente para encarar isso. Se eu for mais fraco que você não mereço ter o direito de escolher.
Ela sacode a cabeça negativamente com indignação.
- Meu anjo de vestes negras .. não pense assim. Ninguém pode ser dominado por ninguém. Não importa o grau de poder que você ou outra pessoa tenha.
- As coisas são simples, entendo que é um jogo que envolve sua índole, mas se isso te consumir, sem que seu poder por mais intenso nada possa fazer, então não é mais sua responsabilidade.
O toque da mão dele fora depositado agora nos cabelos rubros da garota e o olhar dele parecia penetrar fundo em sua alma.
- Se eu gosto das pessoas é porque elas são o que são. E não porque elas são o que eu quero que sejam. Você me entende? – as palavras saíram de forma ríspida.
Como quem pensa racionalmente, ele desvia o olhar para a escuridão e uma aura fria o encobre.
- Então dê a essa menina o direito de morrer sendo quem ela é. Isso é simples. O seu coração humano acha difícil suportar, não é? Você tem seu ponto de vista, e deve ser feliz com ele, e não fazer disso seu Karma absoluto, Nisa. Tal como a menina filha de seu amigo tem a honra dela, se é desejo dar fim a própria vida, é por que ela mesmo acredita que é o melhor. Então, morrer com a honra ainda é seu único direito.
Nisa pisca duas vezes olhando pra Duolon com cara surpresa. As palavras que lhe vinham na mente morreram em meio a escuridão da noite. Já não havia mais vaga-lumes nas arvores e a brisa já não soprava e o calor estava abafado.
Duolon seguiu seu discurso de forma categórica e clara:
- Entenda meu anjo, não queira simplesmente se martirizar por estar de mãos atadas. Se você não tiver a força e a calma necessária para desatar seus nós, não poderá estender a mão para ajudar quem quer que seja. Quanto mais difícil parecer ser, mais difícil será....
Após engolir a seco todas as palavras dele e digerir vagarosamente em silencio ela repete as palavras finais do amigo que a estava apoiando:
- “Quanto mais difícil parecer ser, mais difícil será”
A mão de Nisa agora estava pousada sobre a mão dele e o apertava de forma desesperada a procura de mais sabedoria e mais palavras.
- Cada segundo que passo com pessoas como você eu penso o quanto sou insignificante... e penso no quanto me achei um dia imprescindível a alguém ... – um certo aperto na garganta a faz parar - Mas isso é bom... você me abre os olhos pra vida real.
Nisa sente um afago profundo dos dedos dele em seus cabelos e em seguida ele lhe da um beijo na ponta do nariz.
- Menina, entenda apenas que com lagrimas nos olhos você não vai convencer ninguém de que o mundo é agradável e que a vida é bela.
Nisa sorri como uma criança ouvindo a um pai.
- Não sou dissimulada quando choro como quero chorar agora, sou? – uma ruga de duvida pregou na testa dela.
- Não estou dizendo para não chorar, estou dizendo apenas para observar o quanto você pode mudar o mundo com uma lagrima ou com um sorriso sincero.
Com o rosto bem próximo ao dele e com a mente correndo na velocidade da luz as palavras pareciam ser algo remotamente difíceis de organizar.
- Estou confusa agora...
Uma risada confiante ecoa pelo jardim seguida da voz forte de Duolon:
- Não, minha pequena. Você é apenas confusa. – com o indicador ele acaricia a ponta do nariz dela.
- Estou me sentindo com 10 anos de idade – ela começa a sorrir desconcertadamente - Falando nisso.....não sei sua idade, meu amigo.
Duolon parecia jovem demais para ter tanta clarividência de palavras. Parecia no fundo um ser milenar depositado em um invólucro humano jovem, delicado, quase feminino.
Ele olha para cima por um breve segundo e responde:
- Nem eu.
Nisa abre a boca incrédula. E ele continua o pensamento.
- Calma... Creio ter uma média de 26 anos, baseando-se no tempo que passei fora de minha comunidade, Hebei.
Hebei é uma província da República Popular da China. Sua população aproximada é de 68,1 milhões de habitantes comparando-se com a França. Possui uma área que equivale o estado do Paraná, Brasil
- Co.. como assim? – ela arruma uma mecha de cabelo dele que caia nos olhos dele e permanece olhando curiosa
Ele a fascinava de mil maneiras diferentes. Ela já havia esquecido como era aquela sensação fantástica de querer saber mais e mais sobre uma pessoa. Então se entregou por completo aos devaneios e questões.
Ele assume um ar de professor serio e a faz recostar em seu peito enquanto explica:
- No local de onde eu vim mediamos o tempo pelos períodos de chuva e de seca. Depois que sai de Hebei conheci o que vocês chamam de calendário cristão. Só daí pude calcular minha idade. Se eu pensar em fazer contas, é em média o que eu tenho. E você, Nisa, quantos anos tem?
- Agora eu SIM estou com vergonha! – ela brinca com a longa manga da roupa luxuosa dele e esconde o rosto entre o tecido
Ele sorri.
- Então não fale, vou ficar divertindo-me tentando imaginar conforme for se dando o tempo – vagarosamente ele põe o dedo na boca dela em sinal de silencio.
Telepaticamente ela se manifesta:
"sou tão confusa sem você saber minha idade.... quando você a souber vai rir de mim"
O olhar dele estava plácido, calmo e cheio de confiança:
- Só saberá se me disser, e se desejar me contar, por que deveria rir de você?
Nisa toma fôlego e o olha timidamente:
- Somando os anos lineares em que vaguei entre dimensões, eu tenho cerca de 2 mil anos de vida. Imagina, você disse que sou confusa... pense em 2 mil anos de confusão... e você com 26 anos de idade me ajuda mais que muitos seres milenares que encontrei.
O rosto dela estava em chamas novamente ao encontrar o olhar perfurante dele. Ele era serio demais até quando sorria para ela.
- E quem define que deve ser o contrario? Existe uma regra para isso? Poderia ter até 10 mil, continuaria sendo minha linda menina confusa de sempre.