Escarlate

O sol, em suma majestade beijava as águas cálidas do mar. Ah, as águas avermelhadas no fim de tarde, bem morninhas... Um deleite aos poucos presentes.

Deitados na areia, um casal admirava a incrível cena do por do sol: teria algo mais romântico? Ele deitou-se ao lado de sua amada mordiscando, de leve, seus seios nus.

– Minha querida, não sabes o quanto esperei por isto.

Ela gemia. Ele gemia. O movimento, que a princípio acompanhava os vai e vem das ondas, se acelerou. Os gemidos eram cada vez mais audíveis, ou pelo menos seriam se houvesse mais alguém na praia deserta.

Ele levantou-se cuidadosamente, enquanto ela continuou deitada, quase imóvel. Sem graça, ele falou:

– Desculpe meu amor, me empolguei e quase te matei de cansaço!

Ela suspirou.

– Vou buscar algo para nós. Fique aqui que eu já volto. Prometo!

Ela ofegou. Ele saiu.

As amarras serviam quase como um torniquete: estancaram o sangue que deveria sair das diversas fraturas de seu corpo. De fato, sangrando ela não estava, mas a dor era atordoante. Suas pernas, ainda abertas, tremiam descontroladamente.

Ela percebeu um movimento ao longe, pelo canto do olho. Um calafrio percorreu sua coluna. Ele tinha voltado.

– Amada minha! – disse – Ficas ainda mais linda à luz do luar...

Ela estava pretificada de medo, gemendo e chorando.

Ele se irritou:

– Para com isso! – deu-lhe um chute nas costelas – Eu juro que é a última vez que eu pego a merda de uma muda! Nem implorar pela própria vida ela consegue!

Arriou sua calça e pulou em cima dela. Gritando, ou pelo menos tentando, Dalila fazia o possível para se livrar da dor... Quando terminou, ele levantou-se limpando os fluídos que escorriam por suas pernas.

– Eu odeio você! Nunca mais quero vê-la!

Aliviada, Dalila pensava que pelo menos ia morrer logo e, assim, ficar livre daquele tormento. A dor estava insuportável, mas ela estava serena: aquilo ia acabar. Desmaiou.

Algo estava errado. A dor em suas costas estava incrivelmente forte. Bichos andavam sobre ela, maria-farinhas se deleitavam em seus nervos da coluna.

Sobreviveu por muitas horas, ainda. Quando enfim abraçou a morte, as areias já estavam vermelhas pelo sangue de outra garota.

Laryssa Oliveira
Enviado por Laryssa Oliveira em 05/09/2010
Reeditado em 05/09/2010
Código do texto: T2479025
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