Jardim Filosofico - parte 3

Ela olha para cima e o encara com duvida nos olhos. Sem dizer nenhuma palavra, apenas a espera da conclusão que vinha daquela voz hipnoticamante forte.

- Agora quanto ao seu lado físico e mental, se quiser, posso oferecer uma massagem e uma boa conversa talvez.

Um sorriso carinhoso surge no rosto de Nisa enquanto ela coloca o queixo nos punhos que estavam agora apoiados nos joelhos.

- Amigo aceito suas palavras bem gradas. Aceito que arranque isso de ruim que existe aqui na minha alma. Mas receio não saber dizer o que é.

“A dor do corpo e da mente consome o espírito.”

Nenhuma palavra é pronunciada por ambos, mas a frase surgiu na mente de Nisa no momento em que ele se desmaterializou da lateral da soleira, para reaparecer atrás dela, sentado como quem oferece uma poltrona feita com o próprio corpo para ela se aconchegar.

Completamente perplexa com o feito, ela deixa se levar pelos gestos delicados que ele conseguia fazer. Em poucos minutos ela estava encostando a cabeça em silencio no peito daquele ser exótico com as laterais da sua cabeça massageadas devagar pelas as pontas dos dedos dele.

- Me conta o que andou fazendo desde a ultima vez que o visitei em sua mansão... – a voz saia pastosa de sua boca mas ela não sabia como controlar isso.

Ele fala com carinho intensificado e com a voz séria:

- Tente falar você primeiro, acho que precisa abrir a mente e o corpo um pouco – pressiona habilmente as têmporas desencadeando uma sensação de analgésico na garota - Fale o que andou ocorrendo na minha ausência, que deixou-a tão exausta?

Com os olhos cerrados e com a voz mais clara ela explica.

- Acho que todos sabem que gosto de ajudar. Tenho poucos e ótimos amigos que estão com problemas. Sinto que estou me consumindo pra ajudá-los, mas não consigo fazer muito. Às vezes acho que tenho poderes demais pra ajudar a todos, mas não me é permitido. Isso não parece uma piada?

Movimenta a cabeça para poder encarar Duolon de forma que as mãos dele ficam suspensas no ar.

A perspicácia voltou a brilhar nos olhos daquele caçador hábil de sutilezas.

- E quantos desses ótimos amigos tem lhe ajudado? – as mãos pousaram nos ombros dela e permaneceram em um toque firme.

A pergunta a atingiu como uma agulha fina envenenada

- Muitos... – o tom veemente nas palavras fora retomado - Minha existência nessa dimensão eu devo a eles, em especial a uma pessoa muito querida, meu irmão Terry.

Sempre houve algo além de suas compreensões que a ligava ao lutador. Sentia nas veias que em muitas vidas atrás foram parentes próximos e na vida atual ele a procurava como uma irmã fiel. Bem como ela o fazia. Aquilo era um bem maravilhoso na alma da garota. Sentia que o loiro estaria sempre ao lado dela independentemente do que houvesse e até agora, desde quando se viram, era dessa forma que ocorria.

Duolon parecia beber a mente de Nisa a goles dosados, como quem beberica um doce licor. Cada sentimento que ela sentia ele experimentava vagarosamente.

- Entendo. Mas por que então sua simpatia e energia positiva não funciona mais, dada a potencialidade dessa sua força, que eu mesmo já presenciei milhares de vezes?

A memória dela percorria exemplos de momentos em que ele a vira em ação. O rosto enrubesceu rapidamente.

- Acho que sempre encontrarei soluções se apagar a mente das pessoas e colocar coisas boas, mas nunca posso fazer isso. Quando se trata de mudar mentes, a ética não me permite. – suspira em meio a um turbilhão de palavras que lhe jorravam na mente - Deixe-me explicar... a filha de meu irmão quer se matar e eu não posso apagar a mente dela e mudar tudo isso por que não é ético, entende? Mas eu POSSO fazer isso e mudar tudo. Acho que há poder demais em mãos fracas demais... as minhas.

Ela estende a mão a frente do corpo.

- Ética? É um tanto inconveniente para momentos tais como esses, não acha? Se por um acaso você fosse contra a Ética, o que aconteceria? – a pressão das mãos dele nos ombros aumentou junto com a voz sussurrante em seu ouvido.

- Eu mudaria a regra em que humanos tentam viver e isso afetaria equilíbrio de muita coisa. – ela se vira de lado e o encara seriamente - O que você faria se eu apagasse sua mente e o transformasse nesse ser gentil que é comigo em tempo integral?

(continua.....)