POTE DE REQUEIJÃO
Era a sétima hora, do sétimo dia da semana, do mês sete do ano.
Ouviu-se em um subúrbio da cidade os passos calmos da jovem senhora Marcela. Mulher de aproximadamente trinta e dois anos caminhava lentamente pela rua pálida e fragilmente iluminada por luzes pálidas de portes frios. Usava um vestido estampado até o joelho, um fino cordão ao pescoço quase imperceptível em sua pele delicada e alva, cabelos compridos, loiros, brilhantes, amarrados em forma de rabo-de-cavalo, carregava confortavelmente ao braço esquerdo uma bolsa preta, não tão grande nem tão pequena, calçava sapatos modestos com saltos discretos que lhe trazia certa elegância ao andar, resplandecia no rosto uma alegria inquestionável, com feições delicadas, brilhava nos lábios um sorriso meigo, afetuoso, tão verdadeiro, tal qual o de uma mulher que descobre que vai ser mãe pela primeira vez e que tem ao seu favor todo o apoio e a alegria do marido. Um olhar distante e esperançoso como se não visse a hora de encontrar a pessoa amada, que lhe espera sossegada em sua casa arrumada e enfeitada com flores e quadros inocentes, provinciana, é o seu lar. Era possível ver seus sonhos explodindo como fogos de artifícios no céu, de todas as cores, esplendoroso, de varias formas, arrebatadoras, sem duvida é planos para o futuro, provavelmente fazer uma longa viagem com o marido, conhecer lugares novos, as muitas praias brasileiras ou, a Europa! Porque não?! Ou quem sabe estivesse feliz apenas pelo fato de estar bem, juntamente com o seu esposo levando uma vida pacata e tranquila, quem sabe estivesse grata a Deus por depois de tanto esperar, ter conseguido finalmente engravidar. Sim, é um filho com certeza, depois daquele sorriso inconfundível não há como negar o fato, ela espera um bebê.
Marcela havia ido a pouco ao mercado adquirir mantimentos a fim de reabastecer sua dispensa. Regozijava-se, no caminho de volta, ao ver que não esquecera nada do que se predispões a comprar, a sacola estava repleta, com vários mantimentos, enlatados, legumes, hortaliças, frutas das mais diversas cores, macarrão instantâneo e etc. Trazia à mão um pequeno pote de requeijão, iguaria no qual lia o rotulo informativo.
No auge de sua satisfação em aproximar-se do seu lar, da sua vida, da sua casa, Marcela percebe atônita, de súbito uma sombra a envolvê-la e a tomá-la pelo braço, e com força superior, proveniente dos covardes, tenta tomar sua bolsa. Marcela não luta, mas confunde-se com a bolsa, a sacola e o pote. Impaciente com a falta de habilidade que a mulher tem em desvencilhasse do objeto almejado, a mão sombria não hesita e efetua um disparo. O corpo cai, o gatuno apressa-se em obter de uma vez por todas a bolsa tão cobiçada, e como um rato desaparece nas sombras dos becos obscuros do subúrbio. O corpo da jovem já sem vida fica exposto ao chão, Marcela larga o pote de requeijão que rola pelo meio fio até cair num bueiro destampado próximo a sua casa.
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