Incrível, fantástico, extraordinário
 
Na década de 50 havia um programa com o título acima que focalizava estórias do além mandadas pelos ouvintes da Rádio Tupi do Rio de Janeiro.Eram narradas pelo famoso radialista da época, o Almirante – Henrique Foréis Domingues, cantor, compositor e pandeirista ( que fez parte do Grupo  Tangarás juntamente com Noel Rosa,Henrique Brito, Alvinho e Braguinha)

Em cada programa transmitido as terças-feiras das 21,30 h às 12,00 h ele narrava 3 ou 4 casos cheios de suspense mantendo os ouvintes presos as histórias fantásticas. Na época eu tinha uns 6 anos, e juntamente com meus pais e meu irmão de 5 anos ficávamos ouvindo os contos incríveis e imaginando as cenas narradas, de arrepiar!!!

Os títulos eram aterrorizantes:
- Aventura no cemitério
- Os estranhos passageiros do bonde da linha de Pedra
- O homem que viu e conversou com o fantasma do amigo
- O cadáver que abandonou o seu caixão
- A pesca na noite de sexta-feira
- O padre da meia-noite
- O homem que viu seu próprio enterro
- A bofetada invisível
- Um vulto na rua e tantos outros...

Lembro-me daquela noite, a última estória:
Amigos embriagados fizeram uma aposta, a meia-noite iriam ao cemitério num túmulo de um homem que fora muito mau, um criminoso famoso por seus delitos.Eles eram em três companheiros, adentraram no campo santo numa noite muito escura e fria e se dirigiram ao local combinado.

Dois deles nem chegaram ao local combinado, com medo  se retiraram do cemitério.

O terceiro, cheio de coragem dirigiu-se ao túmulo e deixou sobre ele um bilhete, previamente escrito no bar: “Se tens coragem, levanta-te covarde, estamos aqui para acabar de vez contigo.”

No outro dia, os amigos deram por sua falta, dirigiram-se ao cemitério, e lá estava ele, morto, entrelaçado no roseiral que circundava o túmulo.

Conclusão: ao tentar sair do local enroscou-se nas roseiras de longas hastes. Talvez, imaginando estar sendo agarrado pelo fantasma do facínora falecido teve um ataque cardíaco fulminante.

A história findou a meia-noite daquela terça-feira. Nossa família dormia no sótão de um casarão antigo. Meu pai desligou o rádio e pediu para que fossemos dormir, ele iria tomar um copo de leite e em seguida subiria a velha escadaria.E assim procedeu, apagou as luzes da sala e se dirigiu às escadas, no escuro, creio quê a imaginação a mil...

Repentinamente ouvimos gritos e correria rumo ao topo da escadaria.
Acendemos as luzes e lá estava o pai, suando em bicas, trêmulo e ofegante com uma cortina nas costas...

Ao apagar as luzes tocara levemente no cortinado que se desprendeu e os ganchos do mesmo engancharam-se em seu paletó...

A estória do cemitério, a escuridão reinante e o repentino acontecimento deram-lhe a sensação que estaria sendo agarrado pelo “falecido”...

Daquele dia em diante não ouvimos mais as incríveis, fantásticas e extraordinárias narrações do Almirante,rssss.
 
 
 
O Almirante