S(c)em Alma(s)

Diz-se que havia um navio

Desses de madeira, com remendos mil

De um louco capitão que baforava fumaça

Com ervas loucas, fazia pavio

Só de ouvir, senti arrepio

Por almas de cem marinheiros que amassa

Caminha da ponte à proa

Entoando a canção do vento que voa

E só pára engolindo dois litros de cachaça

Ouvi que ele anda com um chicote

E que ama sentir o cheiro da morte

Torturando cada homem que no convés passa

Da prancha alimenta tubarões

Da carne humana, só poupa os corações

Que volta e meia em fogueira assa

Ah! Os olhos! Ele os conserva em cêra

E coleciona em estante de madeira

Pra não cair no esquecimento a desgraça

Sobre cada marujo só penso: coitado!

Como foi perecer pra'quele pobre diabo

Que não vale de um rato nem a raça?

Estou certo que ouviu falar de mim

E na imensidão desse mar sem fim

Eu caço ele e ele me caça

Todos aqueles espíritos aprisionados

Só em terra podem ser libertados

Do homem que a maldade arde em brasa

Se esbarrar com o navio, dou sumiço

Esquartejo o capitão, assumo o passadiço

E levo as cem almas de volta pra casa!

Gabriel A H
Enviado por Gabriel A H em 21/08/2010
Código do texto: T2450344
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