A Dama de Branco

Estava andando pela rua. Não sabia ao certo como tinha chegado ali, mas o fato é que ali estava. A rua era quase familiar. Ainda que não a reconhecesse sabia que já havia passado por ali.

A luz de um poste piscou algumas vezes antes de apagar de vez. Os flashs a deixaram meio zonza e desorientada. Quando seus olhos se adaptaram a escuridão quase total da esquina...

Um grito.

Pelos arrepiados.

Ela se apavorou e correu. Para o lado errado, diga-se de passagem...

***

O som de ossos quebrando é inesquecível. Ele adorava sentir os ossinhos esfarelando ao som dos gritos alarmados de suas presas. Claro, a prática leva a perfeição e ele ainda tinha muito a sofisticar. Por exemplo, o sangue corre mais rápido quando a adrenalina é ativada, de modo que o sangue tende a sair em torrente. Para que a presa não morra tão rápido, suas fraturas são sempre de uma forma que a pele não rompa.

Ele sempre preferiu negros, a consistência da pele desse grupo é muito mais firme do que a dos branquelos, pensava. Hitler estava errado, a “raça” superior, com toda certeza, era a negra. Recoberta por generosas capas de gordura, os ossos ficam ali, quentinhos, só esperando que ele se satisfizesse com seu hobby. O sexo com pessoas que eram “amaciadas” por ele era simplesmente incrível... Já que nem todas as mulheres eram contorcionistas, quebrar seus ossos as deixava mais maleáveis...

Ele estava quebrando os ossos da face de uma mulata, quando ela chegou. Que mulher linda! Seus olhos esverdeados olhavam aterrorizados a cena a sua frente: um homem com uma soqueira de titânio esmurrava uma mulher semi-acordada. Foi esse olhar que o fez se apaixonar por aquela Dama de Branco, cor de ébano.

Ela se virou para fugir, mas ele a pegou pelo braço. A mulher espancada estava chorando, ou tentava, seu rosto estava tão inchado que sequer conseguia abrir os olhos.

- Me solte – gritou a Dama de Branco – Ou vou chamar a polícia!

Ele sorriu.

- Minha menina – disse-lhe – Ninguém vai te escutar aqui... estamos no meio do nada. Você é minha agora.

Ele olhou para a moça no chão, aquela massa de hematomas que antes o fez delirar...

- Agora não me serves mais – disse – Adeus.

Pisar na cabeça dela foi quase tão excitante quanto quebrar seus ossos.

- Agora, sou todo seu!

Deu um soco na Dama de Branco, que apagou na hora.

***

Luana acordou ofegando. Estava apavorada. A primeira coisa que fez foi tatear o escuro, tentando reconhecer as coisas a seu redor... Estava em casa. O relógio mostrava que já estava amanhecendo. Ainda tremendo pelo pesadelo, decidiu tomar um banho e se arrumar para o trabalho.

Foi um dia tranqüilo e, quando voltou para casa, à noite, já estava quase esquecida do tal sonho. Como era de hábito, o único momento de seu dia atribulado em que podia se dar o luxo de ler alguma coisa, como um jornal, por exemplo, era depois do trabalho.

Preparou uma xícara de café, pegou o jornal do dia e sentou na poltrona.

A manchete a fez tremer de medo: “Mulher encontrada morta com todos os ossos quebrados.”. A xícara se despedaçou ao cair no chão. A imagem que ilustrava a matéria era uma rosa branca, manchada de sangue ao lado do corpo. A legenda dizia: “O maníaco sempre deixa rosas brancas na cena do crime”.

Desistiu de tentar entender a maldita coincidência que estava acontecendo. Tirou a roupa e foi para seu quarto, ainda alarmada. Em sua cama jazia uma rosa branca.

Foi a última coisa que ela viu.