SOBRENATURAL
SOBRENATURAL
A madrugada fresca torna o calor do verão mais tolerável. Um doce perfume paira no ar, a dama da noite com sua pungente fragrância inunda os arredores. As estrelas iluminam o firmamento e sob a tranquila noite duas jovens caminham a pé, pelas ruas da cidade provinciana de Minas, sentindo o sereno da madrugada com cheiro de flor. Voltam de uma festa de despedida do semestre que a Turma da Medicina organizara. Foram de carona, e resolvem voltar caminhando, aproveitando o ultimo fim de semana na república de estudantes, porque nas férias voltam para casa em outro Estado. Não costumam andar pelas redondezas, mas o bairro fica bem próximo do centro onde residem. Moram juntas, num apartamentozinho aconchegante. Conversam sobre o futuro enquanto aproximam-se da Igreja Matriz a mais antiga da cidade, rodeada também por casarões antigos que ainda conservam na parede da frente sob o beiral, a data da construção. Fabrícia comenta o estranho fato de nunca terem notado o sobrado antigo bem na esquina da Igreja. O local está tomado de um silencio sepulcral, ouve- se apenas o som dos calçados das duas ecoando na rua deserta. Quando chegam mais perto da mansão, notam a luz acesa, na parte de cima do imóvel. Uma das estudantes comenta:
- Veja a luz acesa, bom saber que tem gente acordada. Afrouxam o passo e caem na risada. Olhando de longe, é uma bela construção, mais à medida que se aproximam têm outra visão, notam que está mal conservada, semi demolida. Estranham o fato, pois enxergam bem. Ambas sentem um arrepio percorrer a espinha dorsal. Automaticamente seguram uma na mão da outra e apertam o passo. Quando passam pelo portão da frente elas fixam o olhar no segundo pavimento onde se vê o lustre iluminando o local, depreendem que mora alguém ali e está acordado. Riem sentindo- se tolas. Ainda olhavam para cima quando alguém aparece na janela e grita por socorro. As estudantes param para ver a pessoa e se possível prestar ajuda. Um jovem com o dorso nu grita desesperadamente: - Socorro, ele está aqui. Eu não quero morrer. Ajudem- me, por favor. Chora e grita. Seus berros são pavorosos e roucos. Fabricia grita para ele:
- Está sozinho? Você está ferido? Mas o rapaz parece não ouvir, apenas grita arrancando com as mãos os próprios cabelos. Chora compulsivamente repetindo: “NÃO QUERO MORRER, DÓI, DÓI, NÃO QUERO MORRER!” Amanda tentou falar com ele enquanto a amiga olha pela janela da frente da casa, mas está tudo demolido, não vislumbrou nenhum acesso para o andar de cima. Ligam para a polícia, não se identificam, apenas dão o endereço. Assim tentam sem sucesso acalmar o garoto, mas ele as ignora completamente, soluçando desaparece de suas vistas. Passam- se alguns segundos e o silencio impera, elas não desviam o olhar do único local que está claro, esperando rever o desconhecido. A lâmpada que vêem tremula, se apaga e rapidamente volta a iluminar a janela, que para espanto das duas é cenário de uma visão grotesca, o moço que lhes pedira socorro, aparece com o rosto convulso, todo roxo, a língua em sua totalidade para fora, os olhos saltados das órbitas, o corpo balançando levemente pendurado pelo pescoço na corda.
Elas saem correndo, param somente quando trêmulas e ofegantes abrem a porta do apartamentozinho. Não dormiram e à tarde viajariam. Decididas voltam às imediações da igreja, para olhar de longe, ver se a policia havia removido o cadáver. Pensam encontrar no local pelo menos alguns curiosos, cidade pequena, calma, uma coisa assim chama muito a atenção. Ansiosas chegam à esquina que dá de frente para a mansão abandonada e... Espanto!
Nessa hora as duas futuras médicas, que no internato já presenciaram muitas ocorrências estranhas, diante desse fato, não se lembram de jamais, tanto na vida pessoal como acadêmica, se virem envolvidas em circunstâncias naturais e sobrenaturais de vida e morte do ser humano, com tal desfecho: No lugar da casa do desesperado jovem, ergue-se imponente um edifício moderno com apartamento residencial no piso superior onde viram o enforcado, e no andar térreo, bem visível, um luminoso na fachada:
CLINICA DE REABILITAÇÃO ORAL
- DR. BENTO DONATO -