PAI, MÃE, MEU TEMPO É CURTO

   Jorge era um garoto introvertido, quieto, esguio e muito inteligente. Filho único de Joaquim Silva e Ana Maria; um casal do interior Paulista, que entre as muitas afinidades, professavam e praticavam a religião Espírita. Jorginho os havia prevenido de que seu tempo junto a eles seria curto, e que não gostaria de saber que ficaram lamentando e sofrendo a sua ausência material. Foi tão clara a sua narrativa aos pais, naquela tarde fria de inverno, quando completava seu quarto aniversário, que mesmo tendo o conhecimento desenvolvido nos anos de estudo do Kardecismo, Joaquim e Ana ficaram assustados. A voz forte e a firmeza dos seus argumentos não deixavam dúvidas,ao dizer aos pais, que seu tempo estava atrelado a outro espírito; sua alma gêmea, e que: no momento em que se encontrassem iriam partir, pois suas missões estariam finalizadas por aqui , neste plano, e que teriam de dar continuidade aos seus trabalhos de doutrinação junto aos espíritos mais iluminados e a Jesus.
       Joaquim e Ana, mantinham-se em silêncio na esperança de que esse tempo fosse prolongado pela Divindade, porque ao curtir a sua companhia, seus exemplos de desprendimento material ,faziam com que todos se impressionassem com o seu comportamento.
    Jorginho havia completado quatorze anos naquele sábado, e como presente ganhara, nas férias escolares, uma semana na praia do Cassino, na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.
    Caminhavam a beira do mar e se aproximavam das pedras que adentravam por vários quilometros no mar e eram chamadas de molhes, quando repentinamente Jorginho parou:...estático. Como petrificados viram um casal se aproximar e uma linda menina com longos cabelos negros destacar-se do meio e gritar:
     -Jean,...eu te encontrei!
    Veio correndo em direção do menino quando se ouviu Jorginho responder :
     - Sim Cristi, sou eu.
     Abraçaram-se, como se fossem velhos conhecidos e o tempo parou. Parou, para os pais da menina , que não entendiam o que estava acontecendo. Mas os olhos de Joaquim e Ana Maria foram se enchendo de lágrimas, por saberem o que adviria daquele encontro. 
      Enquanto iam em direção aos pais da menina, ouviram um terrível estrondo e puderam ver uma onda gigante,incrivelmente estreita, atingir apenas os dois jovens que se encontravam de mãos dadas, a beira do paredão de pedras. Seus olhos não podiam crer no que estavam vendo: os dois foram levados de roldão e simplesmente sumiram. 
    Desesperados, Paulo e Carmem gritavam por socorro a todos os que presenciaram a cena. Joaquim e Carolina sabedores da verdade, tentavam consolá-los.
     Algumas horas se passaram quando o corpo de bombeiros veio anunciar que os corpos dos jovens, haviam sido encontrados pela rede de um pescador, que se encontrava em estado de choque, por jamais ter visto algo semelhante em sua vida no mar: Os dois jovens que haviam morrido, estavam abraçados e não havia nenhum sinal de afogamento.
    Foi uma tarefa difícil a Joaquim e Ana Maria, contar aos seus novos amigos, na dor, a razão de tão incrível tragédia e, do que a espiritualidade reserva as nossas simples, mas por vezes doloridas passagens, nesta parte material de nossas vidas.    
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 27/07/2010
Reeditado em 07/02/2017
Código do texto: T2401750
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