Uma figura na noite IV
O despertar da vida é a maior poesia da existência, porém vejo que o ser humano está se desligando disso. Já não busca nada além do superficial. Felicidade, alegria e bem estar estão ligados as questões financeiras, como se o vil metal fosse a própria razão de ser.
Não tenho duvidas que o dinheiro se tornou o senhor deste século.
Lembra que falei sobre o imediato? Sobre o prazer rápido e sem conseqüências? Sobre a obrigação de se mostrar bem, ainda que o referencial seja uma imagem fabricada e imposta por algo ou alguém?
Vou te dar um exemplo prático do que proponho: outro dia entrei numa destas salas de bate-papo virtual. Observei que as pessoas buscam por companhia. Querem o básico: se relacionar com alguém. Só que as opções do homem moderno são paralelas e o que acontecia na família, no portão de casa e nas pracinhas, agora acontece no contexto do isolamento que chamamos mundo virtual.
Assim, conheci Sophia. Disse-me ser solteira, morena, corpo em forma e estar em busca de alguém que queira algo sério. Fui além e com o tempo, descobri uma figura totalmente diferente do perfil proposto. O nome, Graça (verdadeiro nome), é baixa e está acima do peso. Sofre de depressão e se sente isolada por não ser como as amigas do trabalho. Sem forçar nenhuma barra, me tornei uma necessidade para ela. O preço? Dispensar um pouco de tempo para lhe dar atenção. Tenho certeza que muita gente que lê estas linhas se identificam com minha amiga virtual.
Veja bem que não tenho a menor intenção de resolver tais problemas, mas expor uma verdade:A necessidade cria personagens, e eu sou um deles. Como já te disse me alimento do que as pessoas oferecem.
Se para o bem, como o sonho da menina da aliança ou para a destruição como os que mentem para si em nome de um alívio imediato.
Bem, enquanto for assim, seres como eu vão continuar preenchendo as vidas vazias e sedentas de carinho, pelas noites, pelos sonhos, pelos bares e nas salas virtuais.
Até breve!