NOITES DE CHUVA E VENTO - O. P. Silva

Capítulo 3

Novamente se encontravam reunidos, à volta da lareira na moradia do Tio António, os três amigos agora inseparáveis. O frio apertava cada vez mais e aquelas horas que passavam a conversar amenamente, junto ao apetecido calor, eram das mais agradáveis para os rapazes, não o sendo menos para o velhote que, esquecia a solidão do seu viver.

- Ora, vamos lá continuar, e hoje vou falar sobre a “Noite dos Finados”.

- O que é isso? – Perguntou Emílio.

- É a noite do dia 2 de Novembro. Crê-se que as almas dos mortos saem de noite dos cemitérios e andam pelo caminho em procissão com luzes acesas. Diz-se que se uma pessoa encontrar uma procissão de defuntos, as almas deles vem buscá-la quando morrer.

- Ò Tio António, isto é verdade?

- É uma crença muito antiga e que o povo ainda acredita. Vou-vos contar um caso: “Duma vez, um velhote foi com um saco de milho para o moinho nas Quatro Ribeiras, moer o seu milho. Quando acabou, pegou no saco e veio andando para casa. Chega à derradeira casa do Biscoito Bravo, encontra uma procissão muito grande a entrar para uma Igreja que havia antigamente nesse lugar. Ele, que era muito devoto, entrou na Igreja e, enquanto aquela gente esteve a orar, ele esteve também. Assim que a devoção acabou, o povo foi-se embora e ele também foi para casa. Ele entra a porta para dentro e a mulher disse assim: - Eh, homem, que desgraça é esta? Já é quase de manhã, e eu à espera da farinha para cozer o pão. – O marido respondeu que tinha visto uma procissão que não havia nada mais lindo. Que o povo tinha entrado para a Igreja, e ele também entrara para rezar com eles. – Eh, homem, - disse a mulher aflita, - pois tu não sabes que hoje é a Noite dos Finados! – Ele caiu logo em si e disse: - Então, era a Procissão das Almas.”

O Tio António, olhou os rapazes boquiabertos e disse:

- Vou contar outra história, que se passou no Vale Linhares e começa assim: “Uma velhota ergueu-se muito cedo para ir à Missa do Pêlo. Mas era ainda meia-noite. Como ela não tinha relógio, e a noite estava muito clara, julgou que já eram horas de ir para a Igreja e foi. Chega lá e vê que ela estava cheia de gente que ela conhecia, e disse: - O que será que faz aqui esta gente, que já morreu há tanto tempo?! – Nisto, passou por ela a sua comadre, que já tinha falecido, e começou a reparar para a saia e viu que no lugar do fecho tinha um alfinete. Ela então perguntou à comadre porque é que tinha um alfinete a prender a saia e ela respondeu que, quando morreu, tinham-lhe pregado a saia daquela maneira e que agora se via obrigada a usá-la assim.”

- Ò Tio António, gostei imenso destas duas histórias. – Disse o Emílio.

- Pronto. Agora ide-vos com Deus, que já é tarde.

- Boas noites! – Disseram os dois jovens.

OP Silva
Enviado por OP Silva em 30/06/2010
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