Amiga da Morte
Marina morava em uma alameda calma com sua vó, uma senhora de 63 anos, já aposentada e mau-humorada; Diziam que na juventude, se entregou para um rapaz que a abandonou deixando como fruto desse amor Eliana. Ao descobrir sua gravidez foi expulsa de casa,considerada sinônimo de vergonha para sua família.Eliana, mãe de Marina, morreu após o parto,enfatizando os boatos de que essa família carregava o peso da desgraça.
Os vizinhos eram poucos e estranhos, nunca paravam para conversar, não se falavam. Marina nunca soubera se eram mesmo assim ou tinham medo delas, provocado pelo mito que as cercavam. Apesar disso, ela nunca perdera a graça, era uma garota muito bonita, branca com cabelos negros e olhos enormes semelhantes a imensidão do mar, era uma princesa, que mesmo com a timidez, sempre atraia olhares por onde passava, de garotos passando por idosos e até de meninas que a invejavam.
Entre os vizinhos da alameda havia um garoto,que morava em frente a sua casa, muito simpático, que a tratava bem, não era apático. Seu pai, solteiro, não aprovava tal aproximação. Marina também pensou que ele fosse supersticioso, e que não queria seu filho andando com alguém com um histórico genético assombroso. Mas ela não se importava, sempre fora autosuficiente, nunca precisou de ninguém.
Um dia, saindo do banho com a toalha enrolada em seu corpo, Marina percebeu que havia alguém na casa da frente a espionando no escuro. Depressa e com o coração palpitante correu para fechar a janela do quarto. Então, ao longo dos dias, começou a se distanciar do tal garoto.
Certa noite, preparando-se para dormir, Marina ouviu um barulho de porta se abrindo, foi no quarto de sua avó e constatou que ela estava fazendo o que mais gostava, dormindo, tranqüila, afinal já era quase surda. Vasculhou a casa e não achou nada de anormal, satisfeita voltou para o quarto. Ao deitar na cama, percebeu que não estava sozinha no quarto, havia um homem. Um homem de olhar viciado, estava suando, parecia nervoso, porém decidido. Sabia o que estava fazendo ali, queria terminar de uma vez por todas com suas agonias, alucinações. Ela o seduzia,mesmo sem fazer nada, o hipnotizava. Não agüentava mais, precisava do seu corpo, tocar sua pele, sentir seu cheiro, passar a mão em seus cabelos, ter o seu corpo dentro do dela, uma só carne. Estava possuído.
Ela não entendia, ele a repudiava, nunca olhara sequer em seus olhos. O reconheceu. Não era o garoto na janela aquele dia. Como ela pôde ser tão ingênua? Agora o pai dele estava em seu quarto com uma faca na mão. Por que? Por que ela? O que ela havia feito?
Um grito lancinante cortou o silêncio da noite, inútil, ninguém a ouviu, seu sangue corria no chão sujo enquanto ele rompia sua virgindade. O pecado foi consumado. Ele terminou antes mesmo do último suspiro, ela teve de suportar até o fim.
A sina que estava em volta de suas gerações não foi indiferente com Marina, ela não merecia, seu único azar é que a morte apenas simpatizou com sua família.