Diálogo fotográfico
As fotografias enfileiradas na parede branca emprestam um ar de mistério e charme à sala. Amareladas ou não podem ser reconhecidas pelo vestuário da época. Dentre todas ali pregadas, uma ou outra parece dialogar com o visitante! A moldura de cada uma delas veste a história do seu artesão. Madeira de lei extraída por mãos calosas rasgadas no lenho ainda sumoso de vida na mata.
Um olhar prende a atenção! Angustia e terror espelha o medo! 1918 é a data marcada no canto direito da foto. Evoca uma história sombria. Deitados um sobre o outro, entrincheirados, dezenas de cadáveres e seus rostos retorcidos, face ao gás da morte. Na foto, o jovem militar olha nos meus olhos e dá adeus a vida. Escuto as minhas lágrimas tamborilar no chão de carvalho intercalado por listas claras e escuras. Um sentimento de fragilidade consome o rosto do retrato.
Empenhada pelo direito de votar a mulher me dirige a palavra, enquanto, passo por ela. Paro e ouço a sua história. O anel de brilhante no seu dedo anular reflete a imagem de uma passeata feminina sendo reprimida por homens fardados. Vejo o seu vestido branco mudando de cor. O vermelho o tonaliza. A bala crava no seu peito. Sua mão estende uma cédula eleitoral e nela em preto e branco destaca a foto e o nome de uma mulher.
Paro! Sinto o respirar ofegante na minha nuca.
Ela vestida com um vestido longo arrodeado de estampa floral exagera nos acessórios brilhantes e plumosos. A camisa de camurça e franjas transgride no homem moreno de cabelo black power. A mulher uma influente jornalista conhece o marido cobrindo a guerra do Vietnã, enquanto, ele, literalmente, quebra a sua guitarra em um show feito de um som marcante; conhecido como: hard rock. Um reflexo nos olhos dela programa o final do relacionamento tumultuado pelas orgias regadas a muito sexo e drogas. A morte se estende como um tapete, enquanto, ele movimenta o quadril ao som de um punk rock.
O tilintar de copos e pratos junto ao aviso do jantar sendo servido adia o meu caminhar na sala dos personagens ilustres, e, os meus diálogos com os modelos fotográficos pendurados na parede branca no hotel em que me hospedo.