La Ricompensa
Saiu de casa e deparou-se com toda aquela gente aplaudindo-a. Ela havia conseguido. Mas, não era digna de tal reconhecimento. O que havia feito não era nem de longe de aplausos calorosos daquela gente.
Ela fora ovacionada por todos, havia se tornado a rainha para eles. Suas íris negras estavam arregaladas, o vestido cinza-chuva que usara parecia ser a única coisa que exalava cor. Sua pele Albina estava ainda mais pálida com tudo aquilo. E os gritos continuavam.
Diante daquelas pessoas ela queria somente fugir, cavar algum orifício sob aquele concreto e desaparecer. Estava com uma maleta preta nas mãos para fazê-la. Cem mil dólares foi o que lhe cobraram. Um preço justo? Barato demais por sua atitude. Teria que mudar de cidade, de vida, de rosto, de identidade e de princípios.
Usava um sapato fechado de salto baixo, quando um par de braços branquelos e gélidos envolveu suas canelas finas. — Mamãe, você vai embora? – Ela olhou para baixo e aqueles olhinhos miúdos que exibiam uma fragilidade impressionante estavam encarando-a. Engoliu em seco e não respondeu. Ela abaixou o próprio corpo, desvencilhou os braços da garota de suas pernas e caminhou diante daquela multidão com uma velocidade que nem ela própria conseguiu calcular.
Não havia nenhum carro a sua espera, tampouco algum homem, ela iria seguir por uma estrada acidentada, quente, longa e árdua, mas, era preciso fazê-lo.
Os pés já descalços, cujo calcanhar duro latejava de dor, ouviu-se passos firmes às suas costas. Não se atreveu a virar de frente para quem quer que fosse um instante sequer. Apertou o passo como podia, mas o filete quente e avermelhado que escorria de seus pés e manchava o cascalho não permitiu que fosse muito longe.
Abriu a maleta uma última vez, o dinheiro permanecia ali, intacto. As notas tinham um perfume inebriante, que fizeram com que ela desse um suspiro longo, sentiu o corpo estremecer e se fortalecer, era por aquela maleta que ela iria continuar caminhando.
Uma pressão forte na nuca, uma dor aguda na cabeça, lançou pela boca um jato vermelho e quente. O gosto do líquido mesclava-se com o da morte, seu tato desapareceu e ouviu-se apenas o estrondo da maleta ao chocar-se com as rochas. Tombou de joelhos, mas, não houve dor. Seu corpo estava pesado demais para que ela conseguisse se manter de pé, caiu na horizontal sob aquele sol escaldante, os olhos fixos em um ponto inexistente, estáticos, fim da linha, baby.