O PESCADOR E O CÃO

   A noite vinha apresentando seus primeiros sinais. O sol deitava-se no horizonte, num tapete avermelhado, com tons cinzas e laranja claro. Os pássaros recolhiam-se aos ninhos e o som das ondas quebrando contra a beira da praia, pareceu-me ficar mais intenso. Recolhi a  minha vara de pesca, as tralhas que havia esparramado junto ao carro, e os peixes, (poucos) que tinha tirado naquela tarde de sábado.

   Havia ido pescar só. Por que minha companheira costumas, por estar com uma leve dor de cabeça, achou por bem, ficar arrumando nossa casa.  Não era normal isso ocorrer, mas naquele dia...aconteceu !
   Por ter ido só, fui apenas na metade do percurso que sempre fiz, mas mesmo assim, ficava mais ou menos uns oito quilômetros de distancia das casas do pequeno povoado praiano, e um pouco adiante da carcaça de um barco de pesca, há muito jogado pelo mar, à areia da praia.
   Revisei se estava tudo no carro, joguei os mariscos que sobraram(iscas) fora, para que eles voltassem a se enterrar novamente e se reproduzissem.
   Liguei o carro e acendi a luz das sinaleiras, pois ainda havia visibilidade suficiente sem precisar ligar os faróis, e me pus a caminho. 
    Quando já havia percorrido uns três quilômetros, percebi que um homem e um pequeno cachorro, estavam envolvidos com uma rede, e me pareceu que ele estava além de, com grandes dificuldades para puxá-la do mar; também os dois estavam enredados na mesma.
    Parei o carro, pois vinha em baixa velocidade e desci para ver se podia ajudá-lo em sua árdua tarefa. O carro ficara ligado e voltei para poder direcionar as luzes ao local. Conseguimos depois de muito esforço tirar a rede, que para a felicidade do pescador se encontrava cheia de peixes graúdos. Orlandio, era seu nome, e sem muitas palavras, mas com um leve sorriso, me presenteou com duas belas tainhas, voltando aos seus afazeres de desmalhar as outras. Nos despedimos e tratei de voltar o mais rápido que pude, pois a maré poderia subir e eu ficaria sem poder seguir pela beira da praia,  passando a enfrentar os cômoros de areia ; o que não é lá muito aconselhável, principalmente na noite .
  Chegando em casa , fui mostrar os peixes à minha companheira e ela não acreditando no que via, me disse sorrindo:
 - Não vais querer me dizer que tiras-te estas enormes tainhas no caniço ?
   Contei-lhe o acontecido, ganhei um beijo e aproveitei para tomar um banho, enquanto ela acomodava na geladeira os peixes, para na manhã seguinte limpar e certamente fritá-los, ou assá-los no forno.
   Após o banho, jantamos e fomos ver o ultimo telejornal. Minha cabeça começou a formigar, como se os cabelos estivessem eriçados, antes mesmo daquela apresentadora dizer:
    - Foi encontrado agora há pouco, pelos bombeiros, o corpo do pescador de nome Orlandio Rousta, e seu cão.  O pescador  havia desaparecido no mar, a mais de cinco dias, enquanto tentava salvar seu cachorro; que ficara preso na rede, colocada por ele e seus companheiros, à pescar tainhas.
     Levantei-me sem uma palavra, branco como cera, e corri a geladeira para conferir; ... e lá estavam elas...as tainhas!
    Enquanto a foto de Orlandio era mostrada na tela, eu estava ajoelhado rezando por sua alma, pois sabia que, os havia libertado da rede, para que pudessem ser  encontrados.
 

    Este é um conto imaginário, mas que tem muito a ver com meu credo espírita.
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 24/05/2010
Reeditado em 24/05/2010
Código do texto: T2275950
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