SOBRE RISCO
Afugentei-me num espaço, onde os caminhos eram sem limites. Um estranho trilho de curvas e labaredas que eu não conseguia identificar muito bem; fora algo como um labirinto de caminhos opostos, cercados por humildes casas com diferenciadas cores. Entrei num canto, sobre o sol escaldante que ardia acima da minha cabeça, no imenso céu azul. Olhei ao redor. Queria poder encontrar alguém naquele lugar surreal e sem sentido. Minha sombra me perseguia a todo instante, à medida que eu caminhava, pisando por sobre o chão de terra pedregoso. Quando então, com todo o tipo de razão possível, meu nervosismo se intensificou. Observei tão logo para frente, enxergando um enorme tronco de árvore caído no solo do substancial e confundível labirinto. Queria fugir. Alguma coisa me dizia para não seguir mais adiante; fora tudo muito medonho. Mesmo assim, decidi enfrentar o medo. Meu coração acelerado, enquanto meus olhos ficavam atentos a tudo, focando a visão em todas as direções possíveis. Cheguei perto do tronco enorme, e pulei com tamanha dificuldade. Segui mais alguns metros à frente, até dar num meio de outro caminho, desta vez onde se podia visualizar apenas uma casa. Uma casa onde eu poderia enxergá-la por dentro, subindo apenas num muro de poucos metros. Foi aí que não hora eu vi... Uma criatura alada, revestida de um traje meio característico de um réptil. Sua forma reluzente diante dos raios do sol jazia em uma forma excepcionalmente arredondada e musculosa. Um homem de cabelos pretos lisos, com armaduras que interligavam umas a outras em seu abdômen definido. Fiquei por analisá-lo e então de repente ele focou seu sério olhar contra os meus. Eu assustei. Deixei de olhar a área da casa, caindo e tombando minhas costelas contra o chão. Gemi de dor, enquanto eu corria por entre o caminho deserto, tropeçando entre as pedras ao meu redor. Naquela exata hora só queria voltar pra minha casa e esquecer tudo aquilo, mas diante de tudo fora uma surpresa para mim quando me esbarrei com algo mais estranho ainda. Um enorme leão faminto, em busca de sua presa. Parei de correr, enquanto o animal ficava de frente, pronto para atacar. Ele mostrou suas enormes entranhas nos grandiosos maxilares largos. Fora o bastante. O leão começou a correr e eu sem esperar também corri, me infiltrando nos caminhos que vinham a seguir a minha frente. O sol ardente queimando minha epiderme enquanto tomava fôlego. Corri... Corri... Corri tanto que minhas pernas tremiam a toda hora, fazendo- me desequilibrar. Enquanto o leão vinha logo atrás de mim, senti meu medo e a adrenalina tomar conta total do meu eu. Fora isso e mais nada. Dali por diante foi como um desafio em decorrência da sobrevivência. Sem dúvidas o leão estava sedento de fome, e naquela hora da tarde estava em busca de uma presa bastante acessível. Mais, contudo, eu estava lutando para que essa presa não fosse a mim. Quase dez minutos se passou (algo como um grande tempo para eu tentar escapar), e já tinha chegado ao meu limite. Não conseguia mais correr. Minhas pernas doíam, meu corpo todo latejava e eu por outro lado precisava de água. Muita água para então recuperar um pouco de fôlego. Eu sentia que ia desfalecer. Dobrei-me num beco bem próximo dali – no caminho de terra -, e me escondi, para tentar enganar o animal selvagem, já que seria um pouco complicado, pois o leão farejava o meu cheiro o tempo todo. Mesmo assim, me sentei em posição de cócoras ao lado de um pequeno arbusto de folhas secas, e por de trás dela, vigiei o leão se aproximando. Aproveitando o esconderijo, dali eu percebi como ele realmente era grande, com seus pelos espessos e sua juba mais que grandiosa. Seus olhos, porém era de um adorável castanho escuro, em volta dos seus largos cílios e sombra celhas escuro como carvão. Ele girou seu corpo, ao redor, tentando encontrar meu cheiro. Não obteve resultado. Foi quando uma maldita pedra me fez esbarrar com extrema força no chão, me fazendo torcer o pé na mesma hora. A dor foi profundamente insuportável. O leão escutou meus gemidos agudos, e foi em minha direção, de modo que me esforcei a levantar rapidamente e correr. Entrando mais uma vez numa fuga, que parecia não acabar mais. Corri mancando, senti que na hora iria morrer. Não estava mais agüentando tamanha dor em meus ligamentos no pé esquerdo. Eu transpirava ao todo, de modo que tentava buscar um pouco de ar. Quando de repente, não consegui mais permanecer correndo. Tombei com minha mão sobre o pé, e chorando controladamente. Só fui perceber que meu fim estava muito próximo, quando o leão gigante ficou bem próximo de mim, olhando com seu olhar extinto selvagem. Eu tremi, confesso. E muito. Meu corpo todo ficou imóvel, sem se mexer, só esperando aquele grande corpo me atingindo por inteiro. Meus olhos lacrimejaram. Olhei pela última vez para o céu e escutei os rosnados do animal. Ele foi numa corrida avançando em mim, num grandioso rugido quando de repente algo aconteceu. No momento do seu extenso pulo, o leão sem ter tempo de me atacar, caiu de lado morto, com uma enorme lança em seu peito. Quando eu desviei o olhar sobre ele, e procurando quem tinha feito aquilo com o animal, aí a surpresa foi mais inesperada. O homem de armadura, aquele com o qual encarei há um tempo. Ele permanecia parado de pé, com vários objetos de ataque sobre as costas. Ele me encarava com seu olhar misterioso e fiquei sem o que dizer. No instante seguinte, pensei que ele iria também querer me atacar, mais não fora o que pensei. Ele seguiu diante ao leão morto, com um nobre silêncio estampado em sua face séria, e tirou a lança, cuja pingava no solo fofo o sangue do bicho selvagem. Limpou a ponta da lança com um pequeno pedaço de pano, e foi logo voltando para onde tinha vindo. Antes mesmo de partir, eu o chamei, num breve grito e disse: - Obrigado. – Num aceno de cabeça. Olhou-me uns cinco segundos, e deu outro aceno ao longo, partindo com a lança entre a mão direita. Dali por diante, foi só o que lembrei, por que logo em seguida só vi um grandioso foco de luz branco inundando o infinito céu azul ensolarado.