Dois Agentes - Certificado de Insanidade - Parte 2

DOIS AGENTES PARTE 2 –

UM CHAMADO A LIBERDADE

Pode-se ver muito melhor a vida observando-a de uma janela.

FRANCIS SCOTT FITZGERALD

Prólogo

ANO DE 1773, NALGUM LUGAR DO ESTADO DE VERMONT.

O anoitecer precoce nas colinas anuncia sem atraso a chegada do inverno, quando os primeiros flocos de neve caem sobre a região rochosa que ocultam, na penumbra, um grupo de homens. Um deles observa, num ponto avançado, estranhas atividades e luzes em um platô. Seria ali o fim da busca iniciada havia alguns dias, numa pequena vila de fazendeiros franco-canadenses, onde a filha de um capitão-mor desapareceu dum convento e um padre foi encontrado completamente ensandecido por visões sinistras, alegando vultos de índios.

Ao anoitecer o grupo se divide estrategicamente e toma de assalto o local, massacrando os índios que estavam num estranho e blasfemo culto, donde sons além da compreensão humana ecoavam de dentro duma caverna no chão. Sem êxito na busca da garota, o grupo sela com explosivos as câmaras obscuras, onde numa luxúria demoníaca, sons incompreensíveis são abafados para toda eternidade, junto a uma esquecida e pura voz, agora rouca e cansada, que pedia por socorro antes que o ar lhe faltasse aos pulmões...

CAPÍTULO 1

O tempo era algo esquecido. Somente sabia-se o que era ele, olhando para os céus, o que muitas vezes, podia-se esquecer de fazer tal coisa. Muitos males da alma são curados assim, jogando o tempo ao segundo plano. Pois o tempo cria a urgência, que propicia-nos a cortar a cabeça de dez hidras.

O nome do local chama-se Retiro do Frei Hughes, fundado por Jeremiah Hughes há pouco mais de 200 anos, próximo aos morros que se elevam escarpados com vales ornados de matas cerradas, nas quais nenhum machado jamais operou.

Numa área de vários hectares, estão situados três blocos, na qual o centro consiste na estrutura principal, construída de pedras cinzentas erguidas com perfeição, formando dois andares. Faceados de grandes janelas, e ao centro dum belo pátio ao centro, donde, descendo as escadarias ornamentadas por arranjos das árvores, chega-se a um enorme e perfumado jardim, divididos por passarelas, e contornado de estradas de acesso em barro, que conduz a frente do casarão principal, Monsenhor Belford.

Havia mais dois blocos, o do lado leste, bloco Madre Vixen, é uma estrutura elevada por uma base de concreto enegrecido e coberta de limo, parcialmente imerso num lago de águas silenciosas que espelham o céu cinzento que paira pelas montanhas. Há também árvores antigas, algumas até podres, que circundam de forma irregular o caminho a este lado do retiro; neste bloco é onde ficam os pacientes na qual requerem um tratamento especial, normalmente pessoas vítimas de derrames vasculares, paraplégicos e outras enfermidades que os mantêm em estados vegetativos.

O bloco oeste, Santa Casa Armitage, assim como o leste, é composto de dezenas de leitos, um salão de refeições, uma pequena capela e algumas áreas de lazer e descanso.

A Delta Green envia os agentes Paul Stewart e Constantine Manfredine - totalmente desequilibrados emocional e psicologicamente depois do estranho caso não resolvido na cidade de Milford Haven – a este lugar de aparente paz e tranqüilidade. Paul cria uma certa fobia a cadáveres, enquanto Constantine teme seriamente o escuro em todas as suas formas.

Dois meses se passaram. Depois de tratamentos e terapias, Constantine ao que parece, vai controlando o seu vício de cigarros e de álcool, ao mesmo tempo em que Paul vai entendo a importância de cada ar respirado.

Era uma manhã como sempre tranqüila. Os dois agentes, sem muito contato com mundo lá fora e agora num estado emocional mais brando, caminham pelos jardins do retiro, acompanhados duma adorável irmã chamada, Anna McNingann. De repente, um tumulto formado próximo ao lago a norte do bloco Madre Vixen chama a atenção. Havia um certo número de pessoas ao redor do lago, quando dois enfermeiros retira o corpo dum idoso da água, o qual estava com um semblante assustado e lívido. Constantine começa a ter a reminiscência de que já conhecera aquela pessoa de algum lugar, mas suas lembranças não conseguem ir além. Rapidamente, o corpo é levado para a enfermaria e a multidão é dispersa.

Surpresos por acontecer alguma coisa de interessante depois de dois meses, os dois investigadores resolvem averiguar o que realmente aconteceu àquele senhor. Um enfermeiro revela que o nome do idoso era Artie Fillmore, ex-agente do FBI, em Nova York, que ficou paralítico devido a um acidente de carro. Assim, Constantine se recorda que o idoso se ocupava de casos referentes a ocultismo e sobrenatural.

É chegada a hora do almoço, no entanto, as dúvidas aumentam na mente de Paul e Constantine: como um paralítico iria se atirar pela janela, se esta ficava trancada o tempo todo? Será que alguém o empurrou propositalmente? Consumidos por tais desconfianças, Constantine não percebe a presença dum estranho ao seu lado. Ele, que tinha um corpo atlético, pergunta o porquê do agente está ali. Este nada satisfeito por alguém estar interrompendo o seu almoço, profere impropérios contra o estranho. Tomado pela fúria incontrolável, este parte para cima de Constantine, o qual é pego de surpreso pelo ataque. Paul tenta dar uma cotovelada na nuca do estranho, contudo a fúria é uma anestesia para a dor. O estranho, então, dá uma mordida no trapézio de sua vítima. Paul, não vendo jeito de conter a raiva do estranho, chama os enfermeiros, que chegam logo em seguida, separando o predador de sua presa. Decorrido o confronto, Constantine é mandado para a enfermaria, acompanhado de Paul.

Na enfermaria, eles encontram Artie, o idoso. Os dois investigadores se apresentam e Constantine afirma que o conhecia de Nova York, contudo, Artie não consegue se lembrar dele. Perguntado sobre o que realmente aconteceu, Artie conta a eles o seu sonho: era uma linda jovem chamada Mari; tinha traços duma bela francesa. Ela estava presa numa caverna e pedia por socorro; sua voz era distante e ao mesmo tempo real. Havia pessoas estranhas que a circundavam, cânticos incompreensíveis, risadas demoníacas que se regozijavam pela cena cruel. Havia também uma luz, uma ínfima luz atrás das janelas. De repente, um corpo a cair no rio, os pulmões clamando por oxigênio. Então, a luz se esvai numa súplica respiração.

Meio perplexos com o que foi relatado, Paul Stewart e Constantine Manfredine resolvem ajudar Artie a encontrar tal caverna e, com isso, tentar achar a tal jovem que roga por ajuda. Para isso, eles se dirigem à biblioteca com a finalidade de pesquisar mais sobre história local do Retiro do Frei Hughes.

Logo depois da janta, eles varam a madrugada a procura de informações, no entanto, são encontrados apenas fatos já sabidos por eles.

Pela manhã, Constantine leva a crer que a tal caverna se encontra fora das limitações do retiro. Assim ele convence Paul a irem averiguar se tal local existe. Quando eles estavam a sair das imediações, um dos enfermeiros avista Paul. Este finge estar estudando as vegetações locais, não obstante, ele recebe uma advertência do enfermeiro para que fique a vista caso aconteça alguma coisa.

Como Constantine estava um pouco à frente, o enfermeiro não o avistou. Percebendo que não poderia contar com ajuda de Paul, Constantine resolve sondar o local sozinho. Ele escala o cerco de pedra e desce uma serra íngreme que parecia não ter fim. Passados algum tempo em observação, em meios às esquálidas árvores da região, Constantine encontra um local peculiar, na qual vêem-se pedras dispostas de maneiras aparentemente aleatórias para uma mente não treinada, mas o investigador em sua astúcia, percebe que se trata de uma espécie de local para cultos indígenas no passado, no entanto, não havia mais indícios. Logo depois, uma floresta com vegetações fechadas é vista logo à frente. Passada a floresta, ele percebe uma área aberta com solos rochosos, tipo cascalho. Decorrido algum tempo, ele percebe que não havia mais sentido ficar ali, pois já teria averiguado grande parte do terreno.

Na volta, Constantine se encontra furtivamente com Paul e relata suas infrutíferas descobertas. Então, Paul sugere ao colega, para que eles fossem ter novamente com Artie. Chegando à enfermaria, Artie recomenda aos investigadores que estes averigúem o seu quarto, porque os enfermeiros o mantêm trancado.

Furtivamente, eles adentram o Bloco da Madre Vixen. Já no corredor do quarto de Artie, Paul e Constantine encontram a porta trancada. Constantine tenta chutar a porta, mas Paul o adverte, afirmando que consegue arrombar a porta. De repente, a sombra duma freira surge na curva à direita do corredor. Rapidamente, Paul consegue forçar a porta e os dois agentes entram no quarto de Artie. Era um singelo dormitório, com uma cama, um pequeno guarda-roupa, um banheiro limpo e uma janela na qual estava fechada. Após uma verificação rigorosa, Constantine encontra um prendedor de cabelo, com inscrições e desenhos indígenas, abaixo da cama do idoso.

Satisfeitos com a descoberta, eles vão visitar novamente Artie. Este conta que o tal artefato lhe foi presenteado por uma linda enfermeira, há uns cinco anos atrás. Ele narra também que faz seis a oito meses que não a vê. Então, Paul sugere que seria mister ele e o seu colega cuidarem, por um curto período, do artefato, o que Artie concorda.

No ápice na madrugada, Constantine teve sonhos que se pareciam muito com os de Artie, mas as visões foram mais intensas, onde se remata que a experiência é mais importante do que o saber. O agente sente náuseas nas profundezas duma caverna. Havia uma súplica distante, cânticos incompreensíveis e amedrontadores. Ele se aproxima e descobre que o pedido por ajuda vinha de jovem loira de estatura média, olhos azuis e pele branca. Suas roupas remetem ao tempo da colonização inglesa nos EUA e seu nome já era conhecido, Mari. Havia pessoas totalmente irreconhecíveis em sua volta. Subitamente, uma luz aparece, então, o investigador se vê na beira dum abismo. Ao tentar alcançar essa luz, ele cai neste precipício profundo, o qual era apenas a altura de sua cama e a luz era apenas a lâmpada fluorescente do seu quarto.

Ele acorda sobressaltado, transpirando ao máximo e com uma respiração acelerada e em desarmonia. Claro, tentar dormir novamente é uma idéia absolutamente inútil depois deste nefasto sonho. Então, ele sente uma extrema vontade de fumar e de beber. Vale ressaltar que após o caso não resolvido de Milford Haven, Constantine só dormia com as luzes acesas, pois sabe-se que o escuro é o silêncio para as pessoas que não acreditam nas palavras e na verdade nunca dita, mas vivenciada.

Pela manhã, Constantine conta o seu sonho ao seu colega e a sua incrível ânsia por um cigarro. Depois de muito pensar, eles descobrem que o tal sonho está relacionado ao artefato, o qual estava em poder do próprio Constantine. Antes de eles irem visitar Artie, Constantine suborna facilmente um enfermeiro para que este compre sete carteiras de cigarro. Chegando ao quarto de Artie, eles indagam se este teve, na noite passada, alguns daqueles pesadelos que vinha tendo. A resposta fluía como o cair da neve, ou seja, ele nunca dormiu tão bem. Até mesmo sonhou com os estepes da Rússia. Todavia, Artie aconselha aos dois agentes investigarem a freira que lhe dera o artefato, além de sondarem com mais detalhe - através dos diários ou escritos dos padres e das freiras - a história deste retiro.

Como a freira - que dera o artefato a Artie - conseguiu tal item? Por que, na biblioteca, a história do retiro é tão pouco aprofundada? E quem será Mari? Apenas um espírito atormentado esperando a liberdade? E por que as perguntas limitam o crescimento interior?

CAPÍTULO FINAL

As respostas não estão no mundo exterior, então por que não focalizar a busca em si mesmo, por que não enterrar de vez as neuroses que nos assolam? Por último, por que o porquê é tão angustiante? A resposta é simples, e por ser simples, nós a complicamos, porque nós perguntamos demais e aceitamos de menos.

Por ainda não aceitarem os fatos como eles realmente são, Constantine Manfredine e Paul Stewart resolvem mais uma vez sondarem além das limitações do retiro. Era mais ou menos oito e meia da noite. Desta vez, eles conseguem sair furtivamente do retiro e seguem para o local onde Constantine fora antes. No entanto, o escuro o assolava de forma intensa. Chegando ao local, eles descobrem um crânio no chão meio desgastado pelo tempo. Surpreso por não ter descoberto isso antes, Constantine pede a Paul para que o ajude a desenterrar aquilo. Assim, para espanto dos dois agentes, é encontrado um diário sujo e consumido pelo tempo também, além de um mosquete do século XVIII. Felizes com a descoberta, eles voltam para o retiro com o tal diário.

O diário, apesar dos garranchos, ainda era legível. Eis o seu conteúdo:

“A noite está tenebrosa, flocos de neves caem mais cedo do que o previsto. Mclean está planejando atacar um grupo de índios suspeitos. Suas músicas agonizam os nossos ouvidos, por que não atacamos logo? Sim, o plano tem que ser executado com perfeição, pois devemos resgatar Mari, a filha mais nova do capitão Duke. Mas, um dos batedores afirma não tê-la visto no local, onde os índios proferem suas malditas músicas, e ele afirma também que ela poderia estar numa caverna subterrânea localizada ali onde estavam os índios. É chegada a hora, estou vendo Mclean sussurrando ordens aos homens, inclusive a mim. Estamos bem equipados, os índios não têm a mínima chance. Mclean divide o grupo, eu irei comandar o ataque ao norte, enquanto ele ataca do sul, sendo o primeiro tiro dele, o sinal para avançar”.

“Não conseguimos encontrar a senhorita Mari. Massacramos os índios. Eram uns tipos estranhos, pois estavam com mantos negros, diferente dos padrões de suas vestimentas. Achamos que o padre Strucgan está realmente ficando louco, porque a senhorita Mari não estava naquele local. Mclean resolve então selar a caverna com dinamites. Meus ouvidos, ó santo deus, que grito nefasto foi esse? Meu Jesus Cristo, o que é aquela coisa saindo do chão?”.

“Conseguimos selar a caverna, mas aquela coisa saindo da caverna é aterrorizante. Não consigo esquecer aquele momento. Espero que a explosão a tenha destruído...”.

Inebriados pelo que acabaram de ler, Constantine e Paul decidem ir mais uma vez até a biblioteca pesquisar sobre os cultos praticados pelos índios no século XVIII. A única coisa interessante que eles acharam foi relativo aos cultos de fortalecimento da carne praticados pelos ABENAKIS, através de cânticos e danças aos espíritos da terra; isso era feito em períodos de guerras contra os colonos franceses. Havia estranhos relatos de velhos com força vitais de jovens e raptos estranhos, nas quais jamais os corpos eram encontrados.

Nada satisfeitos com a descoberta, eles resolvem questionar Artie sobre os cultos praticados pelos índios naquele período. O idoso revelou apenas o que cotinha nos livros pesquisados pelos agentes.

Ao ir ao banheiro do quarto de Artie, Paul descobre uma pequena rachadura de apenas 1,5cm de largura no chão, perto da pia. Ele pára e observa o pequeno orifício no chão. Subitamente, ele vê um relance de luz bruxuleante em tons de azul e cinza lá em baixo. Sobressaltado, ele chama Constantine para dar uma checada naquela cena. Ele vê a mesma coisa que Paul. Então, ambos têm a convicção de que a tal caverna estava, todo esse tempo, bem abaixo dos seus pés. A tese do pensamento pelos dedos dos pés está concretizada.

Assim, Paul e Constantine passam toda a manhã e toda à tarde planejando a entrada na caverna, ou seja, analisando as plantas do retiro – na verdade eles roubaram a cópia que ficava na administração – o horário para eles entrarem, os materiais que iram ser usados, tudo enfim. Eles escolhem o jantar como o melhor horário para executar o plano, pois todos estariam distraídos saciando a fome, incluindo os enfermeiros. Furtivamente eles saem do bloco do Monsenhor Belford, atravessam cautelosamente o jardim e curvam-se pelo lado esquerdo do bloco da Madre Vixen. Na planta deste bloco indicava uma descida na lavanderia que vai dar na fundação do Bloco, o qual ia dar no quarto de Artie.

Eles amarram a corda numa ferramenta de jardinagem e lançam no terraço do bloco. Quando Constantine está para atingir o terraço, ele vê a imagem duma sombra demoníaca. A face da besta tinha muitos olhos, a pela era branca ao extremo e os dentes afiadíssimos. O ser humano, em sua grande maioria, não aceita o que é estranho. O receio pelo que é desconhecido gera pânico, um estado emocional que seria inútil se o bem e o mal fossem um só. Tomado pelo intenso medo, Constantine larga a corda e cai, derrubando Paul que estava logo abaixo do colega. A queda fez Constantine incapacitar os dois braços e Paul torcer gravemente o tornozelo. Os dois agentes gemem de dor, chamando, assim, a atenção dos enfermeiros. Estes, sem entender nada do estava acontecendo, leva-os para a enfermaria.

Pela manhã, Paul e Constantine passam por uma série de teste, perguntas e análises por parte dos médicos e psiquiatras do retiro. Isso aconteceu devido aos fatos não esclarecidos pelos agentes: o que eles estariam fazendo naquele local? Qual era o propósito daquela corda e como eles se machucaram a ponto de um quebrar o dois braços? Os dois investigadores se saíram muito bem nos interrogatórios, mostrando convicção no que diziam e até convenceram os interrogadores que averiguassem, junto com os próprios investigadores, o tal duto de esgoto. Os médicos e os psiquiatras concordam em enviar o zelador, dois enfermeiros e os próprios agentes, quando estes se recuperarem dos ferimentos.

Passada uma semana, eles se esgueiram pelo duto de esgoto. Era um ambiente escuro com vigas enegrecidas pelo tempo, e limosas pela insalubridade do local; o chão e as paredes cavernosos, já irregulares pelas infiltrações que em pontos cobrem as panturrilhas dos visitantes. Ao descerem por um túnel estreito, eles ouvem um grito infernal que abalou os sistemas nervosos do zelador, fazendo-o largar a lanterna. Depois disso, veio o eterno e angustiante silêncio. De repente, um dos enfermeiros tenta convencer os dois agentes de que eles nunca ouviram aquilo, tudo era fruto da imaginação deles. Não obstante, não é possível negar a experiência, pois é a partir dela que surge a lenta, mas eficaz maturidade.

Paul tenta persuadir o enfermeiro de que o que aconteceu há um minuto atrás foi tão real quanto o ar que respiramos, mas que não percebemos. Ao que parece, o enfermeiro não se deixou convencer. Aproveitando a distração, Constantine apanha a lanterna do zelador do chão e pula no túnel estreito. Paul dá um chute nos testículos do enfermeiro e vai ao encontro do colega.

De repente, Paul Stewart e Constantine Manfredine se vêem numa caverna de ar abafado e uma escuridão sem fim - iluminado apenas pela lanterna de Constantine - no mesmo momento que o enfermeiro os chama de volta. Contudo, a determinação de seguir em frente derruba todas as barreiras, inclusive a do próprio pensamento. A caverna tinha um terreno irregular; adiante, eles vêem um desfiladeiro improvável que, com cautela, os agentes descem até pararem numa parte que deixava passar pelas frestas uma iluminação fraca, mas o suficiente para revelar alguns corpos de exploradores esquecidos pelo tempo.

Paul sente que várias sombras o perseguem, enquanto seu colega experimenta essa sensação com maior intensidade. O único pensamento que os motiva era o de apenas seguir em frente, e foi o que eles fizeram. As sombras ameaçavam dominá-los, no entanto, o mal não assombra aqueles que apenas seguem em frente sem perguntar o porquê. Após dez minutos de caminhada, eles se deparam num lugar fechado. A área era grande e alta o suficiente para caber um avião de médio porte, era um terreno acidentado num declive que leva a um buraco de pelo menos 8m de diâmetro. Paul clama por Mari, mas ele não ouve nenhum som a não ser o eco da sua própria voz.

Abruptamente, eles escutam, mais uma vez, aquela demoníaca voz vinda do buraco do centro do local donde eles estavam. Então, uma enorme criatura gosmenta e azul sai de dentro do buraco. Seus vários olhos e bocas com terríveis presas flutuam nas gosmas, dando-lhe um formato dum grande lago maldito.

Paul e Constantine não pensam duas vezes e acabam fugindo. O monstro tenta alcançá-los, mas os agentes são mais ágeis. Bem na frente, um zumbi consegue agarrar a perna de Constantine, que tenta se livrar, dando chutes no ser grotesco. Paul consegue encontrar um sabre meio enferrujado e decepa a cabeça do zumbi. Então, ele descobre cargas de pólvora negra nos chão e tenta encontrar um local propício para acendê-las. Nesta procura, eles encontram um cadáver familiar, era o corpo de Mari e que por coincidência estava no local favorável de se colocar as cargas de pólvora negra. Enquanto Paul carregava o corpo de Mari, Constantine acendia os explosivos.

Quando eles chegaram na subida do túnel, é escutado um enorme estrondo, assim como um enorme grito agonizante de dor. Os dois agentes caem no chão fatigados. Então, Paul contempla a face cadavérica de Mari, e pensa em quão bonito seria aquele rosto. Realmente, o fim da beleza é o começo do sofrimento para aqueles que acreditam na eternidade.

- Paul, acorda! Até parece que está hibernando.

- O que aconteceu Constantine? Que local é esse?

- Não reconhece? É um dos quartos reservados aos agentes da Delta Green. Eles acham que já estamos psicologicamente normais.

- Mas e a tal caverna? Quais providências eles tomaram?

- Foi destacado um enorme número de agentes para selarem a tal caverna, enquanto estávamos no nosso sono forçado de tranqüilizantes.

- Como sabe disso tudo?

- Somos investigadores. O objeto do nosso trabalho é a pergunta. Pensei que soubesse disso. A propósito, há três dias atrás você clamava por Mari e que ainda poderíamos salvá-la e tudo mais. Os médicos da Delta Green achavam que você estava delirando, mas hoje de manhã você não mais chamou por ela. Por quê?

- Simples, aceitei o fato de que ela estava morta.

- Que diabos você está dizendo homem?

- O quê? O que foi que eu disse?

Ramon de Freitas Ribeiro
Enviado por Ramon de Freitas Ribeiro em 01/04/2010
Código do texto: T2171648
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