A sombra Assombra!
Passos pela noite, acordado, ouvindo os gatos no telhado. Os Felinos, zaragata, quase quebrando as telhas acima dele. Isso não o assusta. No entanto se alguém acender a luz. Ele borra todo de medo. Desde criança ele teme a luminosidade, o clarão do sol. Tem mania de andar de óculos escuro. Para não ver o que te persegue.
A infância pobre. Vivia pelos cantos a chorar. Sua mãe não suportava seu choro; ritmado, repetitivo, sempre na mesma cadencia: um longo, um curto, um curto e um longo. O pai dizia: - Esse menino tem que benzer! A mãe não entendia, será que era para o menino benzer ou ser benzido? Entretanto ela não fez nem um tampouco o outro.
O pobrezinho já contava sete anos, descobriu a escuridão, então passou a dormir mais tranqüilo. Quando apagava todas as luzes. Podia ver no breu do quarto que ele sonhava sorrindo. Os anos de escolas foram torturantes para ele. Ver todos os coleguinhas serelepes, brincando pelo pátio na hora do recreio. Enquanto ficava atrás da porta da sala de aula. Por se lá o ponto mais escuro da sala.
Suas mãos doíam, ao deslizar o lápis sobre a pauta alva, tremia ao ver o grafite, tingindo o clarão da pagina do caderno. Mórbida, obsessão, aos quinze anos. Surgiu na sua vida Clara! Outra decepção, ao ouvir aquele nome.
“-Tinha que se Clara?” Ele pensava. “-Não pode ser: Nega, Preta ou moreninha?” Mesmo assim namoraram por uma ou duas semanas. Ela não suportando ele tentar lhe trocar o nome. Rompeu com ele. Apesar do nome dela, ele nunca a esqueceu. Com isso os óculos escuros sempre na cara.
Ate mesmo na hora do banho, os usava. Almoçava, jantava, estudava com os óculos. Sua alimentação é um pouco estranha: rapa de arroz queimado, feijão preto e bife bem passado. Nada de ovo frito ou cozido, mandioca, batata nem pensar. Carne branca como: peixe, frango. Tem pra ele passagem de graça.
Seu quarto é pintado de preto. Suas cortinas são negras, seus moveis é uma negrura total. Incrível, como se adaptou a negritude dos ambientes em que fica! Hoje ele não chora, mas treme ao ouvir a palavra luz, pois a sombra que lhe persegue o assombra.