RENATA


Cléber Ferreira (Cabo Ferreira), como era chamado por seus colegas de trabalho, era uma pessoa por demais compromissada com a responsabilidade e o Exército era para ele, uma oportunidade inigualável para exercitar suas condutas de soldado.

Cléber, havia se alistado no Exército com o firme propósito de seguir carreira e ao término do aprendizado de um ano, quando sua turma fora dispensada, Kleber manifestou vontade em permanecer. Logo fez um curso dentro do próprio Exército e conquistou a patente de Cabo. Aquilo era para ele, apenas o começo de uma série de cursos que pretendia fazer para que pudesse em dois anos no máximo chegar à tão almejada patente de Sargento.

O cabo Ferreira, embora fosse amigo dos colegas de trabalho se mostrava uma pessoa muito severa, de poucas brincadeiras, poucos risos, mesmo assim, numa tarde indo de volta para casa dos seus pais, entrando numa padaria a levar um pão quentinho para casa, avista no lado direito do balcão uma moça vistosa, que o olhava de longe, Cléber trocou olhares com a moça e seguiu para sua residência.

Por algumas outras vezes ao retornar para casa, outros olhares foram trocados no caminho para a padaria ou dentro da própria. De tantos olhares e breves sorrisos por parte da moça, Cléber postado bem por detrás dela na fila do caixa, fala próximo o seu ouvido. ¨ “Hoje, deixa que eu pago suas compras.”

A moça a princípio se assustou não contava que aquele moço tão sério fosse algum dia falar alguma coisa para ela, refeita, olha pra trás e comenta: Imagina são apenas guloseimas que compro quando por aqui passo, antes de ir para o colégio. Kleber insistiu em pagar as compras da moça e ela olhando para ele com aquela mesma feição séria que lhe era peculiar, acabou por aceitar.

O Cabo Ferreira naquele momento trajava uma farda impecável que ele próprio fazia questão de engomá-la. E foi por essa ocasião que se aproveitou para acompanhar a moça até aonde estudava. Foram conversando, ela falava muito mais que ele, num determinado momento, em contando algo acontecido dia anterior na sala de aula, a moça pode pela primeira vez, ver um pequeno sorriso nos lábios do rapaz.

Outros encontros aconteceram e logo ficou sabendo que a moça se chamava Janete e que morava com seus pais numa rua próxima do colégio. Não demorou mais do que dois encontros, para que Cléber demonstrasse sua vontade em namorar a moça, marcando com ela um encontro no portão de sua casa, pois, os pais de Janete eram muito rígidos, não permitiriam jamais que ela saísse sozinha com um rapaz.

Nos encontros, Cléber contava como era sua vida lá no Exército e de como amava aquilo que fazia, contava das suas aspirações em um dia poder ser Sargento, patente que pra ele era até mais interessante, do que a de Tenente. Cléber explicava que embora os Tenentes tivessem mais regalias e ganhasse bem mais, ele gostava mesmo de estar perto da tropa, oferecendo pra ela o ensinamento necessário no desempenho das funções militares.

Janete ouvia tudo com atenção, podia perceber o orgulho que o rapaz demonstrava em ser o que era e isso ficava mais evidente, pois, essa era a única hora que Kleber
conversava por minutos ininterruptos com ela. Janete contou como era sua vida com seus pais, disse que havia namorado um rapaz há uns oito meses atrás, um que estudava no mesmo colégio que ela, mas, o namoro foi interrompido por conta dos pais do rapaz por motivo de trabalho, ter de se mudarem do Estado.

Logo Kleber conheceu os pais de Janete e mais rápido do que Janete imaginava, manifestou vontade de marcar o noivado. É claro que a notícia agradou muito aos pais da moça e principalmente a própria Janete que naquela ocasião se encontrava bastante apaixonada pelo Rapaz.

Do noivado ao casamento foi um pulo e num sábado chuvoso do mês de fevereiro, Janete e Cléber, trocaram alianças.

O cabo Ferreira se encontrava muito feliz, com sua esposa e com a notícia que naquele ano ainda no final de novembro, haveria uma prova para Sargento e aquilo era tudo que ele queria. Janete não demorou três meses de casada, para dar ao marido a notícia que estava grávida. Cléber se emocionou ambos se emocionaram se abraçaram e choraram na mesma alegria do acontecimento.

A futura mamãe havia combinado com o marido que se o bebe fosse do sexo feminino caberia a ele dar o nome para a criança, caso contrário, Janete escolheria o nome do menino e de pronto perguntou ao marido no caso de menina, qual nome ele gostaria chamar sua filha. Cléber sempre dizia que tinha certeza que era um menino, mas, que iria pensar num nome de menina por desencargo de consciência.

Os meses passaram rápidos de mais, outubro já se iniciava Janete, com cinco meses de gestação, sempre que não podia disfarçar a ansiedade, indagava do marido qual nome sua filha teria. Janete dizia pressentir que era uma menina, Kleber ainda na esperança de vir um menino, dava sempre um jeitinho pra não se comprometer com algum nome.

Final de outubro, Kleber e mais dezesseis colegas, ingressos no curso de Sargento, teriam de partir em uma semana a cumprir tarefas de exercícios de resgate no interior do Estado na Cidade de Casimiro de Abreu. Eram exercícios pesados, proferidos numa região de montanhas, onde os Cabos em questão ficariam por ali acampados por cerca de trinta dias, pois, além dos exercícios de salvamento e resgate em mata, deveriam os alunos, também passarem por um teste de sobrevivência.

Dois dias antes de viajar, Janete conversando com o marido, brinca com ele logo após o jantar: “Pode ir dizendo o nome de sua filha, isso mesmo, tenho certeza que vai ser uma menina,” Cléber deu um breve sorriso e disse: Logo que eu voltar da viagem, prometo que de presente lhe trago o nome da menina. Janete pode ver o brilho intenso no olhar do marido quando falou da filha.

Era uma quinta feira de outubro, quando o Cabo Ferreira se despede de sua esposa com um caloroso beijo, ela chora por demais por ter de ficar um mês inteiro sozinha e ainda por cima grávida de cinco meses. Cléber vendo a aflição da esposa pede para que ela retorne a casa de seus pais, enquanto ele estivesse fora. Mas, Janete diz que a casa dela era aquela e que não se preocupasse que em qualquer necessidade ela, iria para casa dos seus pais.

O Cabo Ferreira ao despedir já andando para o ônibus que o levaria até o quartel, diz para esposa: Não pense que esqueci o nome do menino digo da menina, trarei para você quando voltar.

Os dias passavam arrastados para Janete, a impossibilidade de comunicação com o marido era de tudo o que mais a incomodava. Aquela primeira semana havia sido difícil, para os dois. Cléber no meio da floresta junto com seus companheiros, tentando cumprir todos os exercícios necessários para a prova final do curso de Sargento e Janete ansiosa se sentindo sozinha por demais, por isso, resolve que no final da semana seguinte iria passar alguns dias com seus pais.

E assim o fez, seus pais a receberam saudosos, a filha ao se casar fora morar em outra cidade distante e desde o casamento só haviam se visto por uma vez. Por outro lado a companhia da mãe, do pai e da sua irmã mais nova, fez com que Janete suportasse melhor, aqueles dias vazios da mesma forma que, se sentia mais segura junto da família.

Janete passou a comer mais, por conta da gravidez e isso às vezes, trazia alguns desconfortos ao deitar-se e foi no meio de um desconforto desses, que Janete já deitada por mais de uma hora sem conseguir dormir vira pro outro lado da cama e pressente alguém a olhando, abre os olhos e vê em frações de segundos a imagem do seu marido se aproximando para logo depois de um breve sorriso tímido, sussurrar em seu ouvido, (Renata) e tudo se desaparece quando Janete imediatamente senta-se na cama.

Janete acorda angustiada, precisava saber notícias do marido, comenta com sua mãe o ocorrido, sua mãe pede para que ela não se preocupasse que isso era muito normal acontecer em mulheres quando estão grávidas, sonham, tem pesadelos quase todos os dias e assim, o dia se passou melancólico para Janete.

Noutro dia, uma sexta feira logo pela manhã, Janete resolve retornar a sua casa, em
retornando, uma vizinha lhe chama para avisar que um carro do exército
esteve logo cedo em sua casa. Haviam batido na casa dela (vizinha) de modo saber onde poderiam encontrar a esposa do Cabo Ferreira. Em não sabendo informar eles foram embora, pedindo que se eu a encontrasse avisasse que havia ocorrido um acidente durante o curso com seu marido e que a senhora deveria procurar o quartel assim que chegasse.

Desesperada, Janete mal podia permanecer de pé, a vizinha a segurou, colocou uma cadeira para que se sentasse e depois de refeita, pediu que um dos seus filhos o mais velho, lhe acompanhasse até o quartel.

No quartel, o Capitão Gomes, informa o falecimento do Cabo Ferreira, acontecido dia anterior por conta da queda que sofrera no decorrer de um dos exercícios de resgate.
Explicou que ela poderia ver seu marido e que ele seria sepultado com todas as honras militares merecidas. Janete não podia falar nada, não podia pensar nada e se manteve calada em lágrimas que gritavam desesperadamente.

O Capitão mostrou para Janete, a capela onde o seu marido estava sendo velado, lá na capela Janete encontra o Sargento Borges, que ao ver a entrada da moça, se aproxima abraça-se com ela, informando que foi ele quem havia tentado resgatar o Cabo Ferreira, no momento da queda e aquilo que era para ser um exercício, passou a ser uma realidade de resgate, mas que infelizmente ao se aproximar do Cabo, ele apenas sussurrou, por três vezes o nome (RENATA), falecendo a seguir.

Janete cai ajoelhada, grita joga no ar toda sua aflição, toda sua tristeza, mas se controla se recompõe e diz para o Sargento: Renata é o nome que meu marido escolheu para dar a sua filha. Ele havia me prometido que traria o nome da filha quando voltasse da viagem.


História verídica - Os nomes dos personagens foram todos mudados, com exceção  apenas para (RENATA) que foi mantido em homenagem ao Cabo que falecera em cumprimento das suas funções militares e matrimoniais.

Imagem Google.

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 13/03/2010
Reeditado em 26/03/2010
Código do texto: T2136387
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