A MANSÃO ASSOMBRADA

A curiosidade é o maior dos males humanos.

Creio que não existe limite para esse mal.

Tente, por exemplo, esconder um segredo de alguém. Verifique a impaciência dessa pessoa, a ansiedade, até que ela o descubra.

A curiosidade está em todos os níveis, mas aquele que desperta o maior desejo de saber é o mundo do sobrenatural! Aquele que diz não sentir nenhum prazer pelo ocultismo é porque tem medo. As pessoas que temem disfarçam com uma forjada estupidez esse assunto tão excitante que é o ocultismo.

Eu, por exemplo, sempre senti um imenso desejo de conhecer algo sobrenatural - Inútil - Apesar de tudo eu sempre dei asas à minha imaginação, tentando conceber soluções para fatos inexplicáveis. Porém, nunca presenciei algum fato para que pudesse tirar alguma conclusão. Acredito que não temeria nada que porventura visse.

Mas todas as minhas tentativas foram inúteis.

Cheguei a passar noites em cemitérios esperando que alguma alma viesse me atormentar; frequentei sessões espíritas, na eminência de ser tomado por algum parente, já morto; e muitas outras coisas. Entretanto, o máximo que eu consegui foi rir com alguns amigos que tencionavam me assustar.

Mas agora, acredito que chegou a hora de ver alguma coisa.

Na pequena cidade de Santo Eurípedes, existe uma Mansão, cuja fama de assombrada já percorreu o mundo. Muito embora todos julguem se tratar de uma mera superstição loca, ninguém se atreve a visitar a mansão, que se encontra desabitada há séculos. As pessoas que ousaram vasculhar os cantos da mansão hoje se encontram internadas e sanatórios.

Agora eu vou, não apenas visitá-la, mas desvendar para sempre o mistério dessa lúgubre mansão. Levarei comigo um gravador, pois no caso de me considerarem louco, terão as declarações de um ser lúcido.

Espero não deixar nada desapercebido.

"Estou me dirigindo para a Mansão. Ela fica afastada uns três quilômetros da cidade, mas eu já estou chegando. Já posso distinguir perfeitamente a horripilante silhueta da mansão. Todas as janelas estão fechadas e lacradas com tábuas. A alvenaria se encontra completamente embolorada.

Estou entrando na Mansão. Acabo de atravessar a entrada principal - uma porta de ferro dominada pela ferrugem. Encontro-me agora na sala. Uma sala enorme! os móveis estão cobertos com lençóis e uma digna camada de poeira. As teias de aranha também fazem parte do espaço.

Num canto há uma antiga lareira e, no canto oposto, uma escada que dá acesso, provavelmente, aos quartos.

Vou subir por essa escada. Incrível, como range! A escada termina num enorme corredor. Nesse corredor existem várias portas.

Vou percorrer o corredor para ver se vejo algo de anormal.

Esperem... há um quarto... cuja porta difere das demais. Uma porta pintada de vermelho. Deixe-me abri-la. Impressionante! Nunca vi nada parecido! A sala é totalmente vermelha. Não se percebe janelas nem mobílias, tudo o que se vê é um vermelho homogêneo.

Vou entrar.

Ei! A porta se fechou. Não consigo enxergar nada, nem mesmo a mim. Tudo o que velho é um vermelhão. Como se a escuridão fosse vermelha. Não consigo entender. Não há luz! Não havendo luz não poderia haver cor.

Agora eu não consigo achar a porta. Estou apalpando a parede mas eu não encontro a porta. - Aliás, não consigo chegar no canto da parede. É como se eu estivesse encostado num muro infinito.

Eu... eu que pensei que jamais teria medo de alguma coisa, agora estou com medo de desencostar da parede. Se desencostar, temo que não consiga mais encontrá-la, ocupando um espaço infinito.

Mas há o chão e, por enquanto, esta parede. Dois planos para eu ocupar.

Deve haver uma explicação. Tudo isso não passa de uma ilusão de ótica. A sala deve ser circular... no entanto, não sinto a curvatura da parede. Deve existir alguma explicação...

Eu não entendo.

Por mais que eu abra os olhos, não consigo ver nada além de um horrível vermelho.

Agora está ficando quente! Não consigo respirar! Está ficando abafado. Como se a densidade do ar estivesse aumentando. Sinto-me leve, flutuando! O chão está saindo dos meus pés. Eu não posso fazer nada... a parede também se afasta. Meu coração bate forte...

A minha voz ecoa de uma maneira esquisita. Sinto uma leveza fora do cumum. Nunca fui astronauta, mas acredito que esta seja a sensação de ausência de gravidade. Acho gostoso. Não estou mais sentindo medo.

Não sei, mas agora está ficando mais claro! A cor - agora - é um cor-de-laranja... agora amarelo... estranho, agora verde, um verde bem claro. Agora azul. Um azul claro... gostoso... só pureza.

Não há nenhuma pressão sobre mim. Sinto uma sensação de bem estar indescritível. Tudo o que quero é que isso não acabe mais. Sinto um prazer imensurável. Não há maneira de descrever. Tudo paz!

A verdadeira paz de espírito.

É tão complexo... como se eu estivesse num universo azul, sozinho, tudo azul... tudo azul. Há uma homogeneidade de virtude. Sei lá...

Não tenho mais nada para dizer.

A fita vai acabar...." (Plect)