Cara fechada
Depois de tomar um fora de sua “amada”, Raul já não acreditava em mais nada. Tudo lhe parecia monótono, frio e morto. Ele acordou de um sonho e decidiu manter-se longe de todos.
Na volta para casa, depois da decepção mencionada, Raul só carregava consigo sua cara fechada. Em passadas lentas caminhava. Seus punhos estavam serrados e seus olhos escorriam sangue. Por onde passava deixava um ar de superioridade e raiva, os pássaros silenciavam e a noite ficava ainda mais fria.
Na contramão vinham dois rapazes fortes, altos, um moreno e outro pardo, ambos aos trapos. Eles cantavam o terror e estavam munidos com facas. Eram dois viciados em crack, que se contentariam com qualquer trocado que Raul pudesse lhes oferecer.
Porém, naquela noite, a trilha sonora do mal era Raul quem cantava. Foi uma decepção muito grande para ele quando descobriu que contos de fada não poderiam ser tornar realidade.
Ao passo que os rapazes se aproximavam de Raul, ele exibia com mais fervor sua força, revelando não ter mais medo de absolutamente nada.
Com apenas um cuspe Raul colocou os viciados em pânico.
Uma aglomeração de saliva aumentava em sua boca depois que ele não pôde se quer trocar uma palavra com quem mais gostava, isto porque a amiga dela puxou-a de lado, dizendo que ele tinha cara de quem não prestava.
Já bem próximo dos viciados, Raul disparou uma cusparada contra o asfalto. A saliva caíra como pedra no solo, causando um barulho que foi o suficiente para espantar os corvos que descansavam nos fios de alta tensão.
Os rapazes tremiam só de olhar para Raul, imploravam que ele não lhes matasse e pediam perdão por tudo que fizeram de errado nos últimos anos. Depois de observarem Raul continuando seu trajeto rumo a sua casa, sem se quer ter lhes dado atenção, ou melhor, nem ter notado suas presenças, os viciados correram sem destino, não acreditando que foram amedrontados por apenas uma cara fechada.