UTOPIA

Viajei para um mundo diferente. Um mundo na qual não conseguia distinguir seus valores diante dos meus olhos, e muito menos seus estranhos aspectos esquisitos. Lembro-me que diante de tudo, eu estava enfiado dentro de um carrinho apertado, de poucos metros de largura e comprimento. Este mesmo meio de transporte, estava sendo atiçado e arrastado por entre as trilhas de aço, em variadas curvas frenéticas pelo inexplicável trilho zombeteiro, que se seguia por quilômetros, até chegar numa determinada descida aterradora, frenética — algo como um enorme tobogã —, e psicodélico. Meu coração disparou, com uma dose de adrenalina sendo injetado entre minhas correntes sanguíneas. Fora estranho pra mim, só de pensar naquilo. Como tudo fora incomum, sem sentido. Por mais que minha pessoa estava fora do verdadeiro mundo, aquele em que eu se encontrava, havia algumas semelhanças com em comum. Um plano verdadeiro. Um céu azulado, mas com um recesso de ar que não conseguia entender. Por mais que havia céu, no entanto, não havia sol. E por mais que não havia sol, naquele grande lugar havia luz. Luz o suficiente para iluminar todos os quatro cantos do lugar. Enfim... Fora uma cidade deserta, que me pareceu ser fantasma. Um calafrio tomando conta de mim, a cada vez que descia pelo carrinho. A cada vez que me distanciava de uma pequena parte daquele lugar, que localizava-se bem no topo de uma montanha.

Fui descendo descontroladamente. Sem ter como impedir a descida brusca.

Meu rosto se contorcendo, apenas de não haver se quer vento. A sensação é como estar dentro de uma grandiosa montanha-russa infinita. E o pior... Sem proteção. Só eu e a força da gravidade naquela hora.

De repente algo me deixou boquiaberto. Um final?! Avistei um final, no fim do trilho. Espere! O trilho estava acabando, e não sabia ao certo onde iria parar. Fechei meus olhos, temendo o pior. Quando abri, me deparei com mais surpresas. Algo mais misterioso. Como disse: sem sentido.

Uma rua se matearilizou-se diante do final do trilho. E ao lado, um caminho na qual não sabia muito bem do que se tratava. Só sei que uma estreita viela; e foi por ali que tomei rumo, sem ao menos saber o que eu poderia encontrar.

Senti um glorioso arrepio tomando me atingindo. Um frio fantasmagórico, quando pus os pés no caminho sem asfalto; caminho de terra. Olhei ao meu redor, com meu jeito inocente de ser. O lugar parecia estar vazio. O que será que havia ali? Pensei. Não obtive resposta. Só tive um colapso de aflição e mais nada.

Observei, até então finalmente enxergar uma coisa que me fez ficar boquiaberto. Minhas pálpebras se alongando rapidamente.

Casas. Muitas casas. Uma ao lado da outra. As estruturas precárias, sem nenhum tipo de ordem. Paredes mal feitas poderiam ser vistas diante dali, feitas com pedaços de madeira fraca e ferro. Lembrou-me um montante de barracos unidos, juntamente num terreno sem dono; sem ninguém. As famílias pobres. Uma rua sem infra-estrutura. Sem nada. O saneamento básico inexistente.

Ao longe avistei crianças correndo; algumas meninas descalças, descabeladas, e sujas. Os meninos, com as roupas rasgadas em maior parte do pano, os pés descalços, pisando por sobre o chão de terra enlameado. Imundo.

Assustei-me na mesma hora.

Um grupo de homens apareceu na minha frente, enquanto eu o olhava para o céu com a cabeça erguida. Juntos, me encaravam fixamente, com os olhos maltratados pelo tempo. Feitos malditos pessoas más.

Tive outra sensação ruim. O que eles queriam?

Eu dei um passo para trás, me distanciando deles. Quando perceberam meu nervosismo, avançaram ao todo. Entrei em um estado de alerta. Olhei para trás, depois para as casas, para as crianças correndo com seus afazeres. E eu disse ‘ ‘Meu Deus, o que eu to fazendo aqui?’’

Tentei correr. Voltar para onde eu teria vindo, mais os homens maus não deixaram. Olharam-me melancolicamente e então...

Só vi grandiosas armas apontadas para mim. Miradas para meu corpo. Metralhadoras. Pistolas. Percebi que eram bandidos. Vi que não tinha mais como fugir. Era o fim.

Tentei respirar. Não consegui.

Eu disse a eles; tremulo:

— Eu já estou indo.

Mais antes mesmo de eu terminar, um deles disse.

— Você não vai há lugar algum.

Senti uma forte vibração em meus tímpanos. E outra... E outra...

Uma luz branca bateu sobre minhas retinas. O barulho das armas soando naquele infinito lugar infinito. Um mundo tenebroso.

PÁ. PÁ. PÁ. PÁ.PÁ...TUM... TUM... TUM...

As balas se aprofundaram dentro de mim, sobre pondo, abrindo feito cogumelo em minha carne. Três tiros atingiram meu peito, e quatro em meu crânio.

Uma forte dor pontiaguda se apossou do meu eu. Senti aquilo, enquanto olhava os homens rindo, feitos covardes. Senti meu coração batendo. Eu analisei aquelas faces estranha e... Senti meu sangue saindo.

Toquei no líquido avermelhado com a ponta do dedo. Mas... Espere! Não era possível. Vi os pequenos orifícios que a bala formara, mas aconteceu uma coisa incomum. Mesmo sentindo a dor, o sangue pingando contra o chão, eu não cai ou deixei meu corpo ser levado para outra imensidão. Fiquei de pé normalmente. Os homens estranhando a minha reação sobrenatural.

Não morri. Não tombei feito espantalho no chão. Só isso. E depois veio... Veio a luz. A rápida luz branca, que novamente bateu em minhas retinas e dali por diante, eu fora transportado para outro mundo. Um mundo pararelo. Um mundo real.

W West
Enviado por W West em 28/02/2010
Reeditado em 20/05/2010
Código do texto: T2113047
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