Venezianas Verdes, Cap. 32
Iniciava-se o fim de semana. Era sexta-feira. Dia de um chopp com Herval à saída do escritório. Mas podia ser também o dia de uma ida ao cinema com Bernadete e um jantarzinho depois no shopping. Seria o primeiro fim de semana efetivamente sem a mulher, cujo paradeiro Juliano ignorava.
Nesses últimos dias, em que se encontrava na casa da mãe, quando voltava a Bento Ribeiro para verificar se continuavam as ligações ameaçadoras, Juliano conferia as venezianas verdes toda vez que passava em frente à casa da costureira. Ao que parecia, as ligações tinham mesmo cessado. Juliano já começava a achar que podia voltar pra casa.
Mas como o fim de semana passa rápido, logo segunda e terça-feira chegariam e, num dia ou no outro, ele teria Bernadete de volta. Elas devem ter ido pra casa de algum parente da costureira fora da cidade. Assim Bernadete mata dois coelhos de uma vez só: se preserva quanto às ameaças a mim por telefone, que poderiam acabar envolvendo-a; e ameniza o impacto da traição que provoquei, coisa que nunca me perdoará.
Foi pensando nisso e no que iria fazer no fim de semana que Juliano lembrou-se de Amaury. Não nos falamos desde a trágica segunda-feira. Nem poderíamos. Eu não teria cabeça pra lhe telefonar. Ele também não me procurou. Mas já o fez tantas vezes...
Ligou pra ele logo após o almoço e marcaram às seis. Seria num bar que conheciam, próximo ao Terminal Menezes Cortes. Não seria a mesma coisa, nesse momento, se fosse com Herval. Colegas de trabalho são uma coisa. Não há grandes comprometimentos, embora às vezes pensemos que sim. Não são confiáveis. Sinto-me mais à vontade com Amaury. A nossa amizade tem mais triênios.
O encontro viera a calhar para Amaury, que teria de comparecer ao Fórum, no Centro, em decorrência de ação que movia contra uma empresa concessionária de serviços públicos. Iria de ônibus e voltaria de carro com o amigo.