Porão (miniconto)
O mofo é seu companheiro. O frio enregela os ossos. Os pensamentos gritam na sua mente. Não consegue aquietar. Os seus familiares foram capturados. Seus pais o escondem neste quarto secreto.Jornais, livros e revistas antigas lhe fazem companhia. A fome é sua maldição. Se almoça, não janta. Caixas de bolachas e comida enlatada foram acondicionadas para durar dois anos. Há quase quatro anos escuta o ronco da guerra. Nos dois primeiros anos da guerra, as blitzkrieg abatem e conquistam territórios. O Stuka havia demonstrado á Luftwaffe o seu poder de fogo. Os roncos dos motores fazem tremer as paredes do porão. Risca na parede mais um dia. Março de 1945!? Agora, não houve quase os motores alemães. Os aliados e a RAF voam pelos ares, com os seus Spitfires desmantelando a Alemanha. Como um bicho enjaulado sente o cheiro da liberdade. Mais um bombardeio. O barulho de um avião sendo abatido. O inverno já deu lugar à primavera. Berlim está sendo castigada, destruída. Tem esperança de encontrar seus pais. Sente saudades de sentar ao redor da mesa no Birkat há Mazón. Os bombardeios estão mais distantes. A água do poço do fundo do porão não está mais gelada. Vai esperar o silêncio total para sair e presenciar; o que restou de toda aquela infâmia. Conversa consigo mesmo para não enlouquecer. A liberdade tem cheiro de sangue.