Venezianas Verdes, Cap. 31
Manhã alegre em São Luís do Maranhão. Era sábado. O sol começava a mostrar o seu brilho, cada vez mais intenso. Percival chegara à casa da irmã no início da noite do dia anterior. Ela e o marido, trabalhando em lugares afastados de onde moravam, só chegariam mais tarde.
A casa era grande. Acomodados pela empregada em quartos separados, Percival e as crianças tomaram banho, viram um pouco de TV e foram dormir. A conversa ficaria para o dia seguinte.
- E aí, Percival, dormiu bem?, perguntou Madalena, nas mãos uma bandeja com uma jarra de leite e uma garrafa térmica com café.
Na espaçosa varanda com vista para a Praia da Raposa, uma mesa para seis lugares. Nela se viam dois tipos de pão, de queijo, biscoitos, pedaços de bolo de fubá e duas jarras com suco de laranja.
- Dormi, sim, obrigado. Mas o quê é isso, mana? Café cinco estrelas? Nem parece que sou de casa!
- É, mas nunca veio aqui, apesar dos vários convites. Então tenho que recebê-lo como nunca o fiz. Não posso deixar furo. As crianças estão dormindo ainda?
- É isso aí. Sabe como é: viajar é bom, mas cansa.
- Oi, Percival. Bom dia. Está preparado para uma prainha após o café?, perguntou o cunhado, aproximando-se de Percival que já se achava sentado.
- Bom dia, Lúcio. Claro que estou. Essa praia maravilhosa... Mas deixa as crianças acordarem.
- E eles, mano? Como estão passando?, quis saber Madalena.
- Parece-me que está tudo legal. Estão enfrentado a nova situação como podem. Acho que estão se saindo bem.
- Se um pai faz falta, a mãe então nem se fala...
- Claro, claro. Mas tenho procurado ajudá-los. Sempre respondendo a tudo o que perguntam da forma mais transparente possível.
- Souberam como se deu o desaparecimento da mãe?
- Os detalhes do hotel, etc., achei que poderiam ser omitidos. Afinal têm apenas 5 e 7 anos. Não sei se seria proveitoso ficarem sabendo de tudo mesmo. Mas quando for o momento oportuno, não deixarei de revelar.
- Correto, mano. Penso que ficaria até difícil a explicação.
- Só iria deixá-los confusos, completou Percival, evitando colocar sua xícara com café sobre o jornal que Lúcio deixara perto dele sobre a mesa.
- É bom tê-lo aqui, mano. Até porque você nunca veio. Mas confesso que ficamos surpresos. Não o esperávamos nessa época do ano. As crianças não devem estar de férias...
- Não, não estão. Mas eu estava devendo essa visita a vocês. Além do mais, era preciso provocar uma mudança de ares... para eles e pra mim, explicou Percival. Enquanto falava e reposicionava a xícara, detinha-se numa pequena notícia no canto da primeira página do jornal.
Dizia a notícia: “Interpol faz rápida incursão no Rio”. E em letras menores: “Procurados louro baixo e forte e moreno alto, possíveis figurões do tráfico internacional”.
Percival rapidamente fez a associação com os dois homens que o tinham agredido e seqüestrado. Vou ler tudo depois com mais calma pra ver se há mesmo correlação. De qualquer modo, eles foram atendidos. Se se tratarem das mesmas pessoas que me seqüestraram, a essa hora já devem saber que não tenho nada a ver com a procura deles pela Interpol. Por todas as perguntas que me fez, quem correu atrás disso foi aquele policial, que recebeu a sua grana sem ter feito o que devia para merecê-la. O que acabou sendo a decisão mais acertada que tomei.
Esses pensamentos deixaram Percival mais calmo, fazendo com que prosseguisse a conversa com a irmã e o cunhado nas condições do conforto de que já gozava e viera buscar no Maranhão.