Venezianas Verdes, Cap. 25
Às oito da manhã, antes de se dirigir ao escritório, Juliano resolveu passar em casa. Iria demorar-se um pouco para ver se os telefonemas haviam cessado. E também pegar algumas roupas. Podia ser que a permanência na casa de sua mãe tivesse que se estender ao longo da semana seguinte. Havia também a vontade sublimada de encontrar Bernadete. Sabia que ela não estaria em casa. Mas estranhamente queria defrontar-se com essa realidade. Começava a sentir saudades da mulher. Ela lhe pedira que não lhe telefonasse pelo menos até segunda-feira. Faltavam a sexta e o fim de semana. Era pouco. Então podia ser que as coisas voltassem efetivamente ao normal.
No trabalho tudo já estava calmo como antes. Dr. Raul e Herval tinham sido realmente discretos. Se alguém sabia de alguma coisa, ninguém fizera alusão.
Ao chegar à varanda, esperou que Bernadete viesse recebê-lo, como sempre fazia. Tolice minha. Diante da cama, no quarto deles, imaginou-a deitada apenas de calcinha. O que não faz um período de abstinência!? Só pode estar na casa da costureira. É bom que seja assim. Está mais protegida, porque ninguém sabe disso.
Depois de sentar-se por mais de uma hora na sala, diante do noticiário na TV, Juliano pegou um creme dental, um sabonete, uma escova de dentes, algumas peças de roupa e ia sair quando seu celular tocou:
- Juliano?
- Oi, querida. Até que enfim.
- Está no trabalho?
- Não. Vim até aqui em casa pegar algumas roupas e checar se os telefonemas continuaram.
- Imaginei que você fizesse isso hoje. E aí? Continuaram?
- Pelo menos até agora ninguém ligou.
- Há quanto tempo você está aí?
- Pouco mais de uma hora.
- Ontem também fui até aí e não houve nenhum chamado.
- Você está aonde?
- Estou protegida. Não se preocupe.
- Mas não pode me dizer?
- Juliano, depois nos falamos. Não se esqueça de que estamos no celular. Onde tudo se escuta.
- Está bem. Tudo bem como você?
- Tudo. Não se preocupe. Continue tomando cuidado até as coisas se normalizarem.
- E depois?
- Depois a gente vê. Dê lembranças à sua mãe, respondeu Bernadete, mostrando-se apressada.
- Um beijo, arriscou Juliano.
- Tchau!