Beleza Perfeita
Marilia se veste com apuro, em sua roupa, um vestido branco e elegante, não há imperfeição alguma... seu perfume é suave, doce e caro e sua maquiagem elaborada com detalhes em tons de rosa e dourado... os cabelos cor de fogo presos para trás dão um toque angelical a seu rosto de labios volumosos, olhos grandes onde apesar da cor já não reina mais a esperança... sua pele clara e aveludada continua linda mas o brilho de sua alma se apagou... os cabelos cacheados são a moldura que esconde sutilmente seus pensamentos.... calça sapatos dourados com um salto alto que faz vibrar o piso a cada passo.
Ela pensa nele, seu amado com doce aroma de calor do sol... ela já não é mais sua lua encantada... a tragédia os separou... para sempre? Ela não sabe mas pretende descobrir... uma olhada mais no espelho, esta perfeita, uma boneca de porcelana fria e quebravel... dá uma breve olhada em volta, esta tudo na mais harmoniosa ordem... sai fechando a porta com cuidado para não fazer barulho.
Dirige calmamente rumo á igreja... para muitos um refugio, para ela o nada.
Seu amado... ah seu eterno amado... sentimento sem começo nem fim.
Uma lagrima solitaria teima em rolar mas ela a retira com a ponta do dedo... nada pode estragar sua beleza perfeita, não agora nem lá.
A igreja esta vazia, seus passos ecoam no espaço... os anjos não tem força para dizer amem... ninguém pode deter seu desejo... o mais intimo naquele instante.
Ela carrega uma bolsa grande... sobe a escada rumo ao local mais alto sentindo nos dedos finos a consistencia da madeira... o cheiro de solidão existente naquele lugar onde tantos vão em busca de si mesmos e raramente encontram... seus passos não deixam marcas... sua mente fervilhante não permite que ela sinta mais nada a não ser um desejo... O DESEJO.... encontra o lugar exato e ali abre a bolsa e sem pressa, tira de dentro dela uma corda nova e resistente... prende a mesma com firmeza ...sobe na mureta de proteção tentando ganhar equilibrio... coloca a corda em volta do pescoço... seus pensamentos e suspiros são para ele, seu nobre amor que se foi...foi matando a vida dentro dela...adormecendo furiosamente sua alma... o breve suspiro... o sublime adeus ao mundo.
Covardia? Não - diz ela a si mesma - é amor.
E em sua vingança particular contra Deus que lhe tirou a razão de viver, dá seu ultimo salto em direção ao desconhecido... ao encontro dele.