WHISKY E PEQUI *34

WHISKY E PEQUI

Torquatinho tivera um enfarto fulminante. Pouco antes pedira a cozinheira para lhe preparar um arroz com pequi, seu prato predileto, mas esse incidente impediu que ele realizasse seu último desejo.

Quando essas coisas acontecem a família fica chateada e ninguém se lembra de sua vida pregressa. Os últimos fatos a gente fica sabendo à boca pequena sem ninguém falar o que de fato acontecia.

Ele gostava de bebericar. No dia que fecharam o último boteco, boteco mesmo do jeito que ele e sua turma gostava ele até chorou reclamando:

- Onde agora agente vai tomar nosso whisquizinho?

a turma composta de mais ou menos dez amigos também chorou.

Passaram então para um bar no centro da cidade. Bebiam tanto que há dez anos atrás, sem lei seca, o dono do bar colocou a disposição deles o "trasbebum". Eles deixavam o carro ali parado quando não requeriam a presença do gentil transporte que os buscasse a domicílio.

Tudo muito bem organizado, até um contrato "pós-mortem". Não sei se era assim em latim, mas vamos fazer de conta que era. Documento com firma reconhecida onde constava quando morressem seria enterrado pelos remanescentes com um litro de Whisky Doze Anos. E assim foi feito com Torquatinho. Essa sua vontade bem como de todos daquele estranho clube e a dela foi cumprida. Ninguém conseguia tirar o litro de Whisky de seu caixão.

A última vontade também. O Campo da Esperança foi reduto de um grande pequizal e ele enterrado debaixo de uma frondosa árvore de pequi. Quando terminava a última cerimônia do féretro, cai sobre a sepultura uma fruta de pequi espatifando e esparramando sobre a lápide quatro bagos maduros e aromáticos da deliciosa iguaria.

Goiânia, 18 de FEVEREIRO de 2010.

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 18/02/2010
Reeditado em 28/02/2011
Código do texto: T2092899
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