O Suicídio

Rio de Janeiro, 07/01/10

Foi por volta de 1956 quando aconteceu aquele caso na rua Zeferino de Asis, como uma história para ser contada de geração pra geração. Joana era negra e contava vinte e dois anos completando o científico hoje ensino médio. Trabalhava em casa de família filha de estivador e muitas vezes passava fome.

Um dia conheceu Alberto. Posto que naquela época os homens só eram vistos como bons profissionais se fossem médicos, advogados ou arquitetos. E as mulheres professoras ou dona de casa. Conheceu Joana numa sessão de cinema na rua João Silva próximo a igreja de São Geraldo:

_ Como vai você?

_ Bem eu.. _ Começava a chover e Joana trazia o trabalho do colégio num dos braços e a bolsa no outro. Passou um carro em alta velocidade e mandou água sobre eles:

_ Ora seu bunda mole! Não enxerga!

Joana riu do modo dele falar. Era carinhoso e educado. Pegou seus cadernos e acompanhou-a em casa. Joana delirava de emoção ao receber o primeio toque nas mãos, depois de um tempo firmando já o namoro aquele abraço apertado que lhe tirava os pés do chão. porém, ao ser apresentado a sua família seu pai a chamou num canto e disse:

_ Minha filha, nada tenho contra seu relacionamento com este rapaz. Parece boa pessoa e pelo que vi está interessado em você. Acontece que ele é rico e somos pobres.

_ Ora papai, que importância tem isso quando existe o amor?

Seu Agenor mostrou-se bastante, preocupado. Joana era filha única. Emotiva, sem vaidades e romântica. Via o mundo e as pessoas cor de rosa. Lembrou que seu pai dizia que havia pessoas que vieram no mundo com um cartão do destino nas mãos. Quem trazia o cartão vermelho eram as prostitutas, o branco pertencia as moças decentes com destino próprio para tornar-se senhoras do lar. Os que traziam os cartões verde, levavam uma vida cheia de confusões, o cartão lilás representava a doença na vida inicial ou na velhice. O cartão lilás representava a morte. E no caso de joana recebeu o cor de rosa. Pois, vivia sonhando com o príncepe encantado que a faria feliz.

Lembrou então que a esposa recebeu o cartão lilás já que vivia doente e morreu de uma moléstia inexplicável. Joana trabalhava fora e em casa dando conta dos afazeres. Era excelente cozinheira, passadeira e arrumadeira. Estava sim, pronta para casar. Aos domingos iam á igreja epassavam o dia por lá. Alberto começava se inteirar da vida cotidiana de joana Melhorou nos estudos, já que andava sem estímulos e até voltou a se dedicar as aulas de piano porque a moça disse que gostaria de assistir um concerto.

Porém, certo dia, dona Magda e seu Nestor os pais de Alberto resolveram o seguir para saber as razões daquela mudança repentina. Alberto sofria de grande depressão e chegava a ficar dias sem comer. Pararam o carro na estação de olaria e viram de olhos esbugalhados único filho andando com uma negra:

_ Então é isso, ele está com essa moça?

_ Certamente, é ela quem está mudando nosso filho. _ Disse seu Nestor mais compreensivo.

_ Coisa nenhuma, não quero Alberto envolvido com essa neguinha.

_ Isso é preconceito Magda. Que coisa horrível! _ Desabafou ele sem graça: _ Vai que de repente, ela o faz feliz.

_ Temos que acabar logo com isso! Antes que esse negócio crie raíz.

Quando Alberto chegou em casa foi surpreendido pela chamada de seus pais:

_ Quero que traga essa moça para que nós possamos conhecê-la melhor. _ Disse Dona Magda

_ De que moça a senhora está falando? _ Fitou-os um tanto apalermado:

_ Alberto, meu filho. Seguimos você. _ Confessou seu Nestor: _ Queríamos saber a razão da sua mudança e vimos vocês na porta da igreja.

_ Ah sim é a Joana... _ Os olhos dele encheram-se de emoção. Dona magda quase caiu para trás:

_ Então traga-a aqui.

_ Querem mesmo conhecê-la?

_ Sim meu filho. _ Disse seu Nestor: _ Pretende casar com ela não é?

_ Não falei antes porque...

_ A moça é negra. _ Comentou ela.

_ Não tenho preconceito mamãe. Joana é dócil e me faz feliz.

_ Podia ter nos contado.

_ Vocês sempre quiseram que terminasse primeiro os estudos e depois...

_ E quero mesmo. Acho que é o mais importante.

_ Posso perfeitamente, me casr com Joana e não deixar de estudar.

_ Uma coisa de cada vez filho. _ Adiantou seu Nestor: _ Traga a moça aqui e depois...

Assim o tempo passou e joana foi no jantar que os pais de Alberto ofereceram apesar de seu Agenor aconselhá-la não ir. Dona Magda fez várias perguntas e joana estava sem jeito:

_ Pretendo ser professora.

_ De que matéria?

_ Eu ainda não escolhi.

_ E qual matéria você se adpta melhor?

_ Matemática.

_ Pelo manos gosta de lidar com os números.

_ Sim, sou boa nisso.

_ Podemos conversar mais sossegado no jardim?

_ Vamos.

No jardim da casa joana olhava tudo com certa curiosidade:

_ Gostou da casa?

_ É muito bonita.

_ Você acreditou que meu filho realmente gosta de você?

Joana sentiu forte pontada no peito:

_ Não entendi...

_ Entendeu sim, você não é nada boba. Certamente, pensou. " Agarrei um trouxa" Acontece que se meu filho gostasse de você realmente, não esperaria que eu e o pai dele o seguisse para saber quem você é.

_ Como?

_ Isso mesmo. Você é negra e pobre. Ele nunca iria apresentar você a familia dele por espontânea vontade.

_ Não é esse o Alberto que conheci. _ Seus olhos cravejaram de lágrimas:

_ Alberto nasceu para ser exímio médico. E se você observar bem, não será uma esposa a altura dele. Olhe para esta casa. Veja as roupas que usa e como se comporta...

Joana saiu correndo desnorteada.

A casa estava cheia e Alberto dava atenção a seus convidados. Não se deu conta que a moça saiu daquele jeito. Dona Magda aproveitou do ensejo para dar fim a uma pulseira que usava de brilhante. Chamou o marido e disse:

_ Não acho minha pulseira.

_ Por favor, Magda não faça isso.

_ Minha pulseira sumiu.

Alberto percebeu o alarido e aproximou:

_ O que esta acontecendo?

_ Sumiu minha pulseira de brilhante que ganhei no aniversário de casamento meu com seu pai.

_ A senhora está querendo insinuar que foi a joana?

_ Era a única visita estranha nesta casa.

_ Tenha dó mamãe. Cadê Joana.

A empregada falou que viu quando a moça correu desesperada pelo portão:

_ Vai atrás dessa moça. _ Gritou ela furiosa: _ Quero minha pulseira.

_ Pare com o escandalo Magda!

Todos resolveram procurar a pulseira quando na manhã seguinte a polícia bateu na porta de Joana. A moça ainda estava dormindo e seu Agenor atendeu:

_ A senhorita Joana está?

_ Sim, é minha filha o que foi que ela fez?

Nesse momento joana acordeou recebendo aquela terrível surpresa:

_ Polícia moça. A senhorita é acusada do roubo de uma pulseira de brilhante que furtou da casa de dona Marta Galvão.

_ Eu não roubei nada.

_ Preciso averiguar.

_ Somos pobres sim, porém, honrados. Arguiu seu Agenor: _ Minha filha nunca roubaria ninguém.

_ Eu não fiz nada juro.

_ Deixe ver sua bolsa.

Joana entregou a bolsa e para surpresa estava lá:

_ Não roubei nada papai. Eu juro.

_ Não foi isso que lhe ensinei filha. Como pode me fazer passar essa vergonha _ Chorava desconsolado:

Alberto chegou na hora. A rua toda estava assistiindo joana ser presa. Alguns comentavam com certo dedém:

_ É nisso que dá querer se meter com gente rica.

_ Cale essa boca de maritaca! _ Gritou seu Agenor olhando sério para Alberto: _ Olhe o que fez com minha filha. Eu a confie em você e, é essa a paga que recebo.

_ Seu Agenor me desculpe.

_ Desculpar o quê? Minha filha está sendo desmoralizada em público e nada posso fazer para mudar isso.

_ Mas eu posso! _ Falou em alto tom decidido.

O policial mostrou para Alberto que a pulseira foi encontrada na bolsa de Joana:

_ Tenho certeza que isso foi um engano.

_ Por favor Alberto saia daqui! _ Pediu ela apavorada quando viu os pais dele chegarem:

_ Eu sabia. _ Disse Dona Magda. _ Tinha certeza.

_ A senhora não podia ter feito isso. _ Dirigiu-se a mae dele:

_ Sua mãe tem razão, somos de mundo diferentes, mas nunca roubaria ninguém. Tenha certeza disso.

Quinze dias depois.

Alberto tratava os pais indiferente e dona Magda ficou entristecida com isso. Resolveu ir na delegacia conversar com Joana. O policial levou-a até a cela onde estava:

_ Podemos conversar?

Joana estava abatida e com febre pois, não se alimentava direito:

_ Veio me trazer outra pulseira?

_ Sou mãe. Espro que me entenda. O dia que tiver um filho saberá o que é a dor e preocupação de uma mãe que só pensa no melhor para ele. Estou disposta a desfazer tudo que fiz, se você prometer nunca mais procuarar Alberto.

_ E como ficará minha reputação onde moro? Acha que terei cara para voltar pra minha casa depois de tudo... _ Lágrimas:

_ Estou arrependida Joana e para provar isso trouxe uma soma em dinheiro para que você e seu pai comprem uma casa em outro lugar e possam viver decentemente. Daqui há algum tempo tudo estará esquecido. Escreva uma carta para Alberto dizendo que pegou a pulseira porque a achou linda e eu dei pra você! E ele e voltará a ser comigo como era antes.

Joana escreveu a carta conforme o combinado. Pediu que não lesse porque era direito seu mas, que acreditasse em sua palavra. Alberto recebeu a carta e lia no mesmo instante que joana saiu da cadeia e foi para casa de noite em companhia do pai para evitar os mexericos.

Prezado Alberto, meu querido.

Amo você apesar de tudo. Porém, quero que saiba que seus pais não queriam que ficasemos juntos porque sou negra e pobre. Não peguei pulseira nenhuma, nem tão pouco sabia da existência dela. Sua mãe disse que você não me apresentou a eles também, por esse motivo. Pensei que era adulto o suficiente para saber o que estava fazendo. Nem por isso deixei de amá-lo. O amaria se fosse preto, amarelo rico ou pobre. O que senti no meu coração quando lhe conheci não se pode descrever.

Portanto, meu querido, quero que saiba que estou partindo desta para melhor. E quem sabe numa outra chance que a vida venha nos dar possamos reviver essa tão curta história de amor.

Beijos, da sua querida Joana.

Seu Agenor esquentou o leite para a filha tomar antes de dormir. Sentia náusea e cansaço. Durante a madrugada enquanto seu pai dormia foi na cozinha pegou a faxa afiada de cabo curto e cortou o pulso sem pensar em nada. O leite derramou sobre a mesa misturado com as gotas de sangue.

Na manhã seguinte.

Alberto viu a grande movimentação na casa de joana. Ficou sabendo no bar da esquina da rua onde morava que havia cortado o puso e aquela hora sairia o cortejo. Decpcionado pediu no bar uma lata de formicida e uma média. Colocou o veneno no copo e bebeu conseguindo ver o corpo dela passar pela rua e dobrar a curva entrando no rabecão para o caminho do cemitério. Alberto morreu sentado na cadeira com os olhos esbugalhados.

Esse conto aconteceu realmente provando o quanto o amor é resistênte e não há nada que possa os separar.

Dynah Monteiro Costa

Dyanne
Enviado por Dyanne em 08/02/2010
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