Venezianas Verdes, Cap. 12
Juliano chegou a pensar em não ir direto para o escritório. De repente, se encontrasse vaga, poderia estacionar e dar uma caminhada pela orla para digerir os acontecimentos. Agora essa idéia de Bernadete, de que ele ficasse um tempo na sua mãe. Era natural. Ela teria que reagir de alguma forma. Ela poderia ter atirado a xícara de café em mim. Ainda quente. Berrado ou chorado convulsivamente.
Chegou às 10. Atraso normal, considerando-se a sua posição de analista sênior na empresa. Seria melhor que tudo ficasse como sempre o mais rapidamente possível. Então, enfrentar logo a cara de todos poderia contribuir pra isso. Talvez já soubessem do ocorrido. Faria parte do enredo suportar as brincadeiras de mal gosto.
Não quis comprar o jornal pra ver se tinha saído alguma coisa. No hall dos elevadores do prédio parecia que todos o olhavam. Pela primeira vez na vida experimentava esse desconforto. Saiu do elevador acreditando-se com coragem suficiente para encarar o pessoal no escritório.
No hall da recepção teve que se confrontar com o riso irônico da Nilcéia. Essa com certeza sabe. Não passa de uma recepcionista fofoqueira!
- Bom dia, Juliano. O Dr. Raul ainda não chegou.
- Bom dia, respondeu Juliano, sem olhar para a recepcionista. Não perguntei nada a ela...
Passou pelas mesas dos dois analistas juniores que haviam sido treinados por ele – os dois com os olhos presos nas telas de seus respectivos monitores – e finalmente chegou à sua mesa. Mal havia ligado o laptop e colocado o celular, como sempre fazia, dentro do cinzeiro de cristal que nunca usou, viu que Herval se aproximava:
- E aí, Juliano? Tudo bem contigo, cara?
- Bom dia. Tudo bem. E com você?, respondeu Juliano, na certeza de que agir de forma natural seria o mais indicado.
- Tudo jóia, tirando ontem à noite.
- Mas o que houve, Herval?
- Comigo nada, mas com você...
- Qual é cara?, indagou Juliano, ainda tentando não se mostrar ressabiado. Não deu outra. Tinha que ser o Herval.
- Olha aqui, manoooô: peguei por acaso emprestado o jornal do Seu Ari, aquele que a gente espreme e sai sangue. Vi uma notícia miúda no pé de uma página interna. Em cinco ou seis linhas o cara explicou tudinho. Teu nome saiu inteiro. Mas fica tranqüilo. O jornal está comigo. E posso me “esquecer” de devolvê-lo ao dono. Acho que ninguém comentou nada. Se depender de mim, vai morrer por aqui.
Juliano levou certo tempo até se pronunciar. Teve medo de gaguejar.
- O Sr. Ariosnaldo leu?
- Acho que não, respondeu Herval, falando baixinho.
- É... essas coisas acontecem, completou Juliano desanimado.
- Sei disso, irmão. Podia ter sido comigo.
- Depois te falo com mais calma.
- Não esquenta, cara. Não precisa comentar nada, se não quiser. Só quis te tranqüilizar.