Venezianas Verdes, Cap. 6
Bernadete estava apenas de calcinha e sutiã na sala, achando que por trás dela os olhos curiosos de Eulália estivessem observando-a enquanto se despia. Contudo, valendo-se de uma espécie de biombo, mantido próximo à porta de comunicação da sala com o interior da casa, a costureira, sem ser percebida, decidira ir fazer qualquer coisa na cozinha. Voltava agora de lá, trazendo numa bandeja duas xícaras com café e um pratinho com biscoitos caseiros.
-Vamos tomar um cafezinho que ninguém é de ferro, provocou Eulália, oferecendo uma das xícaras à visitante. Prove os biscoitinhos que comprei em Petrópolis.
- Obrigada. São de coco?, indagou Bernadete, notando as mãos grossas da costureira. De quem trabalha. Dedos gordinhos também. Reparou ainda nos lábios grossos, agora sim, totalmente sem batom.
- Amanteigados. Uma delícia. Prova só.
- Hummm! É mesmo, concordou Bernadete, satisfeita com a própria sinceridade e sem considerar por um breve momento que estivesse deliciando os saborosos biscoitinhos em trajes sumários.
Eulália pousou sua xícara na bandeja, sobre a mesinha em frente ao sofá com as revistas de moda, olhando apenas nos olhos de Bernadete.
- Bem, vamos ver como ficou o vestido?, perguntou Eulália, entregando à vizinha a peça que acabara de consertar.
Bernadete ergueu uma perna e depois a outra e foi se vestindo de novo. Aparentemente não se dava conta de que a calcinha, muito cavada na virilha, não estivesse conseguindo esconder alguns de seus pelos. Somos só nós duas aqui, não é mesmo? Foi ela quem falou.
- Que tal? Ficou bom?, indagou Eulália, detendo-se agora no corpo inteiro da vizinha. Vire-se um pouco.
Pegando Bernadete pela cintura por trás, com as duas mãos, puxou o tecido com as pontas dos dedos, para se certificar de que o vestido não estava folgado. É possível que tenha se aproveitado disso para forçar o encontro dos dois corpos, roçando-se levemente nas ancas de Bernadete. Que a princípio nada achou de estranho. Não ocorrendo o mesmo, logo a seguir, com a respiração ofegante da costureira na altura da orelha direita da vizinha. Tudo foi muito rápido ou durou muito tempo. Dependeu do grau de excitação provocado em Bernadete com o inusitado da situação. Haveria alguma correspondência com o que ela pudesse ter pensado a respeito da vida de Eulália? No domingo pela manhã ou nos dias anteriores? Isso era pra se pensar depois. Agora, mesmo que quisesse, não podia pensar em nada. O que ficou mais evidente a partir do tapa que recebeu de repente na bunda, com a indefectível pressão dos dedos de Eulália em sua anca, antes da retirada daquela mão pesada. Virou-se assustada, mas ao deparar-se com o olhar sério da costureira, resolveu nada dizer. Mas não se sentiu inibida ao perceber que ficaram se olhando por algum tempo. Só bem depois, ainda as duas entreolhando-se, Eulália comentou:
- Foi só pra ver se o tecido é bom mesmo. Se não amarrota.