O Lobo da Estepe Parte I - "O Santo"

Olho para cima e vejo a posição do sol, pela minha experiência calculo que deve ser umas 2 da tarde. Esse calor insuportável do deserto deixaria qualquer um louco em pouco tempo, mas o conceito de sanidade não se aplica mais a mim, depois de tudo que passei, descobri que loucura é apenas uma válvula de escape dos que não são fortes o suficiente para encarar o lixo que é a vida humana. Eu sou apenas mais um fora-da-lei procurado em alguns lugares, a vingança se tornou minha válvula de escape, mas, por outro lado, sou considerado louco por muita gente, pobres idiotas! Estão tão afogados em suas ambições de riqueza que nem são capazes de ver o que se passa ao seu redor, este deserto é um exemplo disso, território de Nevada, já foi território espanhol, depois mexicano e agora meu país tomou a força, dizem que é o “berço da prata”, bobagem! Pra mim é só mais um lugar que abriga outro porco que vai morrer, outra vitima da minha jornada!

Estou com sede, mas tenho que fazer racionamento de água, o cantil já está quase vazio... É por isso que deixei Molligan em Virginia City, ela sabe se virar e é uma excelente atiradora, e por mais que seja só uma criança, é uma ladra excepcional, sempre consegue grana pra continuarmos adiante, ela não aguentaria a viagem pelo deserto e eu também prefiro não envolvê-la em meus “negócios particulares”.

Olho para trás e vejo Justine, ah sim, Justine! Esta está sempre comigo, parada, fria, sem piedade, está sempre calada, pois quando diz alguma coisa alguém morre! Traz com sigo os nomes dos que morreram e dos que morrerão. O que seria de minha jornada sem Justine? A principio achei irrelevante sua presença, mas se tornou essencial por sua agilidade e maestria! Agora somos inseparáveis! À frente vejo, ao longe, meu objetivo, Rising Sun City deve estar à uma hora.

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Chego à cidade e o que vejo é diferente do que ouvi falar, vejo uma cidade com poucos habitantes, aparentemente menos habitantes do que o numero de residências. Algumas pessoas entrando em diligências e saindo da cidade. Era pra ser uma cidade movimentada e rica, já que fica perto da rota do ouro, mas ao invés disso, vejo um lugar em decadência. Entro cavalgando devagar, atento aos movimentos ao meu redor, alguns homens que estão parados em frente a ao saloon abandonado me observam, na verdade não tiram os olhos das pistolas em minha cintura, um par de Colt .45 chama a atenção nos tempos de hoje, mas por outro lado deve ser a tensão da guerra civil. Um deles toma coragem e me aborda:

- O que o traz a Rising Sun City forasteiro? – havia um sotaque hispânico em sua voz

Levanto minha cabeça e olho para ele, mostro o rosto que há por debaixo do chapéu, ele fita a cicatriz na face direita com atenção, cicatriz ganhada lutando contra o exercito do meu próprio país, paro o cavalo e respondo:

- Preciso de comida e água para mim e meu cavalo e de um lugar para descansar – levanto um pequeno pacote e continuo – tenho dinheiro para pagar!

Ele faz um sinal com a cabeça para os outros homens, eles respondem o sinal e desviam a atenção de mim, quatro homens armados, é bom eu me lembrar disso. Desço do cavalo, o homem logo vem ao meu encontro e acaricia o animal:

- É um lindo cavalo esse seu, forasteiro, mas precisa ser tratado, está judiado pelo deserto – entrego as rédeas do animal a ele – me chamo Juan Carlos, como devo chamá-lo forasteiro?

- Tenho vários nomes por onde passo amigo, mas pode me chamar de Lobo da Estepe, foi o melhor nome dado até agora. Me leve para um lugar onde eu possa comer, não pretendo ficar muito tempo por aqui.

Eu sigo o homem com minha pouca bagagem, me recuso a deixar que outra pessoa carregue meus pertences, ele olha pra Justine com uma fascinação infinita, ele nunca deve ter visto nada igual em sua vida, com certeza nunca tinha visto, mas algo me diz que esta prestes a ver do que ela é capaz.

Juan me leva para a estalagem da cidade, ao entrar pelas portas duplas vejo um bar muito bem organizado, com mesas limpas e um piano no fundo a esquerda, um lugar elegante, elegante demais para o deserto que se encontra, não é um lugar imundo como um saloon, ainda mais por que quem serve o lugar é uma mulher tão elegante quanto o estabelecimento. Percebo caixas empilhadas por todos os lados, devem estar de mudança, assim como as pessoas la fora.

- Maria! Maria! Temos um cliente! – Juan entra gritando eufórico, imagino que pelo entusiasmo, ha tempos esse lugar não tem um cliente.

A mulher solta o pano que usava para limpar o balcão e vem em minha direção, aparenta ter por volta de quarenta anos, cabelos vermelhos, muito bem vestida com um longo vestido rubro da cor dos seus cabelos.

- Me desculpe senhor – disse ela – estaremos abertos somente por hoje, logo pela manhã chegará a ultima diligência e partiremos, se quiser, pode passar a noite aqui, mas terá que sair antes de partirmos!

- Não se preocupe senhora, só quero um lugar para descansar, já estou de partida!

- Oh, sim! – ela sorriu, desviou o olhar para Juan – Leve-o para o nosso melhor quarto, eu prepararei algo para ele comer!

Acompanhei Juan pelas escadas acima, ele não para de falar, me explica algumas coisas sobre a cidade.

- Esse lugar já foi muito movimentado, senhor, tínhamos muita gente de fora vindo e nosso comercio era próspero, a rota do ouro fica a poucos quilômetros daqui, mas ha alguns anos atrás o movimento começou a diminuir, cada vez menos pessoas vinham para Rising Sun, os comércios começaram a fechar aos poucos até que a cidade foi esquecida de vez, agora estamos todos indo embora a procura de vida próspera em outros lugares, amanhã pela manhã partirá a diligência levando os últimos moradores, exceto o padre.

Chegamos ao quarto, Juan se despede e sai, fala demais! Solto a bagagem e relaxo. Retiro o lenço do pescoço, lenço que me ajudou a respirar ar ao invés de poeira no deserto, olho no espelho e vejo a cicatriz na garganta, é a marca que não me deixa esquecer da vingança, não me deixa esquecer daquela tarde no Texas, onde minha mulher e minha criança, ainda não nascida, sofreram nas mãos de um porco sádico! Olho pela janela, o quarto me da uma boa visão da principal via da pequena cidade, a estalagem fica bem no meio, cercada por inúmeros estabelecimentos fechados, um estábulo e no fim, uma pequena igreja, pelo jeito somente o padre conserva sua fé na cidade... Não faz diferença pra mim! Vou descansar. Me deito ao lado de Justine, preciso dormir um pouco.

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Estou sendo arrastado para fora de minha casa, Roy Smith me puxa por uma corda em volta do meu pescoço, estou fraco, fui espancado, esfaqueado e baleado, não tenho mais forças para reagir. Randall Smith está la fora esperando seu irmão-capanga me arrastar até lá, o terceiro ficou la dentro para acender o fogo, eles o chamam de “Stove”. Sou arrastado até próximo ao estábulo, o desgraçado atirou em meus cavalos, Randall olha pro irmão e o manda me colocar de joelhos de frente para casa, e grita para o terceiro:

- Stove, seu filho de uma cadela sarnenta, ande rápido com isso, quero que ele veja o fogo antes de morrer!

Nesse instante, Stove sai correndo de dentro da casa, um segundo depois vem a explosão. Oh não! Pequena Raposa ainda está la dentro e eu não consigo fazer nada. Não tenho mais força nem pra continuar com a cabeça erguida. Randall puxa meu cabelo para erguer minha cabeça, se aproxima do meu rosto e diz:

- Willie Apache! O tão famoso, Willie Apache! Isso é o que acontece com quem se mistura com selvagens, acabam tendo o mesmo destino. Eles estão ocupando espaço de pessoas civilizadas, e nós vamos exterminá-los, um por um, e você... Você desistiu de seus direitos de viver quando se juntou a esses bastardos!

Ao terminar seu discurso ele cospe em mim, saca sua arma e dispara contra meu peito, o impacto da bala abra mais um buraco, já não dói mais, mas me recuso a morrer, meu espírito quer vingança e meu corpo entende, Randall saca sua faca e a encosta em meu pescoço:

- Morra seu bastardo!

Acordo de súbito, foi um sonho, sim, um sonho, o mesmo sonho que me atormenta toda vez que prego o olho. Mas não foi o sonho que me fez acordar, foi meu instinto, alguém se aproxima pelo corredor do quarto. Levanto-me e espero ao lado da porta, ouço os passos se aproximando, a sombra em baixo da porta confirma. Justine está na cama. Os passos param em frente à porta, vou com as mãos nas armas na cintura, a maçaneta começa a girar, respiro fundo, a porta começa a se abrir, espero o momento certo, o homem entra...

- Santa Madre!!! - Antes mesmo que pudesse fazer qualquer movimento, haviam 2 Colt .45 em baixo do queixo de Juan. – Por Deus, não me mate!!!

Analiso a situação, ele não está armado, e não parece ter qualquer intenção de me matar. Coloco as armas nos coldres e vou em direção a minha bagagem:

- Deveria bater na porta se não quiser seus olhos no teto.

- Desculpe senhor, só vim avisar que a comida está pronta.

Jogo umas bolsas nas mãos de Juan:

- Preciso de provisões para outra viagem pelo deserto de pelo menos 3 dias e também preciso encontrar um homem, me disseram que ele estaria nessa cidade, David Carlson, você o conhece?

- O Santo! Você veio à procura do Santo?! O homem que trouxe prosperidade a Rising Sun! Você está atrás de redenção?

Santo? Não era isso que eu esperava, tinha certeza que encontraria outro tirano assassino, mas santo? Isso me intriga, mas não muda o fato de que é só mais um que vendeu a alma.

- E onde eu encontro esse “Santo”?

- Na igreja senhor, o Santo é o Padre Carlson!

Isso é mais intrigante, um padre! E que ainda é adorado por seu povo. Há! Irônico.

- E a propósito senhor – Juan continua – devido aos poucos comerciantes que ficaram na cidade, pode ser que as suas provisões só fiquem prontas no cair da noite. – em seguida sai do quarto.

Preciso acabar logo com isso, mas as provisões só ficarão prontas pela noite. Vou fazer uma visita ao “Santo” Padre Carlson, quero ter certeza que o David Carlson de Rising Sun City é o mesmo David Carlson da lista de Justine.

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A igreja não é tão grande, mas com certeza é umas das construções que ainda existem desde a fundação da cidade, um altar simples, alguns bancos, e logo a esquerda, um confessionário simples, formado basicamente de uma poltrona para o padre e um banco para o penitente, algumas pessoas aguardavam para poder falar com o “santo”, provavelmente querendo uma benção antes da partida ou se despedindo do sacerdote. Não me sinto muito bem nesse ambiente, não que eu não acredite em um deus, até acredito, mas sei que ele não da a mínima pra mim e o sentimento é recíproco. O padre olha pra mim enquanto ouve alguma confissão, me cumprimenta com um sorriso e volta a atenção para o penitente. Será esse mesmo o David Carlson da lista? Definitivamente era, Alastor não me daria uma informação falsa já que ele é o mais interessado. Decido esperar minha vez, já que as provisões vão demorar.

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Finalmente, todos vão embora, já esta escurecendo, a penúltima diligência já chegou e logo partirá com a maioria dos moradores restantes, rumo a Utah. O santo me chama com o mesmo sorriso no rosto, me levanto e vou ao seu encontro, antes mesmo que eu pudesse dizer algo, ele começa:

- Você demorou filho! Cheguei a pensar que não mandariam mais ninguém!

- Então você também já me conhece. – Digo ao santo

- Ah sim, filho! Esse olhar! Sua reputação o precede! – o que ele diz é verdade – Aquele que voltou dos mortos, pra viver outra vez, ou morrer outra vez! Conhecido entre militares como “Willie Apache”, entre os apaches como “Lobo da Estepe” e entre nós como “Caçador do Diabo!”. Mas não passa de mais um cão do inferno!

- Se já me conhece, sabe o que vim fazer aqui, isso já me poupa um bom tempo padre, mas tenho que trazer Justine para fazer, e para isso, é melhor que a cidade esteja vazia, você deve saber, ela chama atenção. Por enquanto só quero me assegurar que você não vá fugir na próxima diligência!

- Fique tranqüilo filho. Já fugi das mãos do diabo uma vez e desde então só fui atormentado, não pretendo tentar fugir uma segunda. Você disse que está com Justine? – se ele sabe tanto sobre mim, deve conhecer Justine também, mas todos que a viram, já morreram.

- Você já a viu? – pergunto

- A não, pessoalmente não, mas conheci o homem que a desenhou, sim, Samuel, um grande homem que deixou seu legado para família. – ele reflete – Justine pode ferir qualquer coisa você sabia, filho? Até mesmo um demônio! – ele fez uma pausa – Filho, quero te pedir uma coisa.

Fiz um sinal para ele continuar.

- A maioria das pessoas está indo embora agora, vão ficar apenas alguns para amanhã, queria te pedir para terminar por aqui na alta madrugada, não queria que muito sangue inocente fosse derramado por minha culpa, por mais que isso não vá fazer diferença aonde vou.

Faço um sinal positivo com a cabeça e me levanto, ele parece dizer a verdade, assim como os outros ele tem coragem, vou deixá-lo, preciso comer alguma coisa, a noite hoje pode ser longa.

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A cidade está deserta, já perdeu toda sua vida, em breve será totalmente esquecida. Os homens que vi mais sedo estão bebendo no mesmo lugar, em breve estarão tão bêbados que não conseguirão nem se levantar. Volto a estalagem, Maria me diz que a comida já está fria... Não tem problema, não tenho caprichos, Juan também está lá e me diz que as provisões estão prontas, peço para ele deixá-las próximas ao cavalo no estábulo, pretendo sair cedo. Acerto as contas com a bela Maria, subo para o quarto e observo Justine, em breve ela cantará sua canção.

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A noite caiu, já é madrugada, olho pela janela, os homens estão dormindo la mesmo, onde ficaram o dia todo, a estalagem está silenciosa, Maria já deve estar dormindo também, é hora de agir, ajeito as Colt .45 na cintura, e observo as linhas perfeitas de Justine. Desço devagar pelas escadas e saio pelas portas duplas, vou até o estábulo, meu cavalo está lá, já descansado da viagem anterior, as provisões estão ao seu lado como pedi a Juan. Levo o cavalo já com as provisões para frente da igreja, me aproximo da porta, ela está entreaberta, aguço meus sentidos e entro, vejo uma silhueta de frente para o altar. É o Santo! Me aproximo e levanto Justine, leve para seu poder, ela reflete a luz das velas. David olha fascinado para as formas ondulantes no reflexo do metal.

- Justine! O rifle perfeito! Desenhada por um homem e feita no inferno. – ele realmente sabe muito – Foi desenhada a décadas, mas trás o avanço das armas mais atuais. Sabe filho, estão usando rifles parecidos na guerra civil, é claro, não chegam nem perto de Justine, mas isso mostra que o legado deixado por Samuel Winchester ao seu filho rendeu um bom resultado. Posso ver os entalhes?

Justine é um rifle de repetição com sistema de alavanca de seis tiros, diz a lenda, que com ela é possível ferir qualquer coisa, é única, traz entalhes no seu cabo, entalhes dos nomes dos que devem morrer. Viro Justine e mostro os entalhes a ele.

- Então eu sou o terceiro... Eu sei que não te importa saber por quanto eu vendi minha alma, mas eu prefiro te falar, não por esperança de redenção, mas pode ser que te ajude! Não vendi por riqueza para mim ou algo do tipo. Eu cheguei nesta cidade a muitas décadas, ferido, quase morto, era um fora-da-lei como você, a cidade era um lixo, mas os poucos humildes me acolheram e cuidaram de mim, tentei ajudar como podia, mas sozinho não consegui, então decidi pedir para o diabo, pedi que me desse tempo de vida e poder para levantar a cidade, pelo tempo de vida ele pediu minha alma, pelo poder, me pediu que encontrasse alguém capaz de desenhar uma arma única! E foi o que eu fiz.

- Padre, eu não tenho muito tempo, vamos acabar logo com isso – engatilhei Justine

- Espere, tenho que te dar uma coisa.

Carlson pega um embrulho ao seu lado, abre e me entrega. É uma faca! Sua lâmina reflete a luz das velas com a mesma vida de Justine, seu cabo, branco como marfim, tem um único nome: David Carlson.

- Essa é “Presa de Prata”, era a arma utilizada pelo caçador que veio atrás de mim há 5 anos, eu o matei! O diabo não pode vir atrás de nós pessoalmente, filho, mas pode influenciar as coisas ao nosso redor, desde então The Rising Sun City só decaiu. Assim como Justine, essa faca pode ferir qualquer coisa!

Guardo a faca, ela pode me ser útil. Encosto Justine no peito do Padre David, ele levanta a cabeça e diz as ultimas palavras:

- Filho, você também está condenado ao inferno, mas pode enganar o diabo se você tentar, porém, existe uma coisa da qual você não pode fugir. As mãos do tempo! Ele encontrará um jeito de te destruir cedo ou tarde...

Justine fala! Calando assim o “Santo”.

A força do disparo é tão grande que as costas do Padre se estraçalham juntamente com o encosto do banco, o projétil perfura o chão de madeira e se perde na terra, o barulho é ensurdecedor, mas eu já estou acostumado, acostumado o suficiente para perceber um outro barulho, alguém mais na igreja sai correndo para fora, corro atrás até la fora, o homem cai no chão em seu desespero, se vira e tenta sacar sua arma, antes mesmo de sua mão chegar ao coldre, Juan já estava com metade do crânio espalhado no chão por uma das minhas Colt, o idiota deve ter me seguido. Olho para frente, os homens que dormiam acordaram com o barulho e estão desesperados se espalhando pelos estabelecimentos abandonados.

Preciso atravessar a via principal da cidade para poder sair, mas há quatro homens armados no caminho, espalhados dos dois lados, a madrugada é fria, o vento seco do deserto sopra tufos de feno pela terra árida. Subo no cavalo, em breve começará a chuva de balas, ponho as rédeas na boca, empunho uma Colt com a mão esquerda, com a direita giro Justine no ar num movimento circular perfeito para acionar sua alavanca e preparar outra bala, ela reflete a luz da lua e marca o circulo feito no ar. Meu cavalo começa a correr e os tiros começam, avanço rápido esperando o momento certo para atirar, as balas zunem aos meus ouvidos e levantam poeira quando atingem o chão, o mais próximo é o primeiro, um segundo a mais sem se proteger já é o suficiente para o tiro lhe abrir o peito e o jogar pra traz, giro Justine mais uma vez enquanto acerto a perna de outro com a Colt, ele cai no momento que Justine termina o giro e sua cabeça vira uma massa disforme com a força do disparo, giro Justine mais uma vez, duas balas na Colt e três em Justine, cruzo os braços enquanto o cavalo acelera, um tiro atinge minha perna esquerda, abro a barriga do desgraçado com Justine, ele cai no chão agonizando em meio as suas vísceras, agora está facil, só falta um, ele se mostra para atirar, não houve tempo, dois tiros com a Colt e ele tem mais dois buracos na cara. Paro o cavalo, acabou! Solto as rédeas da boca, quando vem o disparo! Atinge meu braço e me derruba do cavalo fazendo com que as duas armas caiam longe, me arrasto para trás de uma carroça de feno, olho o braço, a bala atravessou o músculo, aparentemente não quebrou nenhum osso.

- Hijo de puta madre! – conheço a voz, Maria! Tinha me esquecido desse detalhe. – Você matou todos! Por que?

Olho pelas frestas da carroça, ela não abaixa a arma, terei que fazer do modo mais difícil. Saco a outra Colt, levando o braço ferido.

- Eu não tive escolha, Maria! Era eles ou eu! – não houve resposta, vou me levantar devagar, ela continua apontando a arma, mas está chorando.

- Mas por que? Diga seu demônio! – ela vacilou, e vacilou só uma vez. Ao menor movimento de Maria, eu disparei.

O vermelho de seus cabelos se fundiram ao vermelho do buraco em sua testa, logo o belo rosto de Maria estava banhado em sangue num corpo caído, seus lindos olhos verdes perdem a vida.

Vou de encontro as armas no chão, apanho Justine e a observo por um minuto. Cantou sua canção hoje! Ouço alguém bater palmas e se aproximar pelas costas, rapidamente a giro no ar mais uma vez e a aponto para o alvo.

- Hey, hey Willie Boy! Vai com calma! Me entregue isso, vai.

Alastor! Conheceria essa voz de serpente até nos confins mais distantes do inferno! Ele me “contratou” pro serviço e vem conferir toda vez que termino. Como sempre, com sua longa capa preta, se veste com um cowboy do inferno. Entrego Justine, ele a olha bem e entalha com a unha, um risco sobre o nome de David Carlson na madeira firme de seu cabo e me devolve.

- Mais um derramamento de sangue Willie! Adoro seus métodos! – disse com sua voz rouca

- Não derramo por que gosto ou por que você quer e sim por que é preciso, eles tentaram me impedir de seguir adiante e eu fiz o que tinha quer ser feito.

- Uuhh! Isso sim é um pistoleiro! Não poderia ter arranjado um melhor! Fez mais uma cidade fantasma! – ele passa sua língua no sorriso demoníaco – Seu próximo alvo está na Califórnia, Willie Boy – ele olha pra minha perna – Você está sangrando denovo.

Me viro para ajeitar as coisas no cavalo, ele está assustado com o tiroteio. Alastor anda em direção a sombra e termina:

- Dentro de alguns dias eu te dou a localização exata. A propósito, fiquei sabendo que o grupo de Randall Smith está em Virginia City, não foi lá que você deixou sua “criança”? – ele some nas sombras

Sim, preciso voltar a Virginia City, Molligan sabe se virar, mas eu estou ferido e não posso continuar nesse lugar, em breve vai amanhecer, subo no cavalo, está na hora de partir.

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Olho para trás na estrada, o sol já está nascendo, surgindo de trás da cidade, bem onde fica a igreja, a ultima diligência deve estar chegando para pegar os que seriam os últimos moradores. Esse foi o ultimo nascer do sol de Sun Rising City. E mais um passo pra minha vingança.

Continua…