AMOR BANDIDO.

AMOR BANDIDO.

Jonas era um rapaz, de caráter e atitudes comuns aos seus 26 anos, apesar de casado e estar separado de sua mulher, voltando a morar com sua mãe e irmãos.

Alguns dias atrás, Isaura, mãe de Jonas, deu por falta da quantia de vinte cruzeiros, que separara para as compras na feira e deixara em cima da mesinha de cabeceira de seu quarto, perguntando à Silvia, uma outra filha, se ela teria visto aquele valor em dinheiro, que estava guardando para as compras, sendo respondido pela filha que não havia visto o dinheiro.

Conversando, mâe e filha, chegaram à conclusão que teria sido Jonas quem pegara o dinheiro, pois no dia anterior, êle havia chegado tarde em casa, com hálito etílico, mesmo não sendo próximo ao pagamento que receberia em seu trabalho. Portanto, elas concluiram que êle havia furtado o valor e logo após, saiu, bebeu e chegou tarde em casa.

Alguns dias após, Jonas ainda estava dormindo e foi acordado, bruscamente por sua mãe, que logo foi perguntando pela quantia que sumira de seu quarto.

Sem saber o motivo daquela desconfiança, negou qualquer acusação da mãe. Foi aí que Isaura, diante da negativa de Jonas lhe disse:

- Você ultimamente está muito estranho, tenho certeza que foi você quem pegou o dinheiro, pois tenho até a confirmação de que este valor foi depositado em sua conta bancária e ainda mais, sei que você está levando uma vida boêmia, seu dinheiro não está dando para bancar suas orgias; depois de sua separação, resolveu até fazer sacanagens com mulheres. E num gesto rápido, mostrou uma calça branca de Jonas cheia de batom vermelho, como se fossem beijos recebidos em intimidade.

Diante daquelas acusações, Jonas levantou-se e após negar tudo, prometeu à genitora, provar que nada daquilo tinha acontecido.

Sim, estava separado de Claudia, mas ainda a amava, sua separação aconteceu por incompatibilidades, às quais, não retiraram o amor que sentia pela esposa. Não seria capaz de furtar valor algum de casa e não estava se encontrando com mulheres na rua.

Intimamente sentiu que alguém o queria prejudicar, para que se desestabilizasse emocionalmente e por outros motivos que ainda não encontrara a resposta.

Ao sair de casa, sem tomar o café da manhã, Jonas percebeu que sua vizinha, Ilda, vinte anos mais velha que êle, lhe olhara de forma diferente, com um sorriso mais aberto e com boa desenvoltura no modo de falar, lhe disse: - Como vai Jonas, estás acordando cedo, te vi chegando ontem, bem tarde.

Como se nada tivesse acontecido, Jonas disse: - Bom dia. E desceu as escadas do prédio onde morava, chegando à rua.

Meditando sobre o que sua mâe lhe falara, Jonas foi juntando todos os pedaços do quebra-cabeças e, como num passe de mágica, retornou á sua casa, pegou o extrato bancário e a calça com batom, saiu novamente de casa e bateu na porta de sua vizinha.

- Dona Ilda, o que a senhora tem para me explicar sobre isto, disse Jonas, após a mulher abrir a porta.

- Isto o que? Perguntou Ilda, olhando firmemente para a calça com batom e o papel de extrato bancário.

- Como pode a senhora fazer uma maldade desta? Sujar de batom minha calça branca que foi trazida por minha mãe para ser lavada.

A vizinha, por ser pobre e solteirona, lavava roupas e recebia alguns trocados pelo trabalho.

- Eu..., não fiz isto não. Entreguei todas as roupas que sua mãe me deu para lavar, limpas e perfumadas, disse Ilda, com ar de desdém.

- E este extrato bancário que joguei fora, no lixo, após a consulta? Continuou Jonas o interrogatório.

Ilda disse: - Não sei do que você está falando.

Sabe sim, a senhora me olha pelas fretas da janela, quando saio e quando chego em casa; um dia, quando saí, não havia nada do lado de fora de minha porta, segundos depois, voltei porque tinha esquecido algo e me deparei com uma vela acesa, bem próxima à minha porta; perguntei à minha mãe se ela tinha acendido àquela vela e ela disse que não; deve ter sido a senhora.

Neste momento, Ilda se modificou, seu rosto tornou-se como de um velho, seus braços e mãos se viraram para traz, ajoelhou-se e soltou grunhidos, a seguir levantou-se e entrou em sua casa, convidando Jonas a entrar. Estava ela, manifestada, com um "Santo" que se disse "Caboclo".

Devido ao barulho que foi feito durante esta acirrada conversa entre os dois, Isaura e Silvia abriram a porta e se depararam com Ilda "recebendo santo".

Ao vê-las, Ilda deu um salto ainda mais para dentro de casa, apoderando-se de uma tesoura, iniciando o corte de seus próprios cabelos dizendo: - Todos vão me pagar, "meu cavalo" não tem culpa de nada.

Acontece que os cabelos de Ilda cortados eram de uma peruca loira, que ela usava desde que foi morar naquele apartamento. Na verdade seus cabelos eram negros e esvoaçados.

Quando Ilda terminou de cortar os cabelos da peruca loira, apareceram os seus próprios, despenteados e esvoaçados,

trazendo, na lembrança de Jonas, o dia em que a viu com aqueles cabelos e êle menino ainda era. Veio toda aquela cena em que um menino apenas de short feito pela mãe, sem camisa, juntamente com outro coleguinha com as mesmas vestimentas, recebia balas daquela estranha moça com os cabelos despenteados.

Talvez tenha sido este momento o início de tudo. Ilda se apaixonara pelo menino naquela época e conservou aquele amor até estes dias, mas, como Jonas jamais lhe dera qualquer esperança de bom relacionamento, o amor se transformou em ódio.

Desejara prejudicar sua vida, até para tentar fazer com que êle viesse a se interessar por ela.

Ao sair da casa de Ilda, sem ter conseguido provar nada, deixando sua mãe e irmã cuidando do caso, Jonas desceu as escadas do prédio, encontrando-se com Julia, vizinha de baixo, que lhe disse:

- Deixe comigo, escutei tudo que aconteceu aí em cima e vou resolver o problema.

Julia entrou em sua casa, pegou uma vela, um charuto, uma caixa de fósforos e ao chegar junto a Jonas, convidou-o a subir até a casa de Ilda. Lá chegando, ainda encontraram, Isaura e Silvia que estavam limpando a escada juntamente com Ilda. Todos entraram na casa de Ilda. Julia foi logo acendendo a vela e quando ia acender o charuto, manifestou-se nela uma entidade chamada "Anjo do Bem", que imediatamente dirigindo-se à Ilda, afirmou: - Você tem algo a revelar para todos nós. Diga quem foi que sujou a calça branca de Jonas com batom e diga também quem achou o extrato bancário de Jonas na lixeira? Diga ou então vou ter que dizer. Fale.

Neste momento, Ilda caiu em prantos copiosamente e pedindo perdão à Jonas, disse: - Fui eu quem furtei os vinte cruzeiros da mesinha de cabeceira de sua mâe; alguns dias atrás, pela manhã, fui pedir à D. Isaura um copo de café pois o meu já tinha acabado. Bati à porta, ninguém atendeu e a mesma estava aberta; entrei e a casa estava sem ninguem, aí entrei no quarto, vi o dinheiro e o peguei, para comprar café, pensando em devolvê-lo; depois quando D. Isaura reclamou comigo a falta do dinheiro, lhe dei o extrato bancário que havia retirado da lixeira e também a calça com batom; desculpe-me Jonas mas sempre lhe amei.

Por: Jaymeofilho.

16/01/2010.

Jaymeofilho
Enviado por Jaymeofilho em 16/01/2010
Reeditado em 21/01/2010
Código do texto: T2033524
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