Crime bárbaro
Todos os jornais da cidade noticiavam que o caminhoneiro misterioso atacara novamente. Agora já somavam 7 vítimas. O homem agia com tanta maestria que a única coisa que sabiam sobre ele era que era caminhoneiro e que matava mulheres jovens (entre 15 e 32 anos) relativamente bonitas. Seu método ainda era um mistério, a única certeza que tinham era que ele matava e depois retirava uma parte do corpo de cada mulher. Já havia tirado cabelos, unhas, pés, dedos, nariz, pernas e agora os braços. O motivo dessa barbárie ainda era um enigma.
Eram 23 hr quando o telefone da delegacia toca. Brad, o delegado, atende. Do outro lado da linha uma voz trêmula:
- Alô, é da delegacia?
- É sim senhora.
- Eu queria fazer uma denúncia urgente!
- Pois não.
- Tem uma mulher morta aqui! Na porta da minha casa!
Brad da um longo suspiro e pensa consigo mesmo: “a noite vai ser longa”.
Chegando no local indicado ele se depara com uma linda jovem que ele imaginou Ter por volta dos seus 20 anos. Tinha sido estrangulada. Pôde perceber, mesmo de longe, que lhe faltava um dos seios. Em seguida os legistas chegaram e recolheram o corpo. Dentro de algumas horas teriam o resultado da autopsia.
Brad e os outros policiais revistaram o local durante horas e não encontraram nem uma prova sequer. Estavam lidando com um mestre na arte de matar e mutilar.
Quinze dias depois uma moça chega na delegacia chorando pedindo que socorressem sua amiga. Brad a acalmou e pediu que explicasse o que estava acontecendo. A moça então relatou:
- Eu e minha amiga Lauren estávamos no nosso ‘ponto’ de trabalho. Bom, seu delegado, a gente faz programa sabe...
- Sim, continue por favor dona...?
- Melissa.
- Ok, Melissa, continue.
- Então, estávamos lá esperando clientes quando chega um caminhão desses bem grandes. O homem desceu e fez as perguntas de praxe, o senhor sabe né?
- Prossiga por favor.
- Aí ele decidiu levar nós duas. Nós subimos e ele seguiu por um caminho muito estranho, não é desses lugares onde os homens costumam nos levar. Depois de andar uns 10 minutos ele parou no meio do mato e nos mandou descer. – Melissa fez uma pausa.
- Continue.
- Nós descemos e ficamos as duas nuas, a mando dele. Depois ele veio perto com uma corda na mão, mandou que ficássemos de frente uma pra outra e nos amarrou juntas. Pedimos pra soltar pois estava machucando.
- E o indivíduo soltou?
- Não, ele mandou que nos calássemos pois já estava cheio de choro de vagabunda. Foi isso que ele falou, seu delegado... com o perdão da palavra.
- Sem problemas. Prossiga por favor.
- Ele nos levou no colo pra dentro do caminhão e então... bom, então... ah o senhor sabe.
- Não, eu não sei, quer me explicar por gentileza?
- Sim, doutor. Ele transou com nós duas, amarradas como estávamos. Foi por trás, se é que o senhor me entende.
- Continue.
- Depois nos amarrou separadamente, e disse que a Lauren tinha os mesmos olhos dela.
- Dela quem?
- Eu não sei doutor, foi isso que ele disse.
- Que cor eram os olhos dela? – indagou Brad.
- Azuis.
- Ok. – disse Brad tomando nota em sua caderneta – Pode continuar.
- Daí ele ficou meio vidrado na Lauren, parece que ate esqueceu que eu estava ali também. Começou a chamar ela de Katrina...
- Katrina?
- Isso mesmo, Katrina. Eu lembro bem porque é um nome não muito comum.
Brad não pode esconder seu espanto. Katrina é o nome de sua esposa, e realmente esse não é um nome comum. E, seja coincidência ou não, ela também tem olhos azuis.
- Bom, er... continue senhorita Melissa. O que mais ele disse?
- Ah ele começou a chorar e disse que Katrina acabou com a vida dele, que não quis largar sua família infeliz para ficar com ele. Falou também que a procura em todas as mulheres, e que nunca a encontra.
- Ele falou mais alguma coisa?
- Ah doutor delegado, ele falou muita coisa. Falava olhando fixamente nos olhos da Lauren.
- Me conte tudo que pôde ouvir.
- Falou que não podia matar a Lauren pois parecia muito com Katrina. Seus olhos, seu corpo, seu cheiro.
- Pode me descrever Lauren fisicamente? - perguntou Brad, um pouco ansioso.
- Claro. Lauren tem um corpo escultural, é nova no ramo, começou não faz nem três meses. Tem cabelos louros cacheados... como o caminhoneiro inclusive. Só que os dela são bem compridos e os dele não. Tem olhos azuis, como lhe falei antes. Sei também que é moça de família e que faz isso escondido dos pais. E faz por que gosta, e não por necessidade como eu. Ah e seu nome verdadeiro não é Lauren.
Brad não conseguia parar de pensar em sua filha. As características eram muito parecidas!
- E qual é seu verdadeiro nome? Você sabe?
- Sei sim senhor.
- Então me diga logo! – ele estava a ponto de explodir.
- Calma seu delegado! Eu falo... O nome dela é Brenda.
- Brenda?!?!
Brenda é o nome da filha de Brad. E baseando-se no relato de Melissa era sua filha que estava com o caminhoneiro. E ainda por cima se prostituía? Ele não podia acreditar. Respirou fundo e continuou a tomar o depoimento de Melissa, afinal de contas agora ele precisava, mais do que nunca, encontrar o assassino antes que fosse tarde.
- Bom, Melissa, vamos continuar seu depoimento. – disse Brad
- Pois não.
- Sabe me descrever o homem fisicamente?
- Oh sim, sei sim. Deve ter seus 1,90 m de altura, tem cabelos loiros encaracolados e barba comprida. Os olhos são claros, pelo que eu vi são verdes.
- Só mais uma pergunta Senhorita Melissa...
- Pois não doutor.
- Como saiu de perto dele?
- Enquanto ele chorava abraçado na Lauren, digo, Brenda, eu sai e ele nem me viu.
- Pode nos levar até lá? – perguntou Brad já se pondo de pé.
- Posso sim.
Em menos de dez minutos já estavam no local indicado por Melissa. De longe avistaram o grande caminhão negro
- É o caminhão dele! – gritou Melissa.
Ao se aproximarem encontraram o caminhão vazio e um envelope sobre o banco. Brad rapidamente recolheu e pôs-se a ler enquanto seus colegas se embrenhavam na mata. Dizia a carta:
“Meu nome é Rodolfo. Estou escrevendo essa carta a pedido de minha doce e amada Lauren.
Por meses tenho tentado encontrar Katrina no rosto e corpo de outras mulheres. Por isso guardo lembrança de cada uma delas. São todas parte de minha tão amada Katrina.
Conheci Katrina no verão de 1979, aqui mesmo nessa cidade. Ela era noiva, e mesmo assim tivemos um tórrido romance. Ela se casou quando engravidou. O filho é meu, mas o noivo não sabia, apenas eu e ela tínhamos essa certeza. Pelo que sei nasceu uma menina, muito parecida comigo, mas nunca cheguei a vê-la pois Katrina não permitia. Cinco anos, três meses e vinte e cinco dias depois do nascimento de nossa filha ela rompeu comigo, me deixando sem rumo e sem chão. Não queria largar o marido pela situação financeira que tinham e pelo conforto que o homem oferecia a nossa filha. Desde esse dia não tenho mais paz, quero conhecer minha filha e voltar a ter Katrina em meus braços.
Encontrei hoje Lauren, que na verdade se chama Brenda e que é minha filha com Katrina. Depois do que fiz com ela não me acho digno de viver, nem muito menos de existir em sua memória. Por isso acabo com minha vida aqui, mas antes levo Brenda comigo para me redimir do mal que lhe fiz hoje.
Rodolfo B.”
Ao terminar de ler Brad sentiu que as pernas tremiam. Brenda não era sua filha! Se sentia enganado e humilhado.
Entrou no caminhão e não acredita no que vê. Sua cabeça roda, e não contém as náuseas.
Ali, diante seus olhos está o corpo de Brenda, já sem vida, com um tiro na nuca. E a seu lado está Rodolfo, se verdadeiro pai que transou com ela minutos antes de saber a verdade, e com um tiro na cabeça. Brad não sabia o que pensar, sabia apenas que odiava Katrina por Ter deixado tudo isso acontecer. Ao lado do cadáver daquela que fora como sua filha durante 20 anos Brad jurou que se vingaria, não só por ele, mas também por Brenda.
Dias depois do funeral de Brenda, Brad matou Katrina com 7 facadas e fugiu pelo mundo, deixando apenas um bilhete dizendo que era livre e tinha vingado a alma da doce Brenda, e do infeliz Rodolfo.
Algumas pessoas dizem que Brad passou a vagar pelo mundo, sem rumo. Dizem tambem que tenta tirar prostitutas da rua para não acontecer o mesmo que com Brenda, que cometeu incesto com o próprio pai sem saber.